terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Contraponto 15.704 - "Dilma: o regime de partilha do pré-sal vai continuar"

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23/12/2014 

 

Dilma: o regime de partilha do pré-sal vai continuar



Diante dos problemas que afetam a Petrobras e das sugestões da midiáticas de se destituir Foster, 'não sejamos ingênuos': há muitos interesses ocultos.



Carta Maior - 23/12/2014 


Roberto Stuckert Filho / PR
Roberto Stuckert Filho / PR

 Darío Pignotti - Pagina 12

Brasília - “Acredito que o bloqueio a Cuba precisa acabar, e minha opinião é a mesma de muitos presidentes da América Latina”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff em resposta a uma pergunta do Página 12 após um café da manhã com jornalistas brasileiros e correspondentes no Palácio do Planalto.

“Inclusive acredito que o presidente Obama também queria acabar com o bloqueio, não sei quando vai terminar o bloqueio... mas este acordo entre Cuba e EUA é um avanço. E quero dizer que meu governo está de acordo com o que fizemos em Mariel  (financiamento de quase 900 milhões de dólares), uma obra estratégica tão criticada pela oposição, foi ridículo o que se disse sobre Mariel”, acrescentou.

O comentário sobre Cuba ficou perdido em meio ao pelotão de repórteres com seus questionamentos sobre o escândalo da Petrobras, seguindo os passos da presidenta enquanto ela deixava o Salão Leste do Planalto, após 82 minutos de café da manhã em que reconheceu problemas na petroleira estatal, ratificou no cargo a presidenta Maria das Graças Foster, disse que há “interesses” por trás da crise e assegurou que manterá de pé o regime de exploração de partilha.

“Ela (Graças Foster) é uma pessoa ética, me disse que se esta situação na Petrobras prejudicar o governo ou a Petrobras, ela colocaria seu cargo à disposição, e eu lhe disse que não seria necessário... eu quero a Graça como presidenta”, declarou Rousseff.

Com esse respaldo, tentou dissipar as especulações sobre a destituição da titular da maior companhia brasileira, devido às operações dolosas de dezenas de milhões de dólares em que participaram executivos da estatal, construtoras e políticos, de acordo com o que revelou a investigação judicial em curso. “Eu digo aos jornalistas que é preciso evitar avaliações ideológicas: a corrupção não é algo exclusivo de empresas públicas... também há nas empresas privadas, como na empresa Enron”.

“Nos Estados Unidos…(durante a crise do subprime iniciada em 2008)  foram aplicadas multas de bilhões de dólares, de 5 bilhões, de 17 bilhões” aos responsáveis e às empresas, mas isto não fez o sistema quebrar, exemplificou.

Um repórter do grupo Globo opinou que a nomeação de um executivo procedente do universo privado injetaria “credibilidade”, tese refutada por Dilma. “Mas eu não tenho nenhuma indicação de que falta credibilidade à Graça Foster para fazer isso, não tenho essa indicação. E acho estranho, porque é o seguinte: eu vi nos jornais  -  porque tem hora que eu olho nos jornais e fico meio perplexa - que eu teria de procurar um nome de mercado e botar dentro da Petrobras”.

“Não sejamos ingênuos” diante dos problemas que afetam a Petrobras, porque se trata de um assunto em que há muitos “interesses... é preciso saber o que há por trás”, comentou Rouseff com gesto insinuante.

Diante desse comentário da presidenta, um jornalista quis saber a que interesses se referia e ela respondeu “são vocês os que têm que investigar isso”, disse, sentada de frente a uma mesa bem servida de pedaços de abacaxi, morangos, manga, queijo e café.

“Não vou comer porque estou de regime... talvez eu tome uma água de coco”, comentou graciosamente Dilma, que se prepara para a cerimônia de posse de seu segundo mandato até final de 2018, o quarto consecutivo do Partido dos Trabalhadores.

E avisou que, apesar da crise, a Petrobras continuará com a exploração de reservas gigantes na área do pré-sal, cujas reservas estão a cinco mil metros de profundidade.

Entretanto, banqueiros e a imprensa recomendam a renúncia de toda a cúpula da empresa, a nomeação de um executivo procedente do setor privado ou um tecnocrata e a revisão do sistema de exploração atual, conhecido como de “participação”, pelo de “concessão”, em que as multinacionais retomariam o espaço econômico perdido com a legislação sancionada em 2010. 

“Não vai acabar o modelo de participação, não vai acabar a exigência do conteúdo nacional (nos equipamentos), não vou aceitar que se enfraqueça a Petrobras, anunciou depois de ser questionada sobre a falta de credibilidade da empresa e a desvalorização de seus papéis na Bolsa de Valores de São Paulo

“No mercado, um dia dizem que é preciso vender ações, no outro dia, dizem para não vender... eu digo que a Petrobras tem caixa suficiente (para enfrentar a adversidade) pode passar um ano sem recorrer ao financiamento privado”.

“A atividade da Petrobras vai bem, neste ano, estamos alcançando a produção de 2,1 milhões de barris por dia, é algo bastante elevado, estamos melhorando. Não acreditem que o que aconteceu com alguns na Petrobras (subornos, superfaturamento) vai prejudicar toda a Petrobras, sua situação é muito melhor do que a de outras empresas”.

Ao comentar o quadro econômico que lhe espera em seu segundo mandato, reconheceu que a “crise mundial é mais prolongada do que todos esperávamos, a recuperação se dá lentamente, inclusive nos EUA... e as economias emergentes estão com problemas pela queda das commodities que vai piorar, e isso trará conseqüências na América Latina”.

Em razão desse horizonte desalentador, continuou a chefa de Estado, é que o designado ministro da Fazenda, Joaquim Levy (um ortodoxo assumido), terá que adotar  “algumas medidas drásticas”, que podem afetar o gasto público, aumentar a arrecadação e vão supor a revisão da política de estímulos fiscais. 

“Mas isto não significa reduzir os gastos sociais”, prometeu possivelmente advertida do impacto político que isto poderia acarretar, sem esquecer que a Bolsa Família e outros programas do tipo constituem o principal fundamento do voto popular conquistado pelo PT em suas quatro vitórias desde 2002.

Por fim, Dilma falou da situação energética mundial e de seu impacto nos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

“Não acredito que a Rússia esteja à bordo de uma crise econômica, tem reservas suficientes para agüentar essa flutuação do preço do petróleo”. “Não acredito que os BRICS sofrerão grandes problemas, os problemas dos BRICS não são financeiros, nenhum país do grupo está à beira de uma catástrofe como a que houve em 1997, 1998, 1999, todos têm reservas, todos os países em situação estável... e o banco de desenvolvimento dos BRICS vai continuar e o acordo de contingência também continuará funcionando”, assinado este ano na cúpula de Fortaleza, assegurou Dilma.
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