15/06/2017
Os historiadores do futuro vão ficar na dúvida a respeito de qual epíteto é o mais adequado para definir Michel Temer.
Do Brasil 247 - 15/06/2017
por Alex Solnik
Mordomo de filme de terror? Vice decorativo? Traidor? Golpista? Corrupto?
Tomo a liberdade de sugerir que o chamem de "coveiro da Nova República". Traidor de Ulysses Guimarães.
Acho que é a definição mais adequada porque tudo o que ele e o bando que trouxe para o Planalto fizeram até agora, em um ano de mandato ilegítimo, foi anular o que a constituição de 1988 introduziu em matéria de direitos civis e econômicos com o objetivo de diminuir a monumental desigualdade social que vigora no Brasil.
Valendo-se de uma maioria na Câmara e no Senado que tem o mesmo perfil do governo, composto por investigados e suspeitos de corrupção, que são protegidos por Temer até mesmo com a criação de ministérios especiais, como no caso de Moreira Franco.
Eles não derrubaram a presidente eleita para colocarem o país nos trilhos e sim para enterrarem a Nova República.
Temer é o coveiro-mor.
Aqueles que achavam exagero chamar de golpe o que aconteceu no ano passado, podem constatar agora que foi golpe, sim, e a prova é que Temer e seus subalternos não fizeram outra coisa nesses quase 400 dias de governo a não ser mudar a constituição.
Que é a primeira medida de todos os golpistas quando chegam ao poder.
E mudar para pior. Para retroceder aos tempos pré-ditadura Vargas.
A constituição-cidadã está virando uma constituição-cortesã.
Ainda não está claro o que virá depois da Nova República. O que é certo é que ela está morta e o estágio atual se assemelha a uma ditadura.
Não é uma ditadura clássica, civil, como a de Vargas ou militar, como a de 64.
É uma ditadura nova, fruto dos tempos atuais: a ditadura dos corruptos.
Eles mandam no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.
Todos chefiados por Temer.
E não precisam do aplauso das ruas. Preferem o cheiro dos cavalos.
Tanto é uma ditadura que o principal movimento de oposição a ela clama por Diretas Já.
Não estamos mais naqueles tempos românticos da caixinha do Adhemar.
Não estamos mais no tempo em que o sobrenome de outro corrupto notório deu origem a um novo verbo: malufar.
Não estamos mais no tempo de Collor.
Todos amadores perto dos que agora ocupam os postos-chave da República.
A corrupção se tornou tão corriqueira nas relações entre políticos e empresários e cresceu tanto que os corruptos, agora, são maioria.
Agem, agora, como organização criminosa tipificada na Lei 12.850 promulgada pela presidente Dilma em 2013, que regulamentou a "colaboração premiada" dos delatores e a "ação controlada" da Polícia Federal, na qual o próprio Temer está incurso:
§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Nessa organização temos um brilhante fabricante de medidas provisórias, chamado Eduardo Cunha, preso em Curitiba; um carregador de mala milionária, preso em Brasília, chamado Rodrigo Rocha Loures; um coronel aposentado que recebe 1 milhão por ordem de Temer e paga as reformas das suas filhas; um turista eventual chamado Henrique Eduardo Alves, também preso; uma "mula" do ministro Padilha, chamado José Yunes; um resoluto defensor dos interesses particulares em detrimento dos públicos, Geddel Vieira Lima, prestes a ser preso. Falta alguma coisa para tipificar uma organização criminosa?
Ah, e todos comandados por uma pessoa que entra num jato particular sem saber de quem é, recebe visitas clandestinas no porão do palácio, recomenda manter a compra do silêncio de um corrupto notório, pede e recebe dinheiro de Marcelo Odebrecht, concorda em subornar juízes
A noção de vergonha também se esvaziou com o passar dos anos. Quando ficou patente que Collor comandava uma organização criminosa na qual era representado por PC Farias, sua base de apoio se desmilinguiu.
Agora, não; os fatos desabonadores que saem todos os dias em desfavor de Temer não provocam a debandada que se espera de políticos que juraram cumprir a constituição e dos quais se espera serem no mínimo honestos.
Nem ratos nem tucanos abandonam o navio pirata.
Em vez de repúdio, Temer recebe apoio.
E os tucanos ainda dizem que com isso estão ajudando o país.
Resta saber qual.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos".
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