10/01/2011
Cautela ou recuo na regulação da mídia?
Por Altamiro Borges
Neste final de semana, a mídia hegemônica soltou rojões para comemorar o que seria um recuo do recém-empossado ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, na proposta de elaboração de um novo marco regulatório para a mídia. A Folha interpretou que o governo já teria “mudado seu discurso”, adotando “um tom mais cauteloso”. O Estadão foi ainda mais otimista: “Governo Dilma enterra projeto de regulação da mídia”. E o jornal O Globo foi mais precavido: “Regulamentação não irá ao Congresso”.
A leitura precipitada dos barões da mídia sobre o recuo do governo ocorreu devido à confusa entrevista que o ministro concedeu logo após a audiência com a presidenta Dilma Rousseff, na sexta-feira (7). Diante dos holofotes, Paulo Bernardo teria dito que o projeto demanda mais tempo de maturação, “já que tem questões que dizem respeito à própria democracia. Vamos examinar tudo e ver como vamos encaminhar”. Esta resposta vaga e ensaboada foi interpretada como a morte prematura da proposta.
“O governo enterrou o projeto”
Leonêncio Nossa e Lisandra Paraguassú, da Agência Estado, não pestanejaram: “O governo enterrou o projeto de regulação da mídia elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins. Após encontro com a presidente Dilma Rousseff no Planalto, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse em tom diplomático e político que há outras prioridades para serem tocadas, como o projeto de banda larga... Pela tradição de Brasília, um governo ‘enterra’ um projeto quando não estipula prazo para envio ao Congresso nem classifica a proposta como prioridade na agenda, observam assessores”.
Não foi exatamente a mesma conclusão da reportagem do jornal O Globo. A famiglia Marinho, escaldada, prefere não provocar a presidenta Dilma Rousseff. “A nova equipe pretende reabrir a discussão e até submeter à consulta pública a proposta”, informa. Mesmo assim, a matéria editorializada registra a rejeição à regulação. “O texto provocou forte reação da sociedade civil organizada, que teme o controle prévio dos meios de comunicação e um cerco à liberdade de imprensa”, afirma, na maior caradura. De qual sociedade civil organizada O Globo está falando? De que texto, já que ele ainda nem foi publicado?
Futricas e estímulo à cizânia
Já a Folha, no seu estilo inconfundível de soltar futricas para estimular a cizânia, especulou sobre as diferenças entre os dois presidentes. “Em dezembro, o governo Lula, por meio do ex-ministro Franklin Martins, finalizou o anteprojeto da Lei Geral de Telecomunicações e passou a discussão para o novo governo... O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que a discussão sobre a Lei Geral das Telecomunicações seria o ‘mais importante’ debate no governo pelos próximos dois anos, e convocou ativistas de comunicação a se prepararem para a discussão”.
Para a Folha, Paulo Bernardo acerta ao ser mais cauteloso. “O ministro defendeu uma discussão detalhada dentro do Executivo antes de se definir o encaminhamento do texto. Na conversa com Dilma, Paulo Bernardo diz ter defendido que, em vez de encaminhar o projeto diretamente ao Congresso, o texto seja submetido à consulta pública através da internet. ‘Vamos ter que olhar cada aspecto, cada ponto ali’... Vamos examinar tudo isso e ver depois como nós vamos encaminhar’, afirmou o ministro”.
Confecom já!
Aonde há fumaça, há fogo. Para a imprensa ter soltado rojões é porque ela possui outras informações, nem sempre divulgadas. É evidente que o lobby dos barões da mídia está super-ativo para evitar qualquer regulação do setor – com visitas e reuniões das mais sigilosas aos integrantes do executivo e parlamentares. É evidente também que o tema é explosivo. Afinal, ele mexe com um dos principais poderes da sociedade contemporânea, com enorme capacidade de agendar a política e difamar reputações.
É indiscutível que o ministro Paulo Bernardo precisará de firmeza de princípios e muita habilidade para tocar este inflamável debate. A cautela é plenamente justificável; já o recuo, é imperdoável. A idéia de realizar um amplo debate na sociedade, inclusive com consultas públicas, é positiva. Permite aumentar a pressão da verdadeira “social civil organizada”, reduzindo o poder da ditadura midiática. Neste sentido, vale a pena avaliar a possibilidade da convocação da II Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) ainda para este ano. Ela ajudaria a galvanizar as energias e a reforçar a urgência da regulação da mídia.
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ResponderExcluirO Franklin Martins foi muito afoito... não se implanta uma medida desta de forma tão rápida e impositiva...
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Alterações no contexto (Tv via telefonicas, novos players com capital estrangeiro por trás, redistribuição de verbas de propaganda,...) vão levar os barões da mídia atual pedir uma regulamentação que lhes garanta sobrevivência... aí a negociação anda mais fácil...
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Na banda larga, telefone e TV vão circular, junto com dados...
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Diminuir a concentração ajuda na colaboração...
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