O anti-Juracy. O novo ministro da Defesa jamais diria
"o que é bom para os EUA é bom para o Brasil".
Foto: Antonio Cruz/ABR
"o que é bom para os EUA é bom para o Brasil".
Foto: Antonio Cruz/ABR
Da Carta Capital - 12 de agosto de 2011 às 10:10h
Mauricio Dias
Já é possível traçar um retrato do novo ministro da Defesa, Celso Amorim, ainda que seja um ministro jovem no cargo. Jovem de poucos dias.
Na Defesa, Amorim ganhou muito mais visibilidade do que tinha nos longos anos que comandou o Itamaraty.
Funções distintas, ações distintas. Mas Amorim não retocou a forma de agir. Firme, sem ser rude, objetivo, embora diplomático, exercitou agora essas virtudes sob o fogo das críticas mais estapafúrdias. Chegaram mesmo a plantar notícias de reações nos quartéis, inventadas, em geral, por oficiais de pijama. Daqueles que reagem ao perceber que a grama já cresce à porta da casa deles.
Amorim tem mesmo vários pontos que desagradam ao establishment nacional e internacional. Isso ficou claro com o foco das perguntas ao longo das entrevistas que concedeu. Isso é atacado por argumentos tacanhos e genéricos, por se tratar de ideologia. Posições políticas contrárias às de Amorim não são ideológicas? Existiria no mundo alguém que comentasse qualquer coisa a partir de uma visão não ideológica?
Foram resgatar, por exemplo, artigos escritos por ele em CartaCapital, onde ele teria exercitado “ideias mais à esquerda”.
Nesse período, exerceu o papel de um articulista livre, sem compromissos. Isto é, sem as amarras das funções públicas e, assim, apresentou discordância com a decisão do governo Dilma de apoiar a resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que instituiu um relator especial para o Irã.
Amorim, já fora do cargo e em conversas informais, explicou que era uma discordância pontual, reafirmou apoio ao chanceler Antonio Patriota e pontuou também que os dois trabalharam juntos por 15 anos. Isso gerou uma relação de absoluta confiança.
O chanceler Amorim jamais tiraria os sapatos no aeroporto Kennedy, em Nova York, por exigência do protocolo imperial da segurança norte-americana. Um ritual humilhante obedecido, por exemplo, pelo ex-chanceler tucano Celso Lafer.
Em artigo escrito para CartaCapital, embora tenha atacado o preconceito ocidental contra os países islâmicos, que, segundo ele, levou à execução de Saddam Hussein, no Iraque, ressalvou: “Não sejamos inocentes. Interesses econômicos e políticos motivaram a decisão de atacar o Iraque”.
Amorim é o anti-Lafer.
Como ministro da Defesa, Celso Amorim também desarmou várias armadilhas contidas nas perguntas que respondeu ao longo das últimas entrevistas. Uma das indagações transmitia o sentimento contra a presença de um diplomata à frente da função recém-assumida. Teria sido formulada por “um oficial”, conforme foi relatado pela repórter porta-voz: “E se fosse um general mandando no Itamaraty?”
“Já houve ministro militar: Juracy Magalhães”, respondeu Amorim.
Ele pôs o ponto final da resposta no momento certo. Diplomaticamente. Poderia, no entanto, ter exposto o verdadeiro caráter da pergunta do oficial guarnecido pelo anonimato. A razão de Amorim talvez esteja no contexto político em que Juracy atuou. General da reserva, ele foi chanceler do também general Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura. Foi então que formulou o lema inscrito hoje na bandeira do servilismo: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Amorim é o anti-Juracy.
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