quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Contraponto 3672 - "FHC mostra o que está por trás de Serra"

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20/10/2010

FHC mostra o que está por trás de Serra

Direto da Redação - Publicado em 20/10/2010

Mair Pena Neto*

O segundo turno é um bom momento para uma definição clara dos segmentos políticos. Para o lado de Dilma convergiram os setores mais progressistas da sociedade, como artistas, intelectuais, religiosos preocupados com a melhoria de vida do povo e ambientalistas sérios. Serra recebeu apoio de quem já vinha mesmo se inclinando para a direita, como o derrotado candidato a governador do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, e passou a exibir um orgulhoso Fernando Henrique Cardoso, que finalmente pode mostrar a cara. Enquanto isso, Marina Silva, lamentavelmente, ficou em cima do muro. A ex-petista corre o sério risco de se tornar um futuro Gabeira. Sem ligação orgânica com partidos, achando que existe por si só e minguando a cada eleição.

Poderia se dizer que o realinhamento das forças políticas neste segundo turno criou um bloco de centro-esquerda em torno de Dilma e outro bloco de centro-direita, de apoio a Serra. Um fenômeno interessante está sendo observado. O eleitorado de Serra, quieto no primeiro turno, deu as caras agora. Principalmente nas áreas ricas dos grandes centros é possível ver faixas, adesivos em carros e manifestações pró-candidato tucano. O mais sintomático foi a reaparição de Fernando Henrique Cardoso, confirmando que Serra está aí para levar adiante o seu projeto incompleto.

É por isso que o candidato tucano não pode se queixar da volta ao debate do tema das privatizações. Como ministro do Planejamento de FHC, Serra foi o encarregado de acelerar o programa de privatizações e o fez com satisfação. Não só trabalhando para viabilizar a venda de estatais estratégicas, como a Vale do Rio Doce e as elétricas, como empunhando pessoalmente o martelo dos leilões para consagrar o repasse à iniciativa privada de empresas como a Light e a Escelsa.

Acredito que não exista hoje um clima propício a uma privatização da Petrobras, como a tentada pelos tucanos, quando chegaram até a mudar o nome da petrolífera brasileira para Petrobrax, mas o grande risco estaria na mudança de abordagem da exploração do pré-sal. Lula alterou o modelo de exploração, iniciado pelo governo FHC, introduzindo o sistema de partilha, que garante ao governo uma participação maior no negócio. Além disso, criou um fundo social que destinará parte dos recursos oriundos do pré-sal para educação, combate à pobreza, ciência e tecnologia, cultura e meio ambiente.

É essa mudança que está verdadeiramente em risco. O responsável pela área energética da campanha de Serra, David Zylbersztajn, defende o retorno ao modelo de concessão nos blocos do pré-sal e a redução do papel da Petrobras, que pelo novo marco regulatório tem participação mínima assegurada de 30% na áreas a serem licitadas. Zylbersztajn alega que essa obrigatoriedade é um risco e que seria "ruim para o Brasil" ficar preso à capacidade de investimento da Petrobras. O assessor de Serra foi mais além, externando a visão tucana sobre o setor e o papel da Petrobras, ao afirmar que "não tem que existir estatal comprando ou vendendo petróleo."

Serra percebeu o peso da declaração do assessor e procurou minimizá-la dizendo que se tratava apenas da opinião de um técnico. Mas Zylbersztajn é muito mais que um técnico. Ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, foi o principal diretor da Agência Nacional do Petróleo no processo de quebra do monopólio da Petrobras e na licitação de áreas de exploração e produção no país. Zylbersztajn sempre defendeu um tamanho menor da Petrobras para fortalecer a concorrência na exploração de petróleo no país. Sua visão certamente é compartilhada por Serra, que continua escondendo suas verdadeiras intenções.

A vinda de FHC a público ajuda a compreender mais os interesses por trás da campanha de Serra. Expoente do neoliberalismo nos anos 90, o ex-presidente acredita que a redução do tamanho do Estado é o caminho da eficiência e por isso ficou escondido durante todo o primeiro turno, já que o sucesso do governo Lula, aprovado por 80% dos brasileiros, se assentou em princípios opostos.

A volta de FHC é o sinal mais claro de que os velhos princípios neoliberais são representados por Serra. Por um momento, pareceu que o candidato tucano assumiria isso sem problemas no segundo turno. Mas Serra continua sendo um camaleão, que fala em ética e princípios o tempo todo, enquanto acoberta as ações mais espúrias e retrógradas de uma campanha eleitoral, que prosseguem de forma acintosa e ofensiva aos eleitores brasileiros.

PS. A foto mostra José Serra batendo o martelo na privatização da Light.
O segundo turno é um bom momento para uma definição clara dos segmentos políticos. Para o lado de Dilma convergiram os setores mais progressistas da sociedade, como artistas, intelectuais, religiosos preocupados com a melhoria de vida do povo e ambientalistas sérios. Serra recebeu apoio de quem já vinha mesmo se inclinando para a direita, como o derrotado candidato a governador do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, e passou a exibir um orgulhoso Fernando Henrique Cardoso, que finalmente pode mostrar a cara. Enquanto isso, Marina Silva, lamentavelmente, ficou em cima do muro. A ex-petista corre o sério risco de se tornar um futuro Gabeira. Sem ligação orgânica com partidos, achando que existe por si só e minguando a cada eleição.

Poderia se dizer que o realinhamento das forças políticas neste segundo turno criou um bloco de centro-esquerda em torno de Dilma e outro bloco de centro-direita, de apoio a Serra. Um fenômeno interessante está sendo observado. O eleitorado de Serra, quieto no primeiro turno, deu as caras agora. Principalmente nas áreas ricas dos grandes centros é possível ver faixas, adesivos em carros e manifestações pró-candidato tucano. O mais sintomático foi a reaparição de Fernando Henrique Cardoso, confirmando que Serra está aí para levar adiante o seu projeto incompleto.

É por isso que o candidato tucano não pode se queixar da volta ao debate do tema das privatizações. Como ministro do Planejamento de FHC, Serra foi o encarregado de acelerar o programa de privatizações e o fez com satisfação. Não só trabalhando para viabilizar a venda de estatais estratégicas, como a Vale do Rio Doce e as elétricas, como empunhando pessoalmente o martelo dos leilões para consagrar o repasse à iniciativa privada de empresas como a Light e a Escelsa.

Acredito que não exista hoje um clima propício a uma privatização da Petrobras, como a tentada pelos tucanos, quando chegaram até a mudar o nome da petrolífera brasileira para Petrobrax, mas o grande risco estaria na mudança de abordagem da exploração do pré-sal. Lula alterou o modelo de exploração, iniciado pelo governo FHC, introduzindo o sistema de partilha, que garante ao governo uma participação maior no negócio. Além disso, criou um fundo social que destinará parte dos recursos oriundos do pré-sal para educação, combate à pobreza, ciência e tecnologia, cultura e meio ambiente.

É essa mudança que está verdadeiramente em risco. O responsável pela área energética da campanha de Serra, David Zylbersztajn, defende o retorno ao modelo de concessão nos blocos do pré-sal e a redução do papel da Petrobras, que pelo novo marco regulatório tem participação mínima assegurada de 30% na áreas a serem licitadas. Zylbersztajn alega que essa obrigatoriedade é um risco e que seria "ruim para o Brasil" ficar preso à capacidade de investimento da Petrobras. O assessor de Serra foi mais além, externando a visão tucana sobre o setor e o papel da Petrobras, ao afirmar que "não tem que existir estatal comprando ou vendendo petróleo."

Serra percebeu o peso da declaração do assessor e procurou minimizá-la dizendo que se tratava apenas da opinião de um técnico. Mas Zylbersztajn é muito mais que um técnico. Ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, foi o principal diretor da Agência Nacional do Petróleo no processo de quebra do monopólio da Petrobras e na licitação de áreas de exploração e produção no país. Zylbersztajn sempre defendeu um tamanho menor da Petrobras para fortalecer a concorrência na exploração de petróleo no país. Sua visão certamente é compartilhada por Serra, que continua escondendo suas verdadeiras intenções.

A vinda de FHC a público ajuda a compreender mais os interesses por trás da campanha de Serra. Expoente do neoliberalismo nos anos 90, o ex-presidente acredita que a redução do tamanho do Estado é o caminho da eficiência e por isso ficou escondido durante todo o primeiro turno, já que o sucesso do governo Lula, aprovado por 80% dos brasileiros, se assentou em princípios opostos.

A volta de FHC é o sinal mais claro de que os velhos princípios neoliberais são representados por Serra. Por um momento, pareceu que o candidato tucano assumiria isso sem problemas no segundo turno. Mas Serra continua sendo um camaleão, que fala em ética e princípios o tempo todo, enquanto acoberta as ações mais espúrias e retrógradas de uma campanha eleitoral, que prosseguem de forma acintosa e ofensiva aos eleitores brasileiros.

*Mair Pena Neto. Jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia..
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