sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Contraponto 3324 - "Som e fúria da velha imprensa"

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17/09/2010
Som e fúria da velha imprensa

Carta Maior
- Sexta-Feira, 17 de Setembro de 2010

O que vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? Desde a eleição de Lula a que temos assistido?

Gilson Caroni Filho*

Em uma guerra onde cada queda nas pesquisas repercute como a perda de um exército do candidato tucano, a grande imprensa brasileira tem a reação previsível. Emissoras de televisão, jornais e revistas semanais se unem em grupos, deixando a confiança em uma improvável virada de José Serra se avolumar até atingir o êxtase nos estratos sociais que lhe dão sustentação rarefeita. Tal comportamento, onde todos os meios de comunicação atuam de forma orquestrada, em fina sintonia com os comitês de campanha, traduz a relação simbiótica entre o tucanato e as famílias que controlam os mecanismos de produção e difusão informativos. No estreitamento do processo, um projeta no outro seus interesses pessoais e políticos. Serra é a mídia. A mídia é Serra.

Cria-se uma vivência de alienação, situação de risco escolhida para se experimentar um novo cenário golpista. Neste clima, são negadas as dificuldades em se resolver os problemas sociais, políticos, econômicos e ideológicos de uma candidatura fadada a um “enterro de Gioconda". É por esta anestesia da razão, alheamento da realidade, que se acentua a autoconfiança dos milicianos encastelados nas editorias de Política. Só assim acreditam que o desejo poderá ser satisfeito em um passe de mágica. Transitam pela animação da onipotência, acreditando possuir a força ilimitada dos deuses. Quando, no entanto, a história mostra o seu compasso, o efeito delirante dá lugar ao desconforto da depressão e do vazio ameaçador. Serra é a mídia. A mídia é Serra.

Não há espaço para o contraditório. Publicações que não fazem parte do pool tucano são censuradas no campo jornalístico. Escândalos são fabricados em escala crescente. Denúncias publicadas sem apuração. O contraditório inexiste. A imprensa golpista, involuntariamente, reaviva a advertência de Gramsci: enquanto o mundo velho não se finda e o novo não se afirma, a sociedade vive num estágio de morbidez latente, apta a produzir seus fenômenos mais perversos. Nesse interregno, os Mervais, Leitões, Noblats, Josias e Fernandos, entre tantos outros, fazem, ou tentam fazer, o retorno a uma formação política infantilizada, desagregada e primitiva.

Se for justa a indignação dos que militam no campo democrático, a perplexidade é imperdoável. Desculpem-me a sinceridade da pergunta, mas que tipo de comportamento vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? O padrão editorial predominante em 1954 não se repetiu dez anos depois? Desde a eleição de Lula a que temos assistido? Por que razão ficamos esperando que agora fosse diferente?

Será que é preciso lembrar que continuamos vivendo em uma sociedade determinada pelos interesses de classe? E, quando se trata do principal, não podemos esquecer que somos o outro lado, os inimigos a serem derrotados, mais ainda a Dilma e o que ela representa simbolicamente. Ficar surpresos nos remete a uma ingenuidade inadmissível.

A credibilidade no jornalismo é puro mito, pura hipocrisia, recurso de marketing usado pelas empresas. Apesar de sabermos disso, esperamos, lá no fundo das nossas almas, que seja diferente, que a prática da mídia burguesa seja semelhante ao seu discurso publicitário, mas não é e não será jamais. A única forma de travar a batalha democrática no campo informativo é criar veículos eficientes, na forma e no conteúdo, que estejam a serviço dos interesses da maioria da população. E isto não é para “fazer a cabeça" do povão, mas simplesmente articular um discurso, uma argumentação contrária à estrutura narrativa da imprensa que representa o establishment. Se falarmos em luta pela hegemonia, como ignorar questões centrais?

Queremos “absolvição" por termos desconcentrado o mercado publicitário e realizado a Confecom? Creio que não. Para continuar reerguendo o país do descalabro, da frustração e da desesperança, o que podemos esperar senão som e fúria dos aparelhos ideológicos burgueses? A ausência de poder sobre a situação fará aumentar o rugido, o desejo destrutivo de forças que subestimaram a sociedade brasileira, que a ignora solenemente.

Todos os sinais de alarme já soaram. O velho Gramsci era do ramo. Ninguém poderá dizer, desta vez, que não foi alertado a tempo.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
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2 comentários :

  1. Prezado Celvio

    Você acredita que existe mesmo direita no Brasil?

    Como disse em outro post o resto de direita que existe, é o unico partido que ainda tem alguma "credibilidade" neste País o DEM, uma direita escondida, acanhada, porque se fosse ativa o país não estaria neste caos politico e moral.

    Com certeza falar que Serra e compania é direita e não ter conhecimento de politica. Serra é tão de esquerda quanto o lula.

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  2. SALMO 27
    1 O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei?
    2 Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram.
    3 Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria.
    4 Uma coisa pedi ao SENHOR, e a buscarei: que possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR, e inquirir no seu templo.
    5 Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá; pôr-me-á sobre uma rocha.
    6 Também agora a minha cabeça será exaltada sobre os meus inimigos que estão em redor de mim; por isso oferecerei sacrifício de júbilo no seu tabernáculo; cantarei, sim, cantarei louvores ao SENHOR.
    7 Ouve, SENHOR, a minha voz quando clamo; tem também piedade de mim, e responde-me.
    8 Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coração disse a ti: O teu rosto, SENHOR, buscarei.
    9 Não escondas de mim a tua face, não rejeites ao teu servo com ira; tu foste a minha ajuda, não me deixes nem me desampares, ó Deus da minha salvação.
    10 PORQUE, QUANDO O MEU PAI E MINHA MÃE ME DESAMPARAREM, O ENHOR ME RECOLHERÁ.
    11 Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e guia-me pela vereda direita, por causa dos meus inimigos.
    12 Não me entregues à vontade dos meus adversários; pois se levantaram falsas testemunhas contra mim, e os que respiram crueldade.
    13 PERECERIA SEM DÚVIDA, SE NÃO CRESSE QUE VERIA A BONDADE DO SENHOR NA TERRA DOS VIVENTES.
    14 Espera no SENHOR, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no SENHOR.

    Ficou legal o seu blogger
    quando der visite o meu
    deixe recados
    abraços
    fica com Deus..
    Jesus te Ama!!!

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