quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Contraponto 4373 - "Mike Whitney explica o ódio de Washington contra Chávez"

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05/01/2011


Mike Whitney explica o ódio de Washington contra Chávez

Do Viomundo - 5 de janeiro de 2011 às 14:45

Venezuela vs. os Bancos

Why Washington Hates Hugo Chavez [Porque Washington odeia Hugo Chavez]

By MIKE WHITNEY, no Counterpunch

No fim de novembro a Venezuela foi martelada por chuvas torrenciais e enchentes que deixaram 35 pessoas mortas e 130 mil desabrigadas. Se George Bush fosse o presidente, em vez de Hugo Chavez, os desabrigados seriam empurrados sob a mira de armas para prisões improvisadas — como a Superdome – como aconteceu depois do furacão Katrina. Mas esta não é a forma de trabalho de Chavez. O presidente venezuelano rapidamente aprovou “leis habilitantes” que deram a ele poderes especiais para dar ajuda de emergência e moradia para as vítimas das enchentes. Chavez mandou limpar o palácio presidencial e deu moradia nele a 60 famílias, o que seria o equivalente a transformar a Casa Branca em um abrigo para os sem teto. As vítimas do desastre estão agora sendo alimentadas e cuidadas pelo estado até que possam ficar em pé e retornar ao trabalho.

Os detalhes do que Chavez fez foram omitidos pela mídia dos Estados Unidos, onde ele é regularmente demonizado como “autoritário esquerdista” ou ditador. A mídia se nega a admitir que Chavez diminiu a diferença de renda, eliminou o analfabetismo e deu cobertura de saúde a todos os venezuelanos, reduziu a desigualdade e aumentou o padrão de vida para todos. Enquanto Bush e Obama estavam expandindo as guerras externas e aprovando cortes de impostos para os ricos, Chavez estava ocupado melhorando a vida dos pobres e necessitados, ao mesmo tempo em que enfrentava a última onda de agressão dos Estados Unidos.

Washington despreza Chavez porque ele se nega a dar os vastos recursos da Venezuela para as elites corporativas e os banqueiros. É por isso que o governo Bush tentou depor Chavez em um golpe fracassado em 2002 e é por isso que o fala-mansa do Obama continua a lançar ataques clandestinos contra Chavez hoje. Washington quer troca de regime para poder instalar a marionete que dará as reservas de petróleo da Venezuela para o “big oil” [grandes companhias petrolíferas privadas], enquanto transforma em inferno a vida dos trabalhadores.

Documentos recentemente divulgados pelo Wikileaks mostram que o governo Obama aumentou sua interferência nos assuntos internos da Venezuela. Aqui está um trecho de um documento divulgado pela advogada e autora Eva Golinger:

“Em documento secreto de autoria do atual subsecretário assistente de estado para assuntos do hemisfério, Craig Kelly, mandado da embaixada dos Estados Unidos em Santiago em junho de 2007 para o secretário de Estado, a CIA e o Comando Sul do Pentágono, além de uma série de embaixadas dos Estados Unidos na região, Kelly propõe “seis áreas principais de ação para o governo dos Estados Unidos limitarem a influência de Chavez” e “recuperar a liderança dos Estados Unidos na região”.

Kelly, que fez o papel principal de “mediador” durante o golpe do ano passado em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya, classifica o presidente Hugo Chavez como “inimigo” em seu relatório.

“Conheça o inimigo: Temos de entender melhor como o Chavez pensa e o que pretende… para efetivamente enfrentar a ameaça que ele representa, precisamos conhecer melhor seus objetivos e como ele pretende perseguí-los. Isso requer melhor inteligência de todos os nossos paises”. Mais adiante no memorando, Kelly confessa que o presidente Chavez é um “adversário formidável” mas, acrescenta, “ele pode ser derrotado”. (Wikileaks: Documentos confirmam planos dos Estados Unidos contra a Venezuela, de Eva Golinger, no blog Postcards from the Revolution)

Os telegramas do Departamento de Estado mostram que Washington tem financiado grupos anti-Chavez na Venezuela através de organizações não-governamentais que dizem trabalhar pelas liberdades civis, direitos humanos e promoção da democracia. Esses grupos se escondem por trás de uma fachada de legitimidade, mas sua proposta real é a de derrubar o governo democraticamente eleito de Chavez. Obama apoia esse tipo de suversão tão entusiasticamente quanto Bush. A única diferença é que a equipe de Obama é mais discreta. Aqui está outro trecho no qual Golinger detalha o caminho do dinheiro:

“Na Venezuela, os Estados Unidos tem apoiado grupos anti-Chavez por mais de oito anos, inclusive aqueles que executaram o golpe contra o presidente em abril de 2002. Desde então, os fundos foram aumentados substancialmente. Um relatório de maio de 2010 avaliando o apoio estrangeiro a grupos políticos da Venezuela, feito a pedido do National Endownment for Democracy, revelou que mais de 40 milhões de dólares anuais são destinados a grupos anti-Chavez, a maioria através de agencias dos Estados Unidos… A Venezuela se destacou na América Latina como o país que mais recebeu fundos do NED para grupos de oposição durante 2009, com 1 milhão 818 mil e 473 dólares, mais que o dobro do ano anterior… Allen Weinstein, um dos fundadores do NED, revelou ao Washington Post, “o que fazemos hoje era feito clandestinamente pela CIA 25 anos atrás…” (“‘Operações na Sociedade Civil’ clandestinas dos Estados Unidos: Interferência na Venezuela continua a crescer”, Eva Golinger, no site Global Research).

Na segunda-feira, o governo Obama revogou o visto do embaixador da Venezuela em Washington em retaliação à rejeição de Chavez da nomeação de Larry Palmer para embaixador dos Estados Unidos em Caracas. Palmer tem sido abertamente crítico de Chavez e diz que existem ligações claras entre membros do governo Chavez e guerrilheiros esquerdistas da vizinha Colômbia. É uma forma torta de acusar Chavez de terrorismo. Ainda pior, a origem e a história pessoal de Palmer sugerem que a nomeação dele representa ameaça à segurança nacional da Venezuela. Considere os comentários feitos por James Suggett, do site Venezuelanalysis no Eixo da Lógica:

“Olhem a história de Palmer, trabalhando para os oligarcas apoiados pelos Estados Unidos na República Dominicana, Uruguai, Paraguai, Serra Leoa, Coreia do Sul e Honduras, “promovendo o Tratado de Livre Comércio da América do Norte [NAFTA]“. Da mesma forma que a classe dominante dos Estados Unidos indicou um afro-americano, Barack Obama, para substituir George W. Bush e para deixar o resto intacto, Obama, por sua vez, indica Palmer para substituir Patrick Duddy, que se envolveu na tentativa de golpe contra o presidente Chávez em 2002 e que foi um inimigo dos venezuelanos no período em que foi embaixador dos Estados Unidos na Venezuela”.

A Venezuela já está cheia de espiões e sabotadores dos Estados Unidos. Eles não precisam da ajuda da embaixada. Chavez fez a coisa certa ao fazer sinal negativo para Palmer. Além disso, Chavez desprovou as acusações espúrias de Palmer na semana passada, quando extraditou o comandante da ELN, Nilson Albian Teran Ferreira, o Tulio, para a Colombia, “a primeira extradição de um guerrilheiro colombiano para seu país”. A notícia não saiu na mídia ocidental (porque prova que Chavez não apoia os grupos paramilitares que operam na Colômbia).

A nomeação de Palmer não é “mais do mesmo”; mais interferência, mais subversão, mais problemas. O Departamento de Estado foi largamente responsável pelas assim-chamadas revoluções coloridas na Ucrânia, Líbano, Georgia e Quirguistão etc.; todas foram armações feitas para a TV, que colocaram de um lado os interesses de ricos capitalistas contra os de governos eleitos. Agora a turma da Hillary quer tentar a mesma estratégia na Venezuela. É papel do Chavez evitar isso, razão pela qual ele aprovou uma lei para “regulamentar, controlar ou proibir o financiamento estrangeiro de atividades políticas”. Enfrentar as ONGs é a única forma de se defender contra a interferência dos Estados Unidos e proteger a soberania venezuelana.

Chavez também está usando seus novos poderes para reformar o setor financeiro. Aqui está um excerto de um artigo intitulado “Assembleia Nacional venezuelana aprova lei fazendo dos bancos um ’serviço público’”:

“A Assembleia Nacional da Venezuela na sexta-feira aprovou legislação que define a indústria bancária como ’serviço público’, requerendo que os bancos contribuam mais para os programas sociais, a construção de moradias e outras necessidades sociais, tornando mais fácil a intervenção do governo quando os bancos não cumprirem as prioridades nacionais. A nova lei protege os bens dos clientes dos bancos no caso de irregularidades cometidas pelos donos… e estipula que o Superintendente de Instituições Bancárias considere o interesse dos clientes — não apenas dos acionistas… quando tomar decisões que afetem as operações bancárias”.

Então por que Obama não está fazendo o mesmo? Ele tem medo de qualquer mudança real ou é um lacaio de Wall Street? Aqui, mais um pouco do mesmo artigo:

“Numa tentativa de controlar a especulação, a lei limita a quantidade de crédito que pode ser dado a indivíduos ou entidades privadas ao fixar 20% como o máximo total de seu capital que o banco pode emprestar. A lei também limita a formação de grupos financeiros e proíbe os bancos de ter participação em corretoras ou empresas de seguros. A lei também estipula que 5% dos lucros brutos dos bancos devem ser dedicados a projetos elaborados pelos conselhos comunais; 10% do capital do banco deve ser colocado em um fundo para pagar salários e pensões em caso de falência. De acordo com dados de 2009 da Softline Consultores, 5% dos lucros brutos da indústria bancária da Venezuela no ano passado equivaleriam a 314 milhões de bolivares, ou 73,1 milhões de dólares, para programas sociais para atender as necessidades da maioria pobre da Venezuela”.

“Controlar especulação?” Aí está uma boa ideia. Naturalmente, os líderes da oposição chamaram as novas leis de “um ataque contra a liberdade econômica”, mas isso é pura besteira. Chavez está meramente protegendo o público das práticas predatórias dos banqueiros sedentos de sangue. A maioria dos americanos desejaria que Obama fizesse o mesmo.

De acordo com o Wall Street Journal, “Chávez ameaçou expropriar os grandes bancos no passado se eles não aumentassem os empréstimos para pequenos negócios e compradores de casas; desta vez está aumentando a pressão publicamente para mostrar preocupação com a falta de moradias para 28 milhões de habitantes da Venezuela”.

Caracas sofre de uma maciça falta de moradias que se tornou ainda pior por causa das enchentes. Dezenas de milhares de pessoas precisam de abrigo, razão pela qual Chavez está colocando pressão nos bancos para emprestar. Naturalmente, os bancos não querem ajudar, por isso estão no modo-bebê-chorão. Mas Chavez descartou a choradeira e os colocou “sob aviso”. De fato, na terça-feira, ele deu um alerta direto:

“Qualquer banco que escorregar… vou expropriá-lo, seja o Banco Provincial, o Banesco ou o Banco Nacional de Crédito”.

Bravo, Hugo. Na Venezuela de Chavez as necessidades básicas das pessoas comuns e trabalhadoras tem precedente sobre os lucros dos banqueiros. É surpresa que Washington o odeie?
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