sábado, 11 de setembro de 2010

Contraponto 3267 - "O Brasil que emergirá das urnas"

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11/09/2010
O Brasil que emergirá das urnas

Cidadania - 11/09/2010

Eduardo Guimarães

Pode ser cedo para afirmar que é imutável a opção que parece que o eleitorado brasileiro fará no próximo dia 3 de outubro, mas não é cedo para analisar o que deve ocorrer em caso de se confirmarem as previsões das pesquisas e, mais do que isso, caso se confirme a natureza do recado que a sociedade estará dando ao materializar a opção que parece mais provável que o país adotará, a despeito das concessões inevitáveis que se possa fazer ao acaso…

Urge entender a natureza do recado que o eleitorado estará dando em caso de eleger, em primeiro turno, uma candidata que sofreu acusações como as que Dilma vem sofrendo no decorrer dos últimos dois anos. Seria ocioso abordá-las individualmente, enumerando-as. Quem se informa minimamente sobre política certamente já ouviu ou leu algumas – e não terão sido poucas. Apenas porque bombardeio acusatório igual na mídia, só quem já sofreu igual, no Brasil contemporâneo, foi o padrinho político da candidata.

E levemos em conta o endosso dos ditos “formadores de opinião” da grande mídia às acusações de Serra a Dilma. Eles estão dizendo ao seu público que o tucano diz a verdade e que a adversária mente. Tenho isso gravado em vídeo depois que assisti em duas concessões públicas. Até entrei na Justiça contra o que assisti, pois achei ilegal.

Portanto, a decisão que o eleitorado tomará, se por Dilma ou por Serra, será tomada em franco desafio à informação que esses grandes grupos de mídia terão, naquele momento, difundido sem parar durante todo o período da propaganda eleitoral “gratuita” na televisão e no rádio, o que terá constituído grave infração à lei eleitoral por conta de ter dado ao lado do PSDB uma vantagem muito maior em termos de propaganda em concessões públicas.

Ocorre, porém, que, às vezes, o tempo para dizer a verdade, por menor que seja, basta, enquanto que o tempo para mentir, por maior que possa ser, jamais será suficiente.

Não me parece exagero dizer, portanto, que a vitória de Dilma em primeiro turno, em 3 de outubro vindouro, constituir-se-ia em um recado da sociedade à mídia e ao resto do grupo político que circunda Serra, na condição deste de laranja da complexa máquina conservadora e patrimonialista que tenta, a todo custo, manter o poder de influir nos rumos e em cada decisão do país.

Trata-se de uma reprovação à mídia mais clara do que ao candidato dela. Ao endossar, como endossou, as acusações de Serra a Dilma, a mídia receberá do público ao qual ela se dirigiu a resposta de que este público não acreditou no que lhe foi informado…

Não me parece pouco. Então a sociedade diz à sua imprensa que acha que ela mentiu e que acha que ela, portanto, tem algum interesse na disputa, e que, então, acha que ela é desonesta, podendo ter, até, parte em algum esquema sujo, e fica por isso mesmo?! Mas é óbvio que não. Haverá conseqüência. A perda relativa de poder da mídia de influir no processo eleitoral decisivamente diminuirá a remuneração dela porque terá diminuído a sua bancada no Congresso, também.

A força oposicionista para rechaçar leis cai de forma a se poder pensar, até, em uma entre as propostas mais necessárias para a mídia brasileira formuladas em dezembro passado em Brasília, na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, a Confecom, na qual fui delegado por São Paulo: criação do Conselho Nacional de Comunicação, que seria uma instituição reguladora da atividade midiática igualzinha às que existem em praticamente todos os países mais desenvolvidos, e que atuaria de forma a impedir abusos como o uso de concessões públicas em prol de grupos políticos como os que estamos vendo ocorrer nestas eleições.

Também haverá muita perda de dinheiro para a mídia partidarizada, pois suas bancadas de parlamentares, agora menores, constituirão barreira muito menor a iniciativas de moralização dos critérios que têm permitido o trânsito de arcas incontáveis de dinheiro público para mãos midiáticas simplesmente pelo poder que essa meia dúzia de famílias que controla a comunicação no Brasil ainda detém de criar crises pela bancada sólida que tem para aprovar ou dificultar a vida do governo no Congresso.

No vácuo de credibilidade e de legitimidade para difundir informações de forma hegemônica que havia antes e que agora terá desaparecido, surgirá espaço para uma nova imprensa formadora de opinião que consiga despertar credibilidade e demonstrar isenção de uma forma que esta mídia atual não tem mais condições de fazer. Ao menos no médio prazo.

Em minha opinião, levará anos para que os atuais meios de comunicação voltem a ser encarados sem muita desconfiança, quando o assunto for política. Para elidir a memória sobre o tanto que erraram em todos esses anos, Globo, Folha, Veja, Estadão e seus tentáculos precisarão produzir muito acerto ao longo do tempo, de forma que, lá na frente, seja inegável que o acerto existiu, pois não existirá mais o poder de fazer algo que não ocorreu se materializar como verdade antes de que se saiba, realmente, o que houve.

Há que levar em conta, finalmente, que o que essas pesquisas estão dizendo ainda não pode ser dado como certo, mas indica que o recado das urnas para os que estão submetendo o Brasil a esta campanha eleitoral deprimente, que pretende discutir a vitimização de José Serra em vez dos interesses coletivos, é o de que não acredita neles e, ao não acreditar, pode vedar o acesso deles ao poder, entregando-o aos seus adversários.

Por fim, o fato de o povo ter deixado de ser bobo interessa a todos os políticos, independentemente de serem petistas, tucanos ou coisa que o valha. O Brasil que emergirá das urnas terá adquirido critérios muito claros para o que quer e em que prazo quer – e em que medida. O brasileiro descobriu que é possível mudar de vida através da política. Essa é a grande mudança neste país e ainda não enxergamos toda a sua dimensão. Mas enxergaremos.
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