sábado, 30 de outubro de 2010

Contraponto 3787 - "Vitória de Dilma em debate cauteloso"

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30/10/2010

Vitória de Dilma em debate cauteloso


Tijolaço - 30/10/2010

Brizola Neto

É muito difícil que uma edição mal intencionada nos telejornais possa prejudicar o desempenho de Dilma no debate da Globo. O modelo criado pela emissora deixou os candidatos cautelosos e as respostas não foram muito além do que já vinha sendo dito nos programas eleitorais. mesmo assim, minha opinião é a de que Dilma se saiu significativamente melhor do que Serra.

E recebi uma informação de que isso foi também registrado dos grupos de pesquisa montados pela direção da campanha para avaliar o debate.

É muito bom que tenha sido assim, mesmo que, a esta altura, um empate não tivesse força para interferir nessa eleição e os indecisos nem são tantos assim que pudessem modificar o curso que aponta para a vitória de Dilma, de acordo com todos os institutos de pesquisa. Só o que nos pode ameaçar é algum golpe de mídia – que tem pouco tempo para repercutir – e uma eventual acomodação que tire de nós a iniciativa, a alegria e o empenho na conquista final de cada voto e no clima de confiança que temos de transmitir aos eleitores.

Acho que Dilma foi bem,embora não tenha sido um massacre, que seria possível pela falta de credibilidade que Serra passa e por seu mau desempenho, sobretudo pela incapacidade de dar respostas objetivas. Sobretudo para quem trabalha ou se interessa pelo tema educação, ficou claro que Serra defende modelos privados de gestão na educação pública, que não costumam funcionar e que foram repudiados pelos educadores em São Paulo.

Dilma aproveitou diferentes perguntas para frisar programas do governo Lula importantes para a população, como o “Luz para Todos”, o “Minha Casa, Minha Vida” e o “Bolsa Família”. E também soube rebater Serra quando o tucano levantou falsas questões, como falta de crédito agrícola e a impossibilidade dos pequenos agricultores suportarem os juros. Nesse momento, Dilma expôs com números a elevação do crédito e esclareceu que o juro para o agricultor é subsidiado e nada tem a ver com a taxa real de juros do país.

A questão da corrupção caiu para Serra, o que lhe permitiu falar duas vezes sobre o tema, mas como o eleitor escolhido para a questão era de Brasília, o tucano não se aventurou a críticas exacerbadas com medo que o ex-governador cassado e seu aliado José Roberto Arruda lhe caisse na cabeça. A cautela, aliás, foi a tônica do debate. Serra não atacou como de outras vezes. Dilma também se conteve, mas deu algumas estocadas bem interessantes, sem exageros.

Dilma aproveitou para falar da profissionalização da Polícia Federal e da prisão de peixes grandes em suas operações, o que não acontecia antes no país. Ela também acuou Serra ao lembrar a Operação Sanguessuga, de combate ao desvio de dinheiro público na saúde, que envolveu a gestão do tucano.

Dilma também não perdeu a oportunidade de dar umas estocadas em Serra, como ao discutir política social, ressaltando que “quem cuida de pobre em São Paulo é o governo federal”. Dilma disse que São Paulo tem 1,4 milhão de pessoas em condições de serem atendidas pelo Bolsa Família, e que o governo alcança 1,1 milhão, porque as outras 300 mil não foram cadastradas pelo estado (PSDB) ou pelo município (DEM).

Em relação às condições de trabalho dos professores da rede pública, Dilma destacou que não se pode estabelecer relação de atrito com os professores quando reivindicam melhores salários, tratando-os a cassetete, numa referência direta ao governo de Serra em São Paulo.

Dilma teve um pequeno problema na administração do tempo, muitas vezes não concluindo o raciocínio antes de ser interrompida pelo apresentador. Mas nada que comprometesse o seu desempenho ou a colocasse em desvantagem. E ainda teve o “erro” do cronômetro, que roubou 15 segundos da candidata. Ela soube administrar o protesto com a gentileza e deixou o Bonner descadeirado.

Nas considerações finais, Dilma enfatizou representar o projeto que tem foco principal nas pessoas e não nos números. Aproveitor para lembrar de sua tristeza com as calúnias que sofreu por meio de panfletos e telefonemas, que partiram da campanha de Serra, mas disse não guardar mágoas.

Em entrevista logo a seguir no Jornal da Globo disse esperar ter convencido os indecisos a seu favor. Serra teve a pachorra de falar da importância infundada da alternância no poder, fingindo ignorar que seu partido governa São Paulo há 16 anos.

Resumindo, acho que Dilma, que poderia ter empatado ou perdido de pouco, ganhou inequivocamente.

E vai vencer, no domingo, com a força do povo.
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