27/05/2010
O Brasil não é Honduras
Direto da Redação - Publicada em:26/05/2010
Mair Pena Neto*

O crescimento evidente da candidatura de Dilma Rousseff acendeu a luz vermelha nas hostes conservadoras, que já vinham tentando, enquanto foi possível, manipular as pesquisas de opinião. O PSDB recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral contra a pesquisa Sensus de abril, que já mostrava um empate entre Dilma e José Serra, contrariando a ampla vantagem atribuída pelo Datafolha. O instituto do jornal da ditabranda contribuiu para tentar desmoralizar a pesquisa do concorrente, mas nada de incoerente foi encontrado nos questionários e na tabulação do Sensus, nem pelo perito contratado pelos tucanos para auditá-la.
Ao contrário, foi o PSDB que se baseou em dados errados para acusar o Sensus de manipular a pesquisa que desmontava o cenário que os tucanos vinham montando com o auxílio de certos setores midiáticos. A pesquisa do Sensus, cuja credibilidade ficou na berlinda, era inteiramente regular, e o que apontava desde abril se confirmou em maio com as sondagens CNT/Sensus e Vox Populi: Dilma crescia em todas as regiões e Serra começava a cair.
A Justiça Eleitoral confirmou a regularidade da pesquisa, mas não houve qualquer condenação ao PSDB, a quem foi dado pleno acesso ao conteúdo da pesquisa e de onde partiram sérios ataques à idoneidade do instituto Sensus. Começava a se revelar aí uma generosidade da Corte eleitoral com um dos lados da disputa.
O Datafolha, por sua vez, teve que rebolar para explicar em maio como Dilma conseguiu recuperar uma vantagem de 10 pontos percentuais que o instituto atribuía a Serra um mês antes. Dilma não só empatava com Serra na intenção de votos, como liderava na pesquisa espontânea, vencia em segundo turno e tinha rejeição menor que o tucano. Os jornais também fizeram sua parte, com malabarismos nas manchetes para minimizar o impacto da notícia.
Frustrado ao menos temporariamente o front das pesquisas, o trio partidos de oposição-grande imprensa-Judiciário parece estar unido numa outra estratégia, cantada desde o início do processo: a judicialização da campanha. A oposição inundou os tribunais eleitorais com queixas que já resultaram em quatro multas contra Lula e Dilma, com mudança de opinião de relatores durante o processo. A alegação é de propaganda antecipada, mas esconde a tentativa de evitar que Dilma seja identificada como a candidata de Lula, o que as pesquisas revelam que ainda é significativo.
No lado oposicionista, Serra aparece em todas as propagandas televisivas do DEM pelo país, o que é expressamente vedado pela lei eleitoral, e nada acontece. A Justiça, célere em acompanhar as movimentações de Lula e Dilma, parece não enxergar o outro lado. Chegou ao ponto de nem precisar ser instada a se pronunciar. O Ministério Público Eleitoral, por exemplo, pediu mais uma multa para um evento em que Dilma não estava presente e nem a oposição tinha detectado qualquer irregularidade. Seria louvável se não fosse parcial.
Mas a situação torna-se mais ameaçadora quando chega a altos magistrados. O ministro do TSE, Marco Aurélio Mello, falou claramente em impugnação de candidaturas e até em impugnação de mandatos por conta de irregularidades na pré-campanha. A vice-procuradora geral da República, Sandra Cureau, seguiu na mesma linha e chegou a citar Dilma Rousseff. Coincidentemente, as duas entrevistas foram concedidas à Folha de S. Paulo.
A senha foi dada e os seguidores da idéia imediatamente surgiram. O colunista de O Globo, Ricardo Noblat, publicou em seu blog que para dois ministros do TSE que ouviu (um já dá para imaginar quem é) “há abusos suficientes para ameaçar o registro da candidatura de Dilma”, e arrematou o post com um brado digno de Carlos Lacerda: “Mas falta ao tribunal coragem para tomar qualquer medida mais drástica a esse respeito.” (( !) grifo do ContrapontoPIG)
O que querem esses setores? Levar a Justiça a impugnar a candidatura de Dilma ou até mesmo seu mandato caso eleita? Em Honduras foi assim. Não houve necessidade da força bruta inicialmente. A Corte Suprema legitimou o golpe contra o presidente democraticamente eleito. Aqui como lá, fingem defender a democracia quando na verdade atentam contra ela.
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