sábado, 25 de outubro de 2014

Contraponto 15.148 - "A derrota da mídia nazista na eleição como sinal de novos tempos, por J. Carlos de Assis"

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25/10/2014

A derrota da mídia nazista na eleição como sinal de novos tempos, por J. Carlos de Assis



 J. Carlos de Assis

As eleições atuais tendem a consagrar a vitória de uma candidata, mas não apenas dela. Assinala o possível fracasso no Brasil, pelo menos neste momento, de uma técnica de propaganda nazista usada extensivamente por Hitler e Goebels contra os judeus em sua saga de conquistar o inconsciente do povo alemão pelo poder da propaganda e da linguagem. O que foi, na Alemanha nazista, a Gestapo, aparece aqui como uma coligação de mídias sob liderança indiscutível da revista “Veja” com estreita cumplicidade com o sistema “Globo”.

Em “LTI – A linguagem do Terceiro Reich”, o filólogo Victor Klemperer observa que “o nazismo se embrenhou na carne e no sague das massas por meio de palavras, expressões e frases que foram impostas pela repetição, milhares de vezes, e foram aceitas inconsciente e mecanicamente” por grande parte do povo alemão. É o que se tentou fazer no Brasil manipulando vazamentos parciais de informações sobre a Petrobras, e uma narrativa distorcida do que foi o chamado “mensalão”, mediante o recurso da repetição indefinida.

É preciso informar o leitor sobre como isso acontece na prática. Trabalhei sete anos no copidesque e na Editoria de Economia do antigo “Jornal do Brasil”, quando ele era o principal formador de opinião política no Brasil, e cinco como repórter econômico da sucursal Rio da “Folha de S. Paulo”.

Posteriormente, trabalhei um ano como principal colunista de economia política de “O Globo”. Digo isso para esclarecer que conheço pessoalmente a mecânica operacional da grande mídia. Vi como funcionava, e sei como funciona hoje.

Há um protocolo informal de troca de informações entre “Veja” e o sistema “Globo” pelo qual, na noite de sexta-feira, este último é informado sobre a principal cobertura que a revista, sendo semanal, dará no fim de semana imediato. No meu tempo de JB, isso funcionava quase naturalmente entre as redações da revista e do jornal, inclusive devido a relações pessoais entre os editores. A replicação, no jornal ou na tevê, do noticiário de “Veja” amplifica consideravelmente seu potencial de difusão.

Não há nesse caso qualquer preocupação com “furo”. A revista se sente muito bem recompensada pelo fato de que, com a participação da tevê, suas notícias-opiniões se espalham muito velozmente e configuram uma propaganda dela Brasil afora. O protocolo consiste em dizer: “Segundo a revista ´Veja´ deste fim de semana”, acontece isso ou aquilo. Invariavelmente é uma notícia de “escândalo”, algo que em sua origem pode ser pequeno, mas que é ultra dimensionado pela própria participação conjunta das mídias para atingir o governo ou o sistema político.

Registre-se que, em sua origem, esse protocolo funcionava em estrito sentido jornalístico, porém na direção da tevê para o jornal. No JB havia uma televisão na sala do copidesque e outra na sala do chefe de redação, contígua. Lembro-me bem que todos parávamos para ver o Jornal Nacional. No meio do jornal, o velho Carlos Lemos, chefe da Redação, gritava de sua sala: “Temos isso?”. Se a reportagem não tinha, tratava de ter, pois não era admitido que o jornal diário desconhecesse uma notícia dada pela tevê na véspera.

Agora a operação é inversa, porém não inocente. É um conluio político, não propriamente jornalístico. Uma prática nazista de manipulação da notícia pela qual a imprensa escrita semanal anuncia previamente para a tevê o que vai dar no fim de semana para que a denúncia do “escândalo”, manipulado ou simplesmente forjado, ganhe também as ondas eletromagnéticas.

Entretanto, quero avisar aos que se indignam mais veementemente contra essas práticas que não há nada a fazer que não viole o princípio sagrado da liberdade de imprensa. É claro que quebrar os oligopólios midiáticos pode ajudar. Mas o que de fato se deve fazer é mudar de revista ou trocar de canal. A linguagem da perda de leitores e de audiência é a única linguagem que entendem, assim como a linguagem da derrota anunciada. Algo, aliás, que já está acontecendo tendo em vista as redes sociais na Internet, o mais fantástico antídoto contemporâneo contra a manipulação de opinião dos grandes oligopólios midiáticos.


 J. Carlos de Assis.  Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional na UEPB. 
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