02/11/2011
Da Carta Maior - 02/11/2011
Para Damian Loreti, da Universidade de Buenos Aires e integrante da comissão que elaborou a chamada “Ley de Medios”, receita de sucesso argentina contou com um bom projeto, mobilização da sociedade e vontade política. No Brasil, governo federal já recebeu sugestões da sociedade civil, que agora aguarda finalização do projeto e início das consultas públicas.
Marcel Gomes
São Paulo – Um bom projeto, mobilização da  sociedade e vontade política do governo. Esses foram os três itens que  permitiram à Argentina aprovar, em 2009, um novo marco regulatório para a  comunicação, superando a lei de 1980, promulgada em plena ditadura  militar. A avaliação é do professor Damian Loreti, da Faculdade de  Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, e integrante da  comissão que elaborou a chamada “Ley de Medios”.
“É difícil dar  alguma sugestão ao Brasil, mas a experiência argentina indica que  projeto, mobilização e vontade política formam o caminho do sucesso”,  respondeu ele, ao ser questionado sobre sua visão acerca da dificuldade  de o debate avançar no Brasil. “Na Argentina, todo o processo também foi  complicado, houve muita disputa e até hoje há discussões na Justiça,  mas precisamos ter em conta que é dever do Estado promover a pluralidade  da comunicação”, disse o professor, que esteve no Brasil semana passada  para participar do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu.
Há  quinze dias, o ministro das Comunicações brasileiro, Paulo Bernardo,  recebeu uma série de propostas sobre o marco regulatório da mídia,  apresentadas pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação  (FNDC). Muitas das sugestões têm como base os debates da 1ª Conferência  Nacional de Comunicação, de 2009. O FNDC reclamava de falta de  negociação por parte da administração Dilma. O governo, agora, precisa  apresentar o projeto concluído e colocá-lo em consulta pública.
Segundo  Damian Loreti, a lei argentino está baseada na criação de três tipos de  controladores de serviços audiovisuais: os estatais, os privados com  fim de lucro, e os privados sem fim de lucro. Enquanto os entes estatais  ficam com uma freqüência de FM, AM e tevê aberta cada, os entes sem fim  de lucro ficam com 33% do total, e os entes privados com fim de lucro  com todo o restante. Há regras para evitar a concentração de sinais nas  mãos de um mesmo grupo, e cotas de produção nacional para serem  seguidas.
O projeto foi preparado com amplo debate público,  explica o professor. No início, foram realizados durante seis meses  debates em universidades argentinas, e 800 pessoas colaboraram.  “Tínhamos uma regra de que cada um podia falar por sete minutos. No  final, 161 modificações foram feitas no texto, que acabou apresentado ao  Congresso em 2007”, recorda-se Loreti, lembrando que o DNA da “Ley de  Medios” está na plataforma de 21 pontos criada em 2004 por movimentos  sociais e acadêmicos que desejavam trazer mais pluralismo ao país após a  grande crise econômica no início dos anos 2000.
Para Martín  Becerra, diretor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade  Nacional de Quilmes, de Buenos Aires, além da lei audiovisual, as novas  mídias sociais também colaboram para a democratização da comunicação na  Argentina. “A pluralidade é muito grande na blogosfera, tanto de grupos a  favor como contra o governo”, diz ele, que mantém o blogue mbecerra.blog.unq.edu.ar.
Apesar  das “fraturas” da sociedade, que não permite que todos os argentinos  tenham acesso à internet, Becerra vê no país um processo semelhante ao  do início da década de oitenta, quando as rádios FMs se disseminaram.  Ele alerta, porém, que a comunicação virtual sofre de um processo de  “endogamia”, em que as opiniões são polarizadas e aqueles com visões  parecidas se aproximam. “Ainda assim, há muito mais pluralidade na rede  do que na mídia convencioal”, diz ele, que também esteve no Brasil para  participar do 1º Encontro Mundial de Blogueiros.

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