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03/10/2010
A Rede Globo e suas novas razões03/10/2010
Do Nassif
Enviado por luisnassif, dom, 03/10/2010 - 01:11
Por Nassif:
Termina esta importante fase da vida política nacional, a campanha presidencial em que foi travado o primeiro grande enfrentamento entre os grandes grupos de comunicação e a sociedade civil, isto é, o embate de informação entre a mídia e a blogosfera, no qual esta última foi a grande e notável vencedora.
Esta disputa, na realidade uma verdadeira guerra, foi desenvolvida durante tres ou quatro anos, uma batalha diária fartamente documentada – a documentação, ao lado da informação instantânea é a grande vantagem da internet e, justamente por isto, a grande preocupação dos poucos grupos que dominam o setor no país, todos inteiramente desacostumados à prática do contraditório, todos historicamente habituados a fazer o que queriam e bem entendiam, a apoiar e a destruir governos, tudo de cima para baixo, isto é, sem precisar dar satisfação a ninguém quanto aos métodos por eles utilizados para convencer a população de suas verdades.
No ambiente da telecomunicação é inegável a destacada importância da Rede Globo, em função de seu poderoso canal de televisão que participa, há décadas, do jantar diário em todos os lares brasileiros.
Uma emissora criada na década de 60, a TV Globo dispõe de excelente padrão de qualidade técnica, ainda hoje só superado pelas quatro grandes redes americanas de televisão.
Com a expressiva transformação ocorrida na área da comunicação nestes últimos dez anos, motivada pelo surgimento de novas tecnologias que multiplicaram por diversas vezes a velocidade da informação, e por consequência a necessidade de todos na busca da informação (o resultado direto do fenômeno que ficou conhecido por globalização), o setor tornou-se alvo do interesse de parceiros até então estranhos naquele ninho, grandes grupos multinacionais que foram criados praticamente a partir do nada, mas de olho no potencial econômico dos novos mercados, a exemplo do que ocorreu com o setor de informática durante o período compreendido ente o início dos anos 90 até o estouro da bolha da Nasdaq. Naquela fase ocorreram enormes, fantásticas e inesperadas fusões e aquisições, todas visando um bom posicionamento no inédito mercado de bilhões de potenciais clientes.
Por conta deste novo mundo as empresas nacionais, como que antevendo o perigo iminente, passaram a tentar o controle do conteúdo e da informação na internet, como demonstram os diversos projetos que chegaram ao Congresso Nacional a partir de 2004, todos corretamente recusados – caso fosse aceito o projeto do senador Maguito Vilela, o último a ir a plenário, o país ficaria em condições semelhantes à da China e Coréia do Norte. Mais tarde outra carga, desta vez por meio de projeto dos parlamentares Eduardo Azeredo e Marco Maciel, uma iniciativa que, de tão absurda, não conseguiu que os próprios proponentes fossem defendê-la em plenário.
O perigo iminente supracitado é o fator econômico, pois todas as grandes empresas nacionais de comunicação enfrentam significativos problemas de ordem financeira, fato que as tornam inteiramente incapazes para enfrentar a inevitável cobiça de grandes empresas, naturalmente interessadas por um mercado com potencial superior a cem milhões de consumidores ativos.
Hoje, o setor de comunicação é um dos mais anacrônicos da economia nacional, talvez o único em que existem sérias limitações ao capital estrangeiro, ou seja, está na contramão de tudo o que se observa no momento- um fato interessante, a TV Globo mostrou-se defensora intransigente do capital externo no pré-sal, ou seja, desenvolve um discurso para cada caso, variação que depende apenas do seu próprio interesse e nada mais.
A razão principal da posição francamente tendenciosa ao candidato de oposição (este sempre teve o conivente silêncio daquele grupo em relação aos inúmeros desastres de seu governo em exercício) não era quanto aos destinos do país com uma presidente no comando, mas com a própria segurança, que ocorreria com o candidato amigo conseguindo postergar, por quatro ou mais anos, a inevitável revisão da regulação do setor, a exemplo do que ocorreu recentemente na Argentina; agora, esta bendita e aguardada postergação dificilmente ocorrerá, conforme já declarado pelo vencedor iminente desta eleição.
Quanto à Rede Globo:
1-Demonstra não conseguir interpretar a significativa queda de audiência que vem enfrentando, devido à concorrência de outras emissoras e, principalmente, à agilidade de informação oferecida pela internet, que, através de seus blogs de opinião, recentemente apelidados de 'blogs sujos", fizeram importante contraponto ao noticiário habitual, ao destruir imediatamente as notícias infundadas ou tergiversadas- a revista Veja, por exemplo, parou de lançar o briefing online de sua nova edição, procedimento habitual de todas as revistas, pois sabia que, na quinta-feira à noite, muitas das notícias que viriam na edição de sexta-feira poderiam ser completamente implodidas a partir de fatos concretos, documentos, etc.., ou seja, a última edição já chegaria aos leitores inteiramente desmascarada;
2-Demonstra não conseguir interpretar a ascensão econômica das classes C e D, agora mais libertas daquela fonte de notícias e, por isto, menos assíduas ao plim-plim e cada vez mais assíduas da internet, Twitter e outras telinhas que fornecem informação "just in time";
3-Demonstra não conseguir perceber a redução do acesso verificada nas classes A e B, aparentemente cansados daqueles diversos jornalistas inteiramente esquecidos dos universalmente consagrados princípios da profissão;
4-Demonstra medo, muito medo do assédio dos bilionários grupos que estão a aguardar o rumo dos acontecimentos – o que aconteceu com o jornal O Dia, comprado pelo grupo português Ongoing, pode ser interpretado como um prenúncio, assim como a aquisição integral de sua Net por Carlos Slim;
5-Demonstra não ter gestão corporativa eficiente (em minha opinião, demonstração de desmedida soberba), pois, ao invés de adaptar-se à nova realidade- no governo anterior, com 50% de audiência detinha cerca de 90% das verbas do governo federal, neste, com 45% de audiência detém cerca de 48% daquelas verbas, ou seja, era" subsídio ao vivo e a cores", preferiu "bancar" uma candidatura parceira de seus interesses corporativos, opção que mostrou-se desastrosa.
De agora em diante permanecerá a oposição sistemática ao governo federal- desafio qualquer um a mostrar uma, apenas uma manchete daquele jornal em primeira página inteiramente favorável ao governo atual, isto é, sem nenhuma vírgula, nos últimos quatro anos. Tal atitude estará explicada, é questão de sobrevivência.
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