quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Contraponto 15.751 - "David Corcho: Decadência e queda da direita na América Latina"

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01/01/2015

 

David Corcho: Decadência e queda da direita na América Latina


Após haver governado as nações latino-americanas, a direita vive uma situação de profunda ilegitimidade e isolamento políticos. O descalabro destas elites conservadoras começou com a vitória de Hugo Chávez nas eleições de 1998 e, desde aquele momento, o retrocesso manteve-se até hoje.

Portal Vermelho - 01 de janeiro de 2015 - 10h34 



Por David Corcho*, na Prensa Latina


A política neoliberal da direita latino-americana fracassou. A política neoliberal da direita latino-americana fracassou.

De acordo com o cientista político argentino Atilio Borón: "Pode-se dizer que o ponto mais baixo deste ciclo decadente foi a derrota da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) na Cúpula do Mar da Prata, no final de 2005".

Hoje existem governos de esquerdas em países como Bolívia, Venezuela, Equador e Brasil, e suas popularidades e reconhecimentos internacionais justificam o acertado de suas políticas: combate à pobreza, luta contra o narcotráfico e a violência civil, e numerosas medidas sociais.

Outra de suas fortalezas tem sido a acertada política exterior. Isto tem permitido colocar-se à altura das potências e pôr na agenda mundial os interesses dos países latino-americanos.

Os mecanismos de integração regional, segundo adverte Borón, “têm sido, por sua vez, os meios para se conseguir uma verdadeira coalizão entre estas nações e defender-se dos Estados mais reacionários e da minguada hegemonia de Washington no continente”. No entanto, apesar da direita ter preferido se retirar a lamber suas feridas no campo da alta política continental, tenta retomar seu antigo poderio.

Os meios e estratégias são diversos; às vezes, por exemplo, são realmente burdos: o golpe de Estado e a promoção da violência civil. Uma ação deste tipo ocorreu na Venezuela no ano de 2002, para derrotar Hugo Chávez, mas a resistência popular frustrou a intentona.

Na Bolívia (2008) e no Equador (2010) os golpes contra os governos de Evo Morales e Rafael Correa terminaram em fracasso; diferente dos casos de Honduras (2009) e do Paraguai (2012). Nas eleições de 2013, a direita voltou a morder o pó na Venezuela e esta derrota levou a que incentivasse um processo desestabilizador, cujos resultados mais notáveis têm sido fortalecer o governo.

“Quando estas tácticas não dão resultado se recorre a estratégias mais sutis”, explica Emir Sader, destacado sociólogo brasileiro."Recentemente passou a promover a Aliança do Pacífico (AP) como uma alternativa em oposição ao Mercosul e à Unasul", segundo o acadêmico carioca.

"A AP promove um tipo de integração regional baseada no livre comércio, muito apegada ao consenso que Washington quer restituir na região". Outra estratégia implica promover novos rostos, como os dos venezuelanos Henrique Capriles e Leopoldo López.

É precisamente no âmbito do discurso onde aparece um novo matiz, segundo explica Alfredo Serrano, diretor do Centro Estratégico Latino-americano Geopolítico (Celag), da Espanha.

Para políticos como o argentino Sergio Massa, o venezuelano Henrique Capriles e o equatoriano Mauricio Rodas uma tática é "distanciar-se" dos partidos tradicionais.

"O que têm em comum Massa, Capriles e Rodas?" -pergunta o analista. "Tentam apresentar um novo momento, um estágio superior: o da pós-política, o de achar que todas as discussões são técnicas ou tecnocráticas e não políticas".

"Massa, Capriles e outros políticos preferem discutir questões como a redução dos impostos, a luta contra a insegurança, mas, nos debates sobre despesa social, compreendem que a política das Missões na Venezuela ou Atribuição Universal por Filho, na Argentina, são extremamente populares".

"A nova direita se dá conta de que tem que tentar captar a maioria vencida pela esquerda latino-americana para recobrar sua hegemonia", conclui.

Mas as sociedades latino-americanas pedem que suas democracias distribuam melhor as riquezas que geram e que se feche a brecha entre ricos e pobres, em lugar de torná-la crônica.

Os povos americanos pedem que os dirigentes tenham verdadeira preocupação pela pobreza e marginalidade, e não mera retórica eleitoral.

Borón, Sader e Serrano concordam em que os partidos e dirigentes que não compreendam esta mudança no clima da época e na agenda de reivindicações sociais perderão irremediavelmente nas urnas, recusados pelas maiorias que exigem de seus mandatários bem mais do que lhes exigiam há algumas décadas.

Fonte: Prensa Latina
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