16/07/2012
Enviado por luisnassif, seg, 16/07/2012 - 07:29
Por Vinicius Carioca
Do Huffington Post
Laços Iraque-Irã ficam mais fortes à medida que o Iraque renasce das cinzas
WASHINGTON – Na corrida para a Guerra do Iraque, falcões neoconservadores dentro e for a da administração Bush prometeram que a invasão Americana transformaria rapidamente aquele país num forte aliado, uma democracia árabe modelo e um dos principais produtores de petróleo que reduziria os preços mundiais, mesmo enquanto pagando pela sua própria reconstrução.
"Um novo regime no Iraque serviria como um exemple dramático e de inspiração de liberdade para outras nações da região," disse o presidente George W. Bush plateia no American Enterprise Institute em 2003, poucas semanas antes de lançar o ataque.
Depois de dez anos sangrentos e penosos, o Iraque finalmente emerge de suas ruínas e se estabelece como um player geopolítico no Oriente Médio – mas não do jeito que os neocons previram.
Apesar de tecnicamente ser uma democracia, o vacilante governo vacilante do Iraque degenerou-se numa quase ditadura cambaleante. Os custos da guerra (mais de $800 bilhões) e da reconstrução (mais de $50 bilhões) têm sido assombrosamente altos. E enquanto o Iraque está finalmente produzindo petróleo nos níveis de pré-guerra, está usando seu melhor para elevar os preços do petróleo ao máximo possível.
O mais perturbador para muitos especialistas em politica externa americanos, entretanto, é a relação extremamente próxima do Iraque com o Irã. Hoje, o país que foi previamente o rival mortal do Irã é seu mais forte aliado.
"Essas são as consequências maravilhosas de nossa intervenção – e o seu brilho é realmente alucinante," disse Chas Freeman, um estudioso em Oriente Médio e crítico dos neoconservadores. "A extensão na qual o Iraque se tornou um colaborador ativo do Irã ...é, de fato, muito notável."
Os Estados Unidos estão liderando um intense esforço internacional para pressionar o Iran a conter seu programa nuclear. Em janeiro, a União Europeia concordou em juntar-se aos EUA no embargo ao petróleo Iraniano, o qual entrou em vigor esse mês.
Ao invés de ajudar os EUA nesses esforços, contudo, o Iraque está fazendo bem o oposto. O Iraque tem sido um crítico das sanções americanas contra o Irã, e alguns temem que ele possa ajudar seu vizinho a evitar as penalidades transportando mercadorias através de sua fronteira comum.
Outro objetivo principal da administração Obama no Oriente Médio é remover o regime opressivo de Bashar al-Assad da Síria. "Para o bem do povo sírio, é tempo do presidente Assad se afastar," disse o presidente Barack Obama em agosto do último ano.
Mas novamente, o Iraque está trabalhando com objetivos opostos aos EUA, condenando os esforços para derrubar Assad e deixando o Irã usar seu espaço aéreo pra enviar armas ao governo de Assad.
De fato, alguns estudiosos em Oriente Médio predizem o nascimento de um eixo xiita Irã-Iraque-Síria, que poderia desafiar a Arábia Saudita e outros estados sunitas do Golfo Pérsico pelo controle da região.
A MINGUANTE INFLUENCIA DOS EUA
Neoconservadores junto à administração Bush imaginaram que a pós-invasão do Iraque serviria como uma plataforma para o poderio militar americano na região. Os EUA construíram cerca de uma dúzia de bases aéreas enormes, a um custo de aproximadamente $2.4 bilhões, completas com longas pistas de pouso, fortificações massivas e todos os confortos de uma casa. Elas claramente tinham a intenção de permanecer.
Eles também se destinavam a manter a influência americana. A gigantesca embaixada Americana em Bagdá – um complexo altamente fortificado do tamanho da cidade do Vaticano – é de longe a maior que o mundo já viu até agora, e, a um custo de quase três quartos de um bilhão de dólares para ser construída, a mais cara.
Mas mesmo antes do fim da presidência de George Bush, os iraquianos insistiram em estabelecer um prazo para a partida das tropas americanas. E quando Obama cumpriu aquele prazo no final de 2011, o Departamento de Defesa também teve que deixar para os iraquianos todas aquelas bases militares elaboradas.
O Departamento de Estado finalmente reconheceu que precisa diminuir sua presença diplomática no Iraque. Brett McGurk – cuja nomeação para ser o próximo embaixador Americano em Bagdá descarrilou pela divulgação de alguns e-mails picantes – falou sem rodeios na sua audiência de confirmação em junho.
"Francamente, nossa presença no Iraque agora está muito grande," ele disse. "Também não há proporcionalidade entre nosso tamanho e nossa influência. De fato, nós gastamos muito capital diplomático simplesmente para sustentar nossa presença."
O principal beneficiário dessa colossal perda de influencia americana no Iraque tem sido o Irã.
Os dois países compartilham uma longa e algumas vezes tortuosa história. Sua ligação mais forte deriva das populações que são majoritariamente membros do ramo xiita do Islã, ao invés do ramo sunita, que é mais comum nos outros países árabes. Os clérigos xiitas que são tão influentes em ambos os países frequentemente viajam entre os dois, bem como compartilham origens semelhantes sendo frequentemente relacionados por sangue.
Mas as divisões étnicas dos dois países – os Iranianos são Persas, enquanto a maioria dos Iraquianos é árabe – e seus nacionalismos ferozes foram explorados por Saddam Hussein, um sunita, que tornou o Iraque num baluarte contra o Irã, indo tão longe ao ponto de lançar uma guerra de oito anos contra o Irã em 1980 que custou as vidas de até um milhão de soldados.
Quando os EUA derrubaram Saddam e purgaram seus leais partidários do governo e dos militares, o Irã entrou em cena, oferecendo suporte tanto para os líderes xiitas que trabalhavam com os EUA para formar um novo governo, quanto para as milícias xiitas que estavam lutando contra os EUA durante a ocupação.
O atual presidente iraquiano, Nouri al-Maliki, é particularmente dependente do Irã devido a influência política, religiosa e comercial que este exerceu em seu favor – mais recentemente em junho, quando a coalizão dominante de Maliki quase se desfez mais uma vez.
Na medida em que a luta política interna no Oriente Médio é fundamentalmente entre iranianos xiitas e sauditas sunitas, é claro para os sauditas com quem a lealdade iraquiana está. "Ele é um agente iraniano," disso o rei saudita Abdullah sobre Maliki em uma conversa em março de 2009 com oficiais americanos documentada em um relatório obtido pelo Wikileaks.
Maliki tem "aberto a porta para a influência iraniana no Iraq" desde que chegou ao poder, disse o rei.
Maliki ainda tem alguns incentivos para evitar que a relação com os EUA U.S. se esfrie totalmente. O Departamento de Estado ainda planeja gastar aproximadamente $5 bilhões no ano fiscal de 2013 no Iraque, metade disso para manter sua embaixada. O Iraque também precisará da ajuda americana para operar os 36 F-16’s pesadamente armados que foram comprados recentemente, e também tem projetos de compra de outros armamentos modernos.
Mas Maliki e outros líderes iraquianos "compreendem que os EUA virão e que os EUA irão," disse Jamsheed Choksy, um professor de estudos iranianos da Indiana University.
"As pessoas na região sabem que eles não podem contar com os EUA no longo termo," ele disse. "Se você é um politico xiita, você precisa do Irã."
A MOEDA DO REINO
A produção de petróleo do Iraque está crescendo, finalmente fazendo deste um dos principais fornecedores mundiais novamente. Todo esse petróleo adicional no mercado é amplamente visto como um golpe no Irã, porque ele irá ajudar a preencher qualquer queda causada pelo boicote ao petróleo Iraniano.
Mas com risco de limitar sua própria produção, o Iraque está apoiando o Irã o tanto quanto pode também na área de petróleo.
Historicamente, houve uma divisão no grupo de produtores de petróleo da OPEP entre falcões do preço, como a Venezuela e a Argélia, que querem elevar o custo do petróleo ao máximo possível, e estados do golfo como a Arábia Saudita, que querem manter os preços moderados.
Na reunião mais recente da Opep, o Iraque usou sua nova influência para tentar levar elevar os preços – ficando ao lado do Irã contra os sauditas. Ele também apoiou uma proposta para que a Opep proteste oficialmente as novas sanções contra o Irã.
Ambas tentativas falharam, mas alguns observadores acham que o Iraque poderia ajudar o Irã a desafiar as sanções de outras maneiras.
"Resta ver se os EUA tem influência suficiente no Iraque para preveni-lo de servir como um canal de petróleo para o Irã," Choksy disse.
"Eles poderiam, caso quisessem – e eles nunca divulgariam isto – levar o petróleo iraniano pela fronteira em caminhões pipa, misturá-lo ao petróleo iraquiano, e enviá-lo para fora ao mercado como petróleo iraquiano," disse Gary Sick, um estudioso sênior do Columbia University's Middle East Institute. (O Irã fez recentemente isso pela Síria, quando a mesma encarou um embargo a sua exportação de petróleo, mas precisava de dinheiro.)
A vasta, não patrulhada fronteira do Iraque com o Irã poderia também ser um canal principal para mercadorias ilícitas, tornando outras sanções ineficazes.
AMIZADE TEM SEUS LIMITES
Por mais significante que seja a aliança entre Iraque e Irã, entretanto, ela pode não durar.
"O Irã está muito melhor hoje com o Iraque do que jamais esteve com Saddam no poder – não há comparação; mas isso nçao significa que o Iraque seja um estado cliente que acata as ordens do Irã," Sick disse.
"Você tem um governo [em Bagdá] cuja visão de mundo é, em geral, alinhada com aquela de Teerã," disse Michael Eisenstadt, um associado sênior do Washington Institute for Near East Policy. Mas, ele disse que líderes iraquianos são inflexivelmente contrários ao tipo de governo clerical que eles veem no Irã.
"O Irã não pode ditar para o Iraque," disse Reidar Visser, um pesquisador associado do Norwegian Institute of International Affairs que possui um website sobre a política iraquiana. "Xiitas iraquianos ainda veem seus interesses como sendo bem distintos dos xiitas iranianos."
Sick pensa que a aliança Irã-Iraque poderia se desfazer por causa do petróleo, especialmente se o embargo prejudicar demais o Irã. "O interesse nacional iraniano seria retirar o petróleo do mercado" para que os preços subissem, prejudicando as economias ocidentais, disse Sick. "Mas o Iraque está, de fato, se preparando para jogar o jogo do petróleo. Eu vejo isso como um potencial conflito de interesses nacionais diretos."
Os neoconservadores, por sua vez, continuam a manter as esperanças. Do alto da nova sede da Foreign Policy Initiative, o diretor executivo Jamie Fly diz que "ainda não está claro" onde o Iraque vai terminar.
"Eu não creio que seja uma completa quebra do que foi prometido," ele disse. "Eu acho que é provavelmente ambíguo neste ponto, em termos de como o Iraque se desenvolveu como um player regional."
Fly também culpou a retirada das tropas pela administração Obama por muitas das falhas do Iraque. "O problema é que a presente administração baixou os braços, e nós temos minado nossa própria habilidade de ajudar a garantir que o Iraque permaneça numa trajetória positiva," ele disse.
"Minha preocupação acerca de alguma influência do Irã e do papel que o Iraque pode ou não exercer, vis-à-vis a Síria, é em grande parte devido a não termos mais uma presença militar por lá, e isso enfraqueceu nossa mão e limitou nossa habilidade de assegurar que ele não seja atraído ainda mais para a órbita de Teerã," disse Fly.
Prever o que acontecerá no Iraque é quase impossível. Em nenhum cenário virtual, entretanto, as coisas se comportam da maneira que os neocons planejaram.
"Qualquer que tenha sido a intenção [da guerra], a qual nunca foi completamente esclarecida, ela não funcionou muito bem," disse Freeman, "e, de fato, o Iraque continua a evoluir de maneiras que são, senão fatais aos interesses americanos, certamente negativas."
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Dan Froomkin é correspondente senior do The Huffington Post em Washington.
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