31/01/2011
O pronunciamento de Dilma na Casa Rosada
Enviado por luisnassif, seg, 31/01/2011 - 23:15
Por Joaquim Neiva
http://www.youtube.com/watch?v=RI6aebJW9rM
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Veja aqui o que o Partido da Imprensa Golpista (PIG) não mostra !
Você, estudante de jornalismo, de comunicação social, de ciências sociais, enfim, de tantas áreas afeitas ao estudo ou à prática da comunicação de massa, se estiver terminando seu curso universitário e tiver um trabalho de conclusão a apresentar, tem agora uma oportunidade imperdível de fazer o estudo mais eloqüente já feito sobre comunicação.
É tão evidentemente necessário, o estudo que irei propor, que não sei como não foi feito antes – e duvido de que tenha sido feito, ao menos da forma como será apresentado. Entretanto, se alguém tiver notícia sobre algum estudo correlato, que, por favor, informe aqui, via comentário.
No último domingo, discorri sobre os programas humorísticos da Globo e sobre o uso desses programas para atacar alguns políticos em benefício de outros, transformando uma concessão pública de televisão em arma político-partidária – o que a lei veda, mas não coíbe em razão do poder político de impérios de comunicação como uma Globo.
Logo apareceram os defensores dos pobres Barões da Imprensa para defendê-los da “sanha comunista” que pretenderia “censurá-los”, apesar de que são os únicos que já colaboraram com a censura neste país e que, aliás, praticam-na cotidianamente ao impedirem que o contraditório à sua retórica político-ideológica chegue ao seu público.
No post em questão, abordei o impressionante uso que a Globo vem fazendo de seus programas humorísticos para atacar Lula, seja no falecido Casseta & Planeta ou no humorístico da emissora que restou e que continua indo ao ar nas noites de sábado, o Zorra Total.
Não é que apareceu gente afirmando que Lula está sendo tão intensamente ridicularizado pelos programas humorísticos da Globo, entre outros, porque o “poder” é sempre alvo do humorismo?
Vejam só a que ponto chega a desfaçatez. Desde quando Lula continua no poder? Ele deixou de ser presidente no primeiro dia deste ano, ora bolas!, o que não impede que continue sendo ridicularizado, agora por estar aposentado, como se viu no post anterior.
Quando, em que época, um programa humorístico brincou com o complexo de D. Juan do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assim como tantos programas “brincaram” com o mentiroso alcoolismo de Lula?
Pelo contrário, a mídia escondeu, por dezoito anos, o produto mais famoso das famosas “escapadas” sexuais de FHC, com uma jornalista da Globo que a emissora sustentou na Espanha sem trabalhar por quase duas décadas, ao menos, e que só veio a público pela Folha de São Paulo porque esta queria acusar Lula de ser um maníaco sexual – vide o caso “Menino do MEP” – e, assim, justificou com o caso extraconjugal de FHC o ataque sórdido que lhe fez.
Alguém consegue conceber um quadro humorístico na Globo que vulgarizasse a imagem da ex-primeira-dama tucana, a falecida antropóloga Ruth Cardoso, mesmo quando estava viva? Seria impensável fazerem o que vêm fazendo com D. Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, ridicularizada reiteradamente por toda a grande mídia.
Mas isso tudo ainda não é o pior. Lula também era o alvo político preferencial da grande mídia quando estava na oposição. Quem não se lembra dos tantos quadros humorísticos que ironizavam sua falta de instrução formal, seu linguajar e, até, a sua aparência física?
O senso comum certamente mostra que o ex-presidente petista é o político mais atacado pela mídia nos últimos vinte e dois anos, ao menos. Desde 1989, nenhum outro político foi tão criticado ou ridicularizado quanto Lula, estando no poder ou fora dele. E é aí que entra a necessidade de comprovação científica dessa tese.
Apesar de nem ser necessário fazer qualquer estudo para comprovar o que todo mundo haverá de concordar, se tiver um mero resquício de honestidade intelectual, a formalidade científica certamente resultará em outro necessário trabalho acadêmico, desta vez sobre a causa de Lula ter se transformado no político mais odiado pela mídia em toda a história.
Então, jovem estudante, você tem a chance de fazer o estudo mais espantoso, em termos sociológicos e jornalísticos, que já foi feito. Comprovará que, apesar do sucesso estrondoso de Lula como político e administrador, os meios de comunicação de massa simplesmente se obcecaram por destruí-lo politicamente.
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Que se cuidem os manipuladores
Rodolpho Motta Lima*
Wikileaks revelam sabotagem contra Brasil tecnológico
Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedi dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos fo Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira. O artigo é de Beto Almeida.
Beto Almeida*
O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 - de fabricação ucraniana - no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.Tenho cantado aqui a bola da trajetória final de Serra. Aliás, desde meados de 2009 esse desenho estava claro. O último capítulo será Kassab herdando o que resta do serrismo-malufismo e a Serra restando o Twitter.
Sobrevivência política afasta Serra de Kassab - brasil - Estadao.com.br
A aliança entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o ex-governador José Serra (PSDB), forjada na eleição municipal de 2004 e repetida com sucesso na disputa de 2008, começa a dar os primeiros sinais de esgarçamento.
O movimento de Kassab acontece no momento em que Serra aumenta o tom das críticas à gestão Dilma, até como forma de se cacifar na condição de principal liderança da oposição, e tenta uma parceria estratégica com o governador tucano Geraldo Alckmin para fazer frente ao senador eleito Aécio Neves na disputa pelo controle do PSDB.
Herdeiro político de Serra ao assumir a prefeitura de São Paulo em 2006, quando o tucano renunciou ao cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Kassab articula a ida para o PMDB pelas mãos do vice-presidente da República, Michel Temer. "Ele vem com o apoio total e irrestrito do governo Dilma", afirma um peemedebista. "A única dificuldade é tocar isso com o Serra", desabafou o prefeito a um interlocutor.
Empecilho. Embora Kassab tenha se mantido até agora leal ao padrinho político, inclusive abrigando em seu secretariado serristas "expatriados" do governo paulista por Alckmin, e o mantenha informado sobre a ida para o PMDB, a fidelidade do prefeito ao projeto tucano no Estado se tornou um empecilho ao futuro político de Serra.
No PMDB, Kassab pretende disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Ocorre que Alckmin é candidato natural à reeleição e não pretende ver o afilhado de Serra disputando espaço com ele nos próximos quatro anos.
De seu lado, em busca da sobrevivência política, num momento em que os aliados de Aécio tentam isolá-lo no partido, Serra procura jogar alinhado com Alckmin. Serristas mais exaltados já falam em uma aliança Serra-Alckmin em 2014 para derrotar o grupo mineiro.
Por essa composição, qualquer um dos dois poderia encabeçar a chapa presidencial. O outro ficaria com a disputa pelo Bandeirantes. Para Kassab, alegam, haveria vaga como candidato a vice-governador ou a uma cadeira no Senado.
De acordo com essa lógica, para manter a aliança com os tucanos, Kassab teria de enterrar o sonho de disputar o governo paulista em 2014. Lideranças do PSDB, no entanto, veem com desconfiança uma aliança Serra-Alckmin. "Alckmin é de escorpião, não dá para saber nunca o que ele está pensando", diz um dos principais nomes do partido, para quem o governador atua m um pé em cada canoa".
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A importância de reforçar a parceria entre Brasil e Argentina e, deste modo, sinalizar aos demais países da América Latina que é possível ter mais presença e ação no cenário internacional levou a presidenta Dilma Rousseff a decidir que a primeira viagem internacional fosse para a Argentina. Essa explicação foi colocada em entrevista aos jornalistas dos três importantes jornais daquele país:La Nacion, Clarín, Página 12. Além disso, a presidenta Dilma assegurou que terá uma “relação extremamente próxima” com a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner:
“O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.”
A seguir os principais trechos da entrevista concedida pela presidenta Dilma Rousseff aos jornais argentinos La Nacion, Clarín e Página 12.
A importância da mulher na quebra de preconceitos
“Olha, eu acho uma coisa a ser comemorada, porque eu acho que os dois maiores países aqui, do Cone Sul, estão dando uma demonstração que as suas sociedades evoluíram no sentido de superarem o tradicional preconceito que existia contra a mulher. Veja que são sociedades que têm essa evolução no Sul, no Sul do mundo. E, para mim, é algo bastante significativo que também aqui nós tenhamos esse exemplo, que foi a eleição de um índio, na Bolívia, e de um metalúrgico antes mim aqui, no Brasil. Então, eu acredito que a América Latina, ela está dando um exemplo para o mundo de que certos preconceitos, certos bloqueios econômicos e sociais estão sendo superados. Eu acho que representa uma maior democratização das nossas sociedades e dos nossos países. E acredito que a presença da mulher aqui vai significar também a possibilidade de que em outros países da América Latina, como nós já tivemos, no Chile, a presidenta Bachelet, nós tenhamos também outros países em que a mulher seja eleita.”
Relação Brasil e Argentina
“Eu pretendo ter uma relação extremamente próxima com a presidenta Kirchner. Eu pretendo ter essa relação, primeiro, porque o Brasil e a Argentina, eu acho que são os países que têm responsabilidade, perante o conjunto da América Latina, de fazer com que a nossa região seja cada vez uma região com presença e ação no cenário internacional. O Brasil e a Argentina podem fazer isso, e podem fazê-lo de forma mais efetiva quanto mais próximas nossas economias se articulam e se desenvolvam e criem laços em que ambos os povos ganhem com essa aproximação, em matéria de desenvolvimento econômico, de desenvolvimento tecnológico, de melhoria das condições de vida do povo brasileiro e argentino.”
A primeira viagem internacional
“Por isso, o primeiro país que eu vou visitar é a Argentina. Porque eu acho que é o país irmão do Brasil. Não estou diminuindo nenhum outro país, como o Uruguai, Paraguai, a Colômbia, Venezuela, o Peru. Mas eu quero dizer que é algo que eu acho até que é intuitivo, do ponto de vista político, para os outros países… É de todo importante que o Brasil e a Argentina estejam juntos. É algo, eu acho, extremamente amigável também para os outros países. Não é uma relação de hegemonia que o Brasil e a Argentina estão tendo em relação ao resto da América Latina. Não. É porque temos um tamanho e um desenvolvimento econômico que nós podemos liderar.”
A experiência pessoal em exercer a Presidência da República
“A responsabilidade é bastante maior, ou seja, sobre os meus ombros pesa a responsabilidade de dirigir um país da dimensão do Brasil, com os desafios que o Brasil tem. Eu venho de uma experiência de governo muito bem sucedida. Mas eu tenho clareza de que muito foi feito. Eu participei do outro governo de forma muito próxima do Presidente. Na verdade, eu vivia aqui em cima, mudei para o andar de baixo. Ao chegar no andar aqui, de baixo, você encara uma responsabilidade muito maior, porque a decisão, em última instância, está na sua mão.”
“O Brasil é um país que muito realizou, mas tem grandes desafios pela frente, e são desafios enormes porque os números no Brasil são sempre maiores, aqui, do ponto do conjunto da América Latina. Nós temos aqui, no Brasil, uma série de, eu diria, assim, para ti, de desafios colossais. Exemplo: nós queremos erradicar a miséria no Brasil. Miséria, no Brasil, se mede… Hoje nós temos ainda algo como em torno de uns 15 milhões de miseráveis no Brasil, nós temos de enfrentar esse problema. E não podemos deixar que o nível de vida dos demais, que ascenderam às classes médias… porque houve uma revolução nesses últimos oito anos, nós conseguimos tirar da pobreza e de [fazer] chegar à classe média algo como 37, 38 milhões de brasileiros, se você contar até os dados não completamente fechados, de 2010.”
“Temos de continuar esse processo de elevação do nível de vida da população brasileira, portanto, temos de manter o nível, também, de crescimento econômico, para garantir emprego para esse… para todos os brasileiros que têm condições de trabalhar. Não é só o programa de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas é a geração de milhões de empregos. Sem isso, um país como o Brasil não consegue fazer face aos seus desafios.”
“E nós temos um desafio educacional também. Nós temos de conseguir combinar não só uma melhoria radical na nossa educação, da qualidade da nossa educação, para as crianças e adolescentes, mas nós temos um grande desafio na profissionalização, porque hoje o Brasil tem um problema de quase pleno emprego.”
Os desafios brasileiros
“No governo a gente sempre corre contra o tempo, não é? Eu tenho corrido contra o tempo, contra quinhentos anos de abandono da população brasileira. A gente corre contra o tempo quando eu falo em reduzir a pobreza no Brasil. Agora, no caso específico que você levantou, nos dois específicos, primeiro, nas enchentes, eu acho que no Brasil nós temos de caminhar e nós temos condições tecnológicas para isso. Nós temos condições de recursos humanos para isso, temos recursos financeiros para isso. Nós temos de caminhar para um sistema que não é que acabe com as enchentes, você vai ter sempre acidentes climáticos, mas que acabe e que elimine e que reduza ao mínimo o número de mortes. Então, desde um sistema de alerta de enchentes, passando portanto… de prevenção, por todo um investimento em infraestrutura, que é a drenagem para não ter… para quando os rios encherem você não ter alagamento de residências, de empresas ou, se tiver, ter um nível de segurança não deixando as pessoas morarem na beira dos rios e correrem risco de vida. A mesma coisa para a encosta de rio. No Brasil, você entende porque isso aconteceu. Depois da crise da dívida, em 1982, nós tivemos um período muito grande sem grandes investimentos em infraestrutura e em projetos sociais. Por exemplo: nós não tivemos grandes planos habitacionais no Brasil. Então, a população não tinha acesso à moradia…
A imagem do país para o mundo
“Eu tenho certeza que será, uma ótima imagem. É uma imagem de um país que vem de um processo, eu acho assim, muito perverso, de ser um dos países mais desiguais do mundo, mudando esse perfil progressivamente, se transformando numa economia das… numa grande economia, uma grande economia emergente. E, ao mesmo tempo, um país que tem maturidade para resolver seus problemas.”
O cumprimento dos contratos
“Mas eu vou te dizer uma coisa: eu acho que cada país tem os seus problemas e tem as suas condições históricas e as suas explicações. No Brasil, nós tivemos um processo. Esse processo, ele levou anos amadurecendo. Obviamente, você tem conhecimento que os países mais estáveis do mundo como a Inglaterra, o Reino Unido… o Reino Unido quando acha que um contrato está desequilibrado, econômica e financeiramente, para o consumidor, chama uma audiência pública e muda os termos do contrato. Fizeram isso duas vezes no setor elétrico. Então, depende, cada país tem um processo de construção da institucionalidade, diferente. A maturidade de alguns sistemas pode levar a que eles alterem as condições do contrato. Por que eles fizeram isso, se você pegar os contratos de energia elétrica do Reino Unido? Porque eles achavam que o ganho obtido pelos grandes produtores de energia era excessivo, que não era esse ganho de energia, de… ou seja, não era aquela lucratividade que o sistema comportava, então, naquele momento, eles tinham de diferir. O que eles tinham de fazer? Eles tinham de mudar as condições em que o contrato dizia que seriam passados para o setor dos consumidores os ganhos obtidos de produtividade. Eles inventaram, inclusive, na época, um fator chamado fator X, que pelo qual eles transferiam os ganhos de produtividade para o consumidor.”
A desvalorização monetária
“Acho que o Brasil e a Argentina estão sofrendo – e todos os países emergentes, isso é público e notório – estão sofrendo as consequências da política de desvalorização praticada pelos países em questão, pelos dois grandes países do mundo. Acho que nossa posição no G-20 vai ter que ser cada vez mais uma posição de reação a esse fato, a essa política de desvalorização, que sempre levou a situações muito problemáticas no mundo, a chamada desvalorização competitiva. Eu desvalorizo a minha moeda para competir com você. Essa política levou a várias crises econômicas, aliás, a várias disputas políticas, disputas econômicas. E ela não é boa nem para o Brasil, nem para a Argentina, nem para nenhum país emergente. Nós achamos que os Estados Unidos, em especial, que detém a moeda que é reserva de valor, tem de levar em consideração esse fato. Nós temos, hoje, 280 milhões… 88 milhões de dólares em reservas, em dólar. Então, para nós, também, é uma questão muito importante que não haja uma perda de valor. A perda de valor da moeda que é reserva de valor é uma contradição. Achamos, também, que todos os países têm de… não podem aceitar políticas de dumping, mecanismos de competição inadequados, não baseados nas práticas mais transparentes, e que os países têm de reagir a esse fato. Agora, também sabemos que o protecionismo, no mundo, não leva a boa coisa. Instituir o protecionismo, você… as perdas não são restritas àquele do qual você está se defendendo, elas se espalham pelo sistema, é isso que eu quero dizer.”
A agenda da Presidenta
“Olha, o foco da minha agenda é o seguinte: é o compromisso que o governo brasileiro mais uma vez assume, com o governo argentino, de uma política conjunta e estratégica de desenvolvimento da região. A gente, no caso da região, é uma posição o seguinte: o desenvolvimento do Brasil, ele é um desenvolvimento que tem de beneficiar o conjunto da região. Dou um exemplo: nós vamos ter uma política muito forte para gerar a política de fornecedores na área do pré-sal. Nós temos essa política, a gente chama “política de conteúdo nacional”. Nós cogitamos de uma política de conteúdo regional, conjunta, com a Argentina. Nós cogitamos de uma agenda em que a Argentina e o Brasil, do ponto de vista de serem países com grandes recursos alimentícios, com grandes recursos, eu diria, energéticos, possam aumentar a agregação de valor e a geração de emprego na região. Nós queremos uma parceria na área de tecnologia e de inovação, com a Argentina. Nós queremos também uma parceria no uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos.”
Visita do presidente Barack Obama
“Eu acho que a relação do Brasil com os Estados Unidos, ela é uma relação histórica. Nós temos uma relação – acho que os demais países da América Latina também têm – histórica com os Estados Unidos. Essa relação, na medida em que os países foram se desenvolvendo, elas foram mudando. Hoje, por exemplo, fantasticamente, os Estados Unidos são superavitários na relação comercial com o Brasil. Obviamente, isso era inconcebível, até pouco tempo atrás. Por quê? É importantíssimo olhar os Estados Unidos como um grande parceiro comercial dos países da América Latina. Para o Brasil, os Estados Unidos foram – e sempre serão – um parceiro muito importante. Então, nós, a cada vez… a cada período, nós temos de melhorar cada vez mais, e mudar o patamar da relação. Tivemos uma experiência muito boa nos últimos anos, tivemos diferenças de opinião, agora, o que importa é perceber que essa é uma parceria que tem um horizonte de desenvolvimento muito grande. Então, nós consideramos que, a cada ano, nós vamos ter de virar as páginas do ano anterior. Um dos assuntos que a senhora também destacou muito é a sua política de Direitos Humanos. Eu queria saber como vai se traduzir isso na sua política externa. Você pode por em contexto como vai ser tratado… a senhora falou já do caso do Irã… com o respeito dos direitos humanos no Irã.”
Direitos humanos
“Olha, nós, pelo menos eu acho, em alguns momentos, eu até tive uma divergência pequena com o Itamaraty. Eu não vou negociar Direitos Humanos, ou seja, eu não vou fazer concessões nessa área. Agora, não acho que os Direitos Humanos sejam… o problema dos Direitos Humanos possam ser olhados como restritos a um país ou uma região. Essa é uma falácia. Direitos Humanos hoje no mundo é algo que nós temos de olhar no nosso país e em todos os países, não dá para só ver a trava no olho do vizinho porque, no caso dos países desenvolvidos, nós já tivemos episódios terríveis, eu acho que tem problema de Direitos Humanos. Aliás, eu e o mundo. Em Abu Ghraib; acho que teve problemas de Direitos Humanos, e ainda tem, em Guantánamo; agora, eu também considero que apedrejar uma mulher não é uma coisa adequada. Então, não vou, de maneira alguma, achar que não ser… que ter uma posição firme em relação a Direitos Humanos simplesmente é apontar com o dedo um país e falar: “Aquele ali é o país que não respeita”. É bom que cada um de nós olhemos, como a Bíblia diz, para a trava no seu próprio olho.
A situação de Cuba
“Acho que Cuba teve, com a libertação dos prisioneiros, deu um avanço, deu um passo na frente, nessa questão de Direitos Humanos, porque ela deu uma… fez um esforço e tem uma melhoria. E acho que ela deve continuar fazendo. No processo, inclusive, de… eu acho que de construção da saída de Cuba, pelo menos porque você vê o governo cubano dizendo que vai fazer, que é uma melhoria nas condições econômicas, democráticas e políticas do país. Agora, eu respeito também o tempo deles, respeito. Muitas vezes, a gente tem de entender o seguinte: que a política é feita em uma determinada temporalidade. Eu prefiro ali, em Cuba, eu prefiro dizer o seguinte: acho que há um processo de transformação, e acho que todos os países devem incentivar esse processo de transformação. E devemos protestar contra todas… Se houver alguma falha dos Direitos Humanos de Cuba, eu não vejo nenhum problema em falar: “Olha, está errado ali”, e tal; “Tem isso lá”. Qual é o problema? Podem fazer aqui no Brasil também. Nós não estamos dizendo que nós somos, aqui, um país que não tem suas dívidas com os Direitos Humanos. Nós temos.”
A Venezuela no Mercosul
“É importante a Venezuela entrar no Mercosul, e acredito que, para o nosso bloco, é muito bom que haja vários países, além dos que originariamente estavam no Mercosul, entrem no Mercosul, porque muda, eu diria, muda o patamar do Mercosul. Você veja que a Venezuela é um grande produtor de petróleo e gás. Ela tem muito a ganhar entrando no Mercosul, e nós temos muito a ganhar com a presença da Venezuela no Mercosul. Então, eu vejo com excelentes olhos a entrada da Venezuela, a participação da Venezuela. No caso específico da forma de governança dentro da Unasul, eu acho que está em um processo de negociação. Sempre que for possível se fazer rodízio, eu acho o rodízio um método muito bom, por quê? Porque nós estamos em uma reunião em que todos são iguais. É a tal da “távola-redonda”, não tem ninguém na ponta. Então, o rodízio é o mecanismo pelo qual nós vamos garantir que todos tenham a sua hora e a sua vez na direção. E a gente tem de respeitar a ida de cada país, porque ali é uma negociação entre países soberanos, Estados soberanos que querem juntar esforços no sentido de criar uma relação política, econômica e institucional que permita que a gente dê um salto para as nossas economias e a nossa sociedade. Nada mais justo que… cada um tenha a sua vez. Eu acho que isso é um princípio democrático, cada um… E um princípio democrático essencial entre países soberanos. Então, eu sou a favor disso, rodízio, tipo “távola-redonda”, ninguém é mais importante que ninguém; cada país, um voto.”
A surpresa positiva no primeiro mês de mandato
“Eu posso te falar uma coisa, eu fiz uma brincadeira. Mas eu não tenho muitas surpresas aqui. Eu vivi no centro do governo nos últimos seis anos. Então, a minha grande surpresa positiva, eu vou te dizer: foi muito bonita a minha posse, muito emocionante. Nesse último primeiro mês, que começou no dia 1º de janeiro e que termina agora no dia 31, ele abre com uma cerimônia ao mesmo tempo muito bonita e triste, porque eu estava subindo, aqui a gente chama, a rampa, e o presidente Lula estava descendo. Então, ao mesmo tempo que era bonita porque eu estava chegando, era triste porque eu participei diariamente com o presidente aqui no governo dele. Então, teve isso – foi muito bonito e muito triste. Agora, eu queria te dizer o seguinte: sempre é muito bom quando o teu povo te reconhece na rua, você entende? E o povo brasileiro é um povo muito afetivo, não é? E então, gritam; você está passando de janela aberta, gritam, te chamam. E é aquela intimidade, entendeu? É como se eu conhecesse cada um deles pessoalmente. Então, isso é muito bom. Eu ainda não tive uma triste, viu? Vou ter. Talvez eu tenha tido sim uma triste, bem triste, te digo qual foi: foi olhar o… você não imagina o que era a cidade de Nova Friburgo. Sabe? Foi um momento muito triste, porque você via pessoas que estavam perdendo os seus parentes, o desespero nos olhos das pessoas. E, ao mesmo tempo, para mim é um compromisso que nós temos de impedir que isso ocorra outra vez.
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