Da Carta Maior - 14/08/2011
Os ministros de Economia e presidentes de bancos centrais da União Sulamericana de Nações acertaram a criação de um Conselho Sulamericano de Economias e Finanças, cujo objetivo será a elaboração de mecanismos que permitam enfrentar a crise econômica mundial e mitigar seu efeito na região. Entre as propostas, estão a criação de um fundo comum de reservas, estimular a desdolarização, impulsionando uma moeda comunitária para o comércio intrarregional, fortalecer a Corporação Andina de Fomento e acelerar a criação do Banco do Sul. A reportagem é de Francisco Luque, correspondente da Carta Maior em Buenos Aires.
Francisco Luque - Correspondente da Carta Maior em Buenos Aires
Os ministros de Economia e presidentes de bancos centrais da União Sulamericana de Nações (Unasul) acertaram sexta-feira, em Buenos Aires, a criação de um Conselho Sulamericano de Economias e Finanças, cujo objetivo será a elaboração de mecanismos que permitam enfrentar a crise econômica dos países centrais e mitigar seu efeito na região.
As medidas acordadas foram anunciadas pelo ministro de Economia argentino, Amado Boudou, e pela secretária geral da Unasul, Maria Emma Mejía. Esta nova engenharia econômica consiste na criação de grupos de trabalho integrados que permitam avançar em temas como a criação de um fundo comum de reservas para auxiliar os países sob o efeito da crise, estimular a desdolarização, impulsionando uma moeda comunitária para o comércio intrarregional, enfatizar o fortalecimento da Corporação Andina de Fomento (CAF) e acelerar a criação do Banco do Sul.
O bom semblante das autoridades dava conta dos bons resultados das reuniões realizadas no exclusivo Hotel Alvear, no bairro La Recoleta. No entanto, a demora na entrega final do documento dava conta de um fato significativo: as diferenças ideológicas e de enfoque nas políticas econômicas que existem entre os países da Unasul. Sobre isso, o vice-ministro de Economia argentino, Roberto Felletí, assinalou que “muitos dos países que sentiam saudades do neoliberalismo hoje revisam suas posições e apostam em um bloco regional como o defendido por Argentina e Brasil”.
Para este conselho econômico, a elaboração de mecanismos de coesão entre os países baseia-se nos pontos de encontro entre as economias regionais e suas capacidades de manter importantes taxas de crescimento da produção e do emprego. “A fortaleza econômica incluída a solvência fiscal e a solidez das políticas sociais, monetárias e fiscais anti-cíclicas em um marco de estabilidade. Um alto crescimento sustentado e desenvolvido com trabalho e inclusão social. Nestas circunstâncias, nossa região encontra-se melhor preparada para enfrentar conjunturas internacionais adversas”, assinala o comunicado oficial.
Para o conselho, a crise financeira iniciada pelos países desenvolvidos em 2008 continua sem solução, por isso a desconfiança com as políticas econômicas dos países que a geraram, sobretudo com sua capacidade de crescer e gerar emprego, e manter a dívida sob critérios sustentáveis.
Entre as medidas adotadas está a de trabalhar para viabilizar medidas de cooperação técnica no que diz respeito ao manejo e mobilização das reservas internacionais. Impulsionar o uso de moedas da região em transações comerciais intrarregionais para incentivar e aprofundar os processos de integração.
Em relação ao banco do Sul, os países membros concordaram em acelerar seu lançamento conscientes da necessidade de um instrumento de financiamento de longo prazo e fizeram um chamado para aprovar esta iniciativa cujo propósito é consolidar o processo de integração regional, coesão social e soberania econômica e financeira.
Para o analista Roberto Valencia, a coordenação dos países da Unasul é uma proposta interessante que poderia materializar-se e gerar benefícios, sempre e quando as medidas sejam transparentes e oportunas, sobretudo no reflexo das cifras macroeconômicas de cada país. “Não é um processo fácil conhecendo as lacunas na informação financeira que alguns governos entregam. Parece-me conveniente ter boas e transparentes relações de comércio exterior e que o mecanismo de solução de controvérsias seja eficiente. Um acordo sério beneficiaria um comércio justo e responsável entre os países da zona, como por exemplo, o apoio ao desenvolvimento de projetos produtivos envolvendo microempresas”.
As propostas do Conselho Econômico serão apresentadas em 60 dias durante a próxima cúpula extraordinária da Unasul.
Movimentos sociais pedem maior participação
Movimentos sociais e trabalhadores da América Latina divulgaram um documento dirigido aos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais dos países da Unasul, reunidos sexta-feira em Buenos Aires. Neste documento, fazem um chamado para a adoção de medidas efetivas de proteção do patrimônio e da riqueza erada na região da ação depredadora, especulativa e saqueadora do sistema econômico-político dominante.
O comunicado foi subscrito por diversas organizações sociais e personalidades como o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, que lamentou que a instituição Unasul relute tanto em abrir a participação à cidadania, que há tempos pede o funcionamento do Banco do Sul e as auditorias das dívidas externas, tal como está fazendo o Equador. O texto afirma:
“É imprescindível superar a demora na criação do Banco e que o mesmo tenha uma lógica de funcionamento distinta da do Banco Mundial, do BID e de outros organismos internacionais que ajudaram a provocar a atual crise alimentar, ecológica, energética e econômica. Uma auditoria integral das dívidas, como já foi feito em alguns países da região, é também necessária para por fim aos crimes e a impunidade do poder financeiro que hoje está fazendo balançar os países centrais, mas que há quatro décadas vem determinando a vida e morte de nossos povos”.
A petição também apoia algumas das iniciativas na mesa do flamante Conselho Sulamericano, como o controle coordenado dos movimentos especulativos de capitais, a criação de um sistema regional de reservas e a proteção dos direitos econômicos e sociais da população como eixo da integração produtiva e comercial.
“É hora de a região avançar na direção de uma transformação profunda do sistema econômico, na base de uma integração baseada no bem estar dos povos e na natureza”, enfatizou Nora Cortiñas, das Mães da Praça de Maio – Linha Fundadora.
Tradução: Katarina Peixoto
Fotos: Página/12
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