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31/07/2015
E agora, a lista do HSBC
Edital da CartaCapital  Mino Carta
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publicado
27/07/2015 04h10
O disco do Opportunity não foi aberto. Dez anos depois, o Brasil parece 
disposto a deixar em paz os sonegadores graúdos, protagonistas em ambos 
os casos
 Delicioso editorial do Estadão de terça 21, a lembrar os melhores textos do senhor Pott, inolvidável Gazeta de Eatanswill em os Pickwick Papers de
 Dickens. Lê-se no jornalão que o ex-presidente Lula “só pensa em 2018”.
 Era do hábito do senhor Pott que a verdade factual pouco lhe 
importasse, tratava-se de alguém dotado exclusivamente de certezas. 
Parece difícil acreditar que Lula, neste exato instante, só pense em 
2018.
Delicioso editorial do Estadão de terça 21, a lembrar os melhores textos do senhor Pott, inolvidável Gazeta de Eatanswill em os Pickwick Papers de
 Dickens. Lê-se no jornalão que o ex-presidente Lula “só pensa em 2018”.
 Era do hábito do senhor Pott que a verdade factual pouco lhe 
importasse, tratava-se de alguém dotado exclusivamente de certezas. 
Parece difícil acreditar que Lula, neste exato instante, só pense em 
2018. 
Quem, pelo contrário, cultiva a obsessão aterrorizada do retorno 
do ex-metalúrgico à Presidência é, de fato, a mídia nativa.
Aos barões midiáticos desaconselho fervorosamente a leitura da coluna de Marcos Coimbra à página 43 desta edição,
 desde que se dignem a tanto. O diretor do respeitável Instituto Vox 
Populi aponta em Lula o favorito do próximo pleito presidencial, a 
despeito das turbulências atuais, com efeitos semelhantes àqueles 
precipitados pelo chamado “mensalão”. 
Só faltava esta,
 mas Coimbra é cidadão desassombrado. Há escândalos e escândalos, está 
claro, para influenciar momentos políticos variados, e não me referirei 
desta vez aos eclodidos durante o governo de Fernando Henrique, 
monumentais e mesmo assim silenciados. Estrondosamente. Mas também há 
presidentes e presidentes.
Não preciso perguntar aos meus botões por que a Operação Lava Jato
 prossegue impávida, a nos brindar com acusações a serem provadas, e até
 condenações, enquanto em torno da célebre lista dos grandes sonegadores
 brasileiros que filtrou através do sigilo do HSBC suíço fecha-se a omertà,
 como se diria na Sicília, igual ao mar sobre um barco furado. Inclusive
 por parte do jornalista nativo que milita em um Consórcio de dimensões 
globais, em poder de uma parte do elenco vip (leia a reportagem que começa na página 34).
Moita. Caluda. E 
não se trata de café-pequeno, e sim de mais de 7 bilhões de dólares 
escondidos em cofres pretensamente seguros. Me sobe à memória o episódio
 protagonizado, dez anos atrás, pelo disco rígido capturado pela 
Operação Chacal na sede do Opportunity do indestrutível, onipresente 
Daniel Dantas. Aquele mesmo que, preso anos após pela Operação 
Satiagraha, contou com o pronto socorro de Gilmar Mendes, o ministro do 
STF disposto a “chamar às falas” o então presidente Lula e provocar o 
desterro do honrado e competente delegado Paulo Lacerda.
Esquecido o disco rígido, enterrada a Satiagraha. Em 2005,
 o disco foi entregue ao STF pela PF dirigida por Lacerda, que no 
segundo mandato de Lula se transferiria para a Abin, substituído por  um
 duvidoso Luiz Fernando Corrêa. O disco acabou nas mãos da ministra 
Ellen Gracie, a qual nunca disse por que o seu conteúdo deixou de ser 
revelado. Em oportunidades diversas, duas autoridades de alto nível 
pronunciaram em benefício dos meus ouvidos, e na presença de 
testemunhas, a seguinte frase: “Se abrirem o disco, cai a República”. 
Não era conjectura. E uma das fontes admitiria que parlamentares 
exerciam pressões no sentido de jogar ao lixo o fatídico apetrecho, e 
também um ministro, o chefe da Casa Civil José Dirceu.
Nada disso me surpreendeu, a corrupção é 
doença endêmica. Hoje em dia o Partido dos Trabalhadores, que vi nascer 
esperançoso, encanta-se com um site de obscura origem, que desconfio 
abastecido por dinheiro do inesgotável Dantas, quem sabe com o 
beneplácito ou intermediação de Dirceu. Cruzam-se os caminhos da 
corrupção, a bem da confirmação de um vetusto enredo, que não exclui o 
moralismo primário dos ingênuos e dos hipócritas.
Dispensados de saída, os botões murmuram sinistramente a 
probabilidade de que os nomes ilustres elencados no disco do Opportunity
 figurem em parte, ou mesmo in totum, na lista do HSBC. Machuca, 
soletram constrangidos, que a Argentina mais uma vez mostre a qualidade 
da sua democracia na comparação com a nossa incipiente, ao investigar 
seus sonegadores, com a colaboração de Hervé Falciani, revelador do 
escândalo, entrevistado páginas adiante e pronto a colaborar também com o
 Brasil.
Pois é, a Argentina... Somos também o 
país onde os torturadores não são punidos, os ditadores tornam-se nome 
de ponte e rodovia, e uma comissão dita da verdade, com V pateticamente 
grande, cuida de preservar uma Lei da Anistia imposta pela ditadura. 
Meus botões confessam a dúvida: talvez sejamos o que merecemos.
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