20/06/2017
Brito desmascara a hipocrisia do Janot
Para se defender, ele esculhamba Gilmar na caverna nos poderosos
Conversa Afiada - publicado 20/06/2017
O Conversa Afiada reproduz irretocável artigo de Fernando Brito sobre aquele que deixou Eduardo Cunha solto até que derrubasse a Dilma e levou mais tempo para ir à Furnas do Mineirinho do que Moisés levou para atravessar o deserto.
Ao mestre Fernando Brito:
Dr Janot, os tiranos desqualificam seus críticos, ditadores atacam seus críticos
O Dr Rodrigo Janot teve hoje uma catarse, na abertura de um seminário promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público
Disse, segundo O Globo:
— Há pessoas que acusam o Ministério Público e a Lava-Jato de abuso. Afirmam que o Brasil está se tornando um estado policial, um estado de exceção. Só dois tipos de pessoas adotam e acolhem esse tipo de discurso. Os primeiros, nunca viveram em uma ditadura, eu vivi. Não conhecem, por experiência própria, o que representa vida sem liberdade. Militam, portanto, na ignorância. Para esses, o esclarecimento dos fatos é mais do que suficiente. Mas há também aqueles que operam no engodo, os que não tem compromisso verdadeiro com o país. A real preocupação dessas pessoas é com a casta privilegiada da qual fazem parte. Empunham a bandeira do Estado de Direito, que vergonha, mas desejam defender os amigos poderosos com os quais se refestelam nas regalias do poder. Para essas figuras não há esclarecimento suficiente, porque a luz os ofusca, fogem da verdade com pavor dos que vivem no embuste. Escondem-se nas cavernas sombrias de seus mesquinhos interesses.
Viveu a ditadura, Dr. Janot?
Sou da sua geração, a vivi também. E ela moldou meu juízo, fez-me odiar o arbítrio, a prisão, a condenação sem provas, a alcaguetagem.
Sabe, Doutor, mesmo sem provas, tinham a convicção que eu era um elemento subversivo.
Não tive a sorte de conhecer a valentia do Ministério Público – sim, ele existia, não é? – quando gente era presa na escuridão, sequestrada, torturada, morta…
O Ministério Público não nasceu na Constituição de 1988, que lhe dá os poderes que agora tem. Vem de antes, mas não vejo a crítica necessária ao papel sabujo que teve. Isso, embora os senhores sempre lembrem que os admitidos antes dela possam advogar para privados.
Não faço parte de “uma casta privilegiada” como é o Ministério Público, ganhando polpudos vencimentos, acrescidos de penduricalhos, auxílios isso e aquilo que não despertam sua indignação republicana e igualitária. Vivo – e o senhor pode acionar seus mecanismos de espionagem para verificar – do Google e das contribuições dos leitores.
Mas não sou hipócrita, como o senhor, que descobriu, já quase na sexta década da vida, que a política tem o dinheiro como combustível, queira-se ou não. A política, aquela que o levou, com os amigos que agora rejeita, ao cargo que tem.
O senhor diz, tonitruante:
- Basta de hipocrisia. Não há mais espaço para a apatia, ou caminhamos juntos contra essa vilania que abastarda a política ou estaremos condenados a uma eterna cidadania de segunda classe servil e impotente contra aqueles que deveriam nos representar com lealdade.
Ela começou ontem, Dr. Janot, a vilania na política?
Eu tenho mais tempo de vida pública que o senhor e, ao contrário do senhor, nenhuma estabilidade ou vitaliciedade. Certo, não fui ungido por um concurso público. Não posso quebrar seu sigilo bancário, embora o senhor possa quebrar o meu.
Não tenho medo por mim, Doutor, mas tenho medo quando vejo alguém, como o senhor, se erigindo em moralista universal.
Os pecados de seu Ministério Público, nestas três décadas em que tudo pôde e nada fez, não podem ser, simplesmente, esquecidos.
As instituições são dinâmicas e nem sempre o que aconteceu no passado devem condená-las ad eternum.
E a disputa do poder não é, senão nas mentes miúdas, uma disputa do riquezas e vantagens, cargos e posições.
E se a ira santa contra o que o senhor viu, quieto, durante três décadas e agora torna emblema, não é possível esquecer a pusilanimidade com que deixou de agir em defesa da única legitimidade democrática, a do voto, quando ela precisou da coragem da qual agora o senhor finge ostentar?
É porque sua valentia se dá sob o pálio da Globo, sem a qual o senhor estaria reduzido à estatura moral que de fato tem.
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