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28/07/2012
Do Blog Cidadania - 27/07/12
Eduardo Guimarães
Escrevo a seis excruciantes dias do início de um julgamento que a mídia decidiu que nem precisaria ocorrer, pois trata a todos os réus como culpados e jamais se viu uma única concessão sua à mera possibilidade de que tal juízo tenha um desfecho diferente daquele que demonstra claramente que deseja.
Neste dia, por mais uma entre incontáveis vezes, vi uma charge na grande imprensa em que o autor pretendeu representar os réus do mensalão como culpados indubitáveis – escondidos embaixo de uma cama, expressavam medo de ser julgados.
Refleti que aquele desenho (charge) resumiu a forma como a imprensa tratou um caso do qual prever o resultado nunca foi tão simples. E, sobre o qual, jamais se especulou muito sobre o que decorreria dos seus variados desfechos possíveis.
Alguém já se perguntou o que ocorrerá após o julgamento do mensalão? Como será se todos os réus forem condenados? E, claro, como será se parte deles ou – no limite do improvável – se todos eles forem absolvidos? Que implicações políticas e até institucionais podem decorrer desta ou daquela decisão?
Em ao menos um dos resultados possíveis o que se prevê é que não haverá espaço para questionamento da decisão do Supremo Tribunal Federal. Sobretudo da decisão nesse caso que é a mais aguardada, sobre José Dirceu. Caso sejam condenados todos os que a mídia quer, estará instituída uma condenação não dos envolvidos no caso, mas de um partido político e da era Lula como um todo, por mais maluca que seja essa linha de pensamento.
Restará, claro, combinar com os russos, ou seja, com o povão. A mídia espera que este, então, venha finalmente a entender que o governo Lula foi, sim, tudo aquilo que essa mídia e a oposição, em uníssono, sempre disseram que foi. E é aí que a porca entorta o rabo, pois não seria exagero prever que, se as condenações ocorrerem, o povo não vai deixar de votar em Dilma em 2014.
Por outro lado, a possibilidade da qual a mídia e a oposição não querem nem ouvir falar, mas que existe, teria um resultado cataclísmico para esse conclave antipetista, antilulista e, não se enganem, antidilmista: a absolvição seria muito mais danosa para a oposição e a mídia do que a condenação dos “mensaleiros” seria para o PT.
Até porque, o resultado que mais importa à mídia, a condenação de Dirceu, se não ocorrer desmontará a tese de pagamento de mesada do governo a deputados, enterrando, assim, o mensalão. Mesmo que outros réus sejam condenados, não se poderá dizer que havia um esquema de corrupção institucionalizado no governo Lula.
Para ambos os lados – oposição e mídia de um lado e PT do outro –, portanto, o julgamento que começa na próxima quinta-feira poderá mudar grande parte de seus planos.
O PT continuará governando e poderá usar o bem-estar social para arrefecer a memória popular. Claro que colherá um grande prejuízo eleitoral neste ano, mas a vida continuará. Já a mídia, fica difícil imaginar o que dirá além da previsível acusação ao STF de que amaciou para os poderosos, o que é uma bobagem pois os réus do mensalão e o governo não têm qualquer poder de intimidação daquela Corte.
Todavia, como mídia e oposição vêm alardeando um resultado inexorável de condenação ampla, geral e irrestrita dos adversários políticos – o que, de certa forma, referenda a tese de que esse conclave confia na decisão do STF a seu favor – agora será difícil explicar o que deu errado. A isso, alie-se o bem-estar social – que continuará sendo despejado em qualquer hipótese – e pode-se prever um golpe fatal para o oposicionismo verde-amarelo.
E, para não dizerem que não falei de flores, a previsão deste blogueiro é a de que haverá condenações, sim, mas não de todos os réus e muito menos daquele que o conclave oposicionista PRECISA que seja condenado de qualquer jeito. Até o fim de agosto saberemos quem tem razão.
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