24/10/2018
Época: a estratégia de Bolsonaro para criar rede de zumbis no ‘whats’
Do Tijolaço · 24/10/2018

por Fernando Brito

São apenas duas das estratégias usadas por Jair Bolsonaro para criar um exército de zumbis no Whatsapp, segundo revelam Gabriel Ferreira e João Pedro Soares na revista Época, hoje.
Eles ouviram integrantes do esquema, que era feito, inicialmente, por uma agência de publicidade e tem detalhes dignos de livros de espionagem:
Para multiplicar as células [pró-Bolsonaro] no aplicativo, eram utilizadas listas com números de celular fornecidas diretamente por funcionários do clã Bolsonaro. Diversas listas com números telefônicos foram retiradas pessoalmente de escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo — prática comum em campanhas para driblar a legislação eleitoral, que só permite o uso de base de dados dos próprios candidatos. Em seguida, por telefone, cada uma das listas era associada ao perfil de um grupo específico: jovens, mulheres, pobres, evangélicos, entre outros. Os grupos eram criados e alimentados manualmente. Um a um, centenas de contatos migravam do papel para a rede, sem a autorização prévia dos usuários.
Muitos deixavam os grupos, sempre inaugurados com uma mensagem de boas-vindas que trazia as regras de utilização. Para evitar a debandada, os disparadores enviavam mensagens privadas, com referências nominais aos proprietários dos números. “Assim, criávamos um ambiente mais família, menos artificial”, disse um dos informantes. Após o grupo atingir uma estabilização de participantes, o funcionário da agência transferia sua administração para um dos integrantes e deixava o grupo. O procedimento era feito para que não houvesse sobrecarga dos operadores, que ficariam livres para criar novos grupos e cuidar da gestão deles — um desenho semelhante às pirâmides financeiras.
A operação era cercada de sigilo, diz a revista, com a entrega chips usados provenientes dos Estados Unidos (a maioria), Portugal e Argentina.
“As agências que atendiam o clã do presidenciável recebiam os chips estrangeiros em procedimento idêntico ao das listas — pessoalmente, em encontros cercados de sigilo. A ideia era dificultar o rastreamento e bloqueio dessas linhas”.
Os memes eram produzidos em série e distribuídos a grupos não eram apenas os “inseminados” artificialmente. Segundo a reportagem, o esquema tinha três níveis.
“Primeiro, os grupos de disparo maciço em que os usuários não podem interagir entre si. Neles, só existe um administrador, que envia as peças e orienta os passivos a replicar o conteúdo em suas redes. Para esse fim, militantes usam também as linhas de transmissão, ferramenta do aplicativo para o envio múltiplo de mensagens privadas. Depois, em menor número, vêm os chamados “grupos de ataque”, em que também não há diálogo, mas o administrador publica um determinado link que deve ser atacado em massa pelos demais. Reportagens contrárias aos Bolsonaros e enquetes virtuais como as realizadas pelo Congresso Nacional são os alvos preferenciais. Esse tipo de célula reúne os militantes mais disciplinados, que recebem orientações objetivas e respostas pré-fabricadas para o conteúdo-alvo. Por último, estão os grupos públicos, de maior organicidade e com mais de um moderador, nos quais é permitido aos integrantes interagir.
Todos já viram que estamos diante de um esquema de subversão do processo de formação da opinião pública, clandestino, bem planejados e remunerados.
Todos, menos a Justiça Eleitoral.
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