terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Contraponto 13.161 - "DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO"

.
21/01/2014

 

DOIS BRASIS, UM ROLEZINHO

 

 Da IstoÉIndependente - 21/01/2014

 

Preconceito contra jovens da periferia e uma visão distorcida do país são uma coisa só


 
 
O Brasil está sempre discutindo o rolezinho -- mesmo quando não percebe. 
 
Temos o rolezinho conjuntural, dos garotos e garotas da periferia que decidiram fazer concentrações
em shopping centers. Quem nunca experimentou a condição de oprimido poderia fazer um exercício de empatia
social para imaginar como é entrar num ambiente estranho, ser olhado como estranho, ouvir palavras estranhas.
 
Claro que se você puder levar 20, 50, 500, e até 1000 pessoas a seu lado, irá sentir-se melhor. Menos ameaçado,
pelo menos.
Uma coisa é ser humilhado sòzinho por policiais que identificam o perigo pela cor da pele e pela grife do tênis. Outra é rir e
vaiar atos desse tipo. 
 
Mas temos o rolezinho estrutural. É um pensamento organizado, partilhado por aquele da turma que ainda não acordou para as mudanças do Brasil recente.
Duvida que temos um desemprego baixo. Torce para que a inflação seja mais alta do que é. Diz que o colapso
econômico está na próxima curva. Afirma que em breve o Brasil está virando uma Argentina.  
Não sabe como é viver num país que constrói um mercado de massa -- porque detesta gente. 
 
Estamos falando do preconceito transformado em projeto de país. 
Nosso país tem um limite de crescimento, dizem. Tem vocação agricola, garantem. Não tem maturidade para a 
democracia, murmuram. Não pode seguir distribuindo renda. 
 
 
O preconceito contra os meninos pobres e contra o país em que nascemos, vivemos e criamos nossos filhos é uma coisa só.
Um encarna o outro, expressa o outro. 
   
Como nação e como indivíduos, querem nos excluir do progresso e da civilização.
Mesmo nossos shopping centers - que uma perversidade consumista apresenta como ápice do convivio
social e da cultura -- devem continuar para poucos.
 
Mas as vitrines são vitrines, ensinava Gilberto Gil. 
 
 
Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".  
.
.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista