26/07/2012
O Lobby do celular
Do Contexto Livre - 23/7/2012
Guilherme Scalzilli
Notem como a imprensa corporativa se esforça para suavizar os danos à imagem das operadoras de telefonia móvel depois da punição da Anatel. Chega-se ao cúmulo de culpar o governo federal pelo sistemático desrespeito que as empresas reservam para seus clientes. Agora, coitadas, elas são vítimas da agência.
Esse comportamento se deve apenas em parte ao ranço oposicionista das redações. É importante lembrar que as teles estão entre os maiores anunciantes da grande mídia, nos mais diversos formatos e suportes. Elas fazem parte de um grupo de investidores pesos-pesados (junto com bancos, provedores de internet, companhias aéreas, planos de saúde) que, mesmo encabeçando as listas de reclamações dos consumidores, desfrutam os misteriosos pruridos de condescendência do bravo jornalismo investigativo. O limite das denúncias é o bom andamento dos negócios.
Não que a Anatel seja imune a críticas. A escandalosa incompetência dos seus atendentes e analistas produz anomalias que a má formação profissional é incapaz de explicar sozinha. A agência tem sido no mínimo omissa diante de flagrantes irregularidades praticadas por prestadoras dos serviços a ela submetidos, endossando precedentes de óbvia ilegalidade que lesam milhões de usuários. As vendas casadas e a propaganda enganosa das concessões de TV a cabo são exemplos corriqueiros, entre muitos, de abusos chancelados pelo órgão.
Se o caos da telefonia atingiu um ponto que ultrapassa até mesmo a inflexível tolerância estatal, podemos imaginar o verdadeiro quadro da situação. Mas não convém esperar que ele ocupe as primeiras páginas. O país vive à beira do colapso numa área que se tornou símbolo da privataria tucana e do pretenso legado neoliberal modernizador dos anos FHC. O lobby da telefonia esconde, portanto, mil tentáculos tenebrosos.
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