O general revelou que projeções trabalhadas pelo Exército calculam em cerca de U$ 23 trilhões o potencial em recursos naturais existente apenas na região amazônica. Apesar disso, não existiria nenhum projeto específico de aproveitamento destas gigantescas riquezas, refletido ainda no entender de Villas Bôas na ausência de um projeto nacional como um todo. Ele concordou com a afirmação de Roberto Requião (PMDB-PR) para quem "o Brasil é grande demais pra abrir mão de um projeto nacional".
- É exatamente isso, o Brasil é um superdotado num corpo de adolescente. A Amazônia continua praticamente abandonada, falta um projeto e densidade de pensamento - afirmou o comandante do Exército.
Villas Bôas voltou a reiterar declarações recentes dadas à imprensa para quem "o Brasil está à deriva, sem rumo", como consequência de um acúmulo de crises que iria além de seus aspectos econômicos. Fez questão de reiterar que este diagnóstico não se aplicaria à atual gestão federal, pois este processo "já vem há muito tempo".
Villas Bôas entende que um dos equívocos cometidos pela sociedade brasileira foi deixar-se levar pelas linhas de confrontação ideológica existentes na Guerra Fria, o que dividiu setores, levou ao abandono de um projeto nacional e evolui hoje para a "perda da identidade e o estiolamento da auto-estima".
- Se fôssemos um país pequeno, poderíamos nos agregar a um projeto de desenvolvimento de um outro país. Como ocorre com muitos. Mas o Brasil não pode fazer isso, não temos outra alternativa a não ser sermos uma potência. Não uso esse termo na conotação negativa, relacionada a imperialismo, mas no sentido de que necessitamos de uma densidade muito grande - explicou.
"Desenvolvimento salva a Amazônia"
As afirmações de Villas Bôas em relação à região amazônica e à crise de projetos foram apoiadas por senadores como Cristovam Buarque (PPS-DF), Vanessa Graziottin (PCdoB-AM) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Para Cristovam, até hoje amplos setores da sociedade brasileira continuam presos a mecanismos ideológicos herdados da Guerra Fria, o que ele percebe como "um anacronismo".
Lindbergh questionou o general sobre projetos anunciados pelo governo federal, como uma ampla liberação para a exploração estrangeira em relação a minérios, assim como também a venda de terras para estrangeiros. Villas Bôas disse ser contrário à venda de terras nas regiões fronteiriças, reiterando que se absteria de comentar a questão em relação a outras partes do território.
O comandante do Exército também fez questão de reiterar que vê com "preocupação" uma maior abertura para a exploração das riquezas minerais por empresas de fora. Mencionou que o Exército tem levantamentos sobre a "estranha coincidência" entre a demarcação de terras indígenas com a presença das riquezas minerais.
Villas Bôas ressaltou que a Bolsa de Futuros relacionada à exploração mineral sedia-se no Canadá, de onde advém grande parte da pressão internacional pela instalação de unidades de conservação.
- Eles trabalham no sentido de neutralizar áreas, amortecer, já que não tem a capacidade de explorar imediatamente. E ficam esperando certamente momentos oportunos pra buscar estas oportunidades, então acho que isso tem que ser muito considerado - alertou.
Ainda no que tange à Amazônia, para o general o país continua vítima de uma visão que contrapõe o desenvolvimento à preservação ambiental.
- Morei lá por oito anos e penso justamente o oposto. O que vai salvar a região amazônica, inclusive a natureza, é o desenvolvimento. É a implantação de polos intensivos para empregar aquela grande mão de obra, impedindo que ela vá viver do desmatamento extensivo - defendeu.
Villas Bôas acrescentou que percebe as populações indígenas hoje como as principais vítimas do atual modelo aplicado à região, pois seriam utilizados por interesses ligados ao ambientalismo na definição de unidades de conservação e depois "abandonados à própria sorte". Concluiu afirmando que a crise na Amazônia é um reflexo da ausência de um projeto como um todo para o país e sua "vulnerabilidade" à ações externas.
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