Na sexta-feira, o blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo publicou um
texto incomum. O atual guru da direita brasileira saiu em defesa do ministro do STF José Antonio Dias Tóffoli (!) por conta de
matéria
do Blog do repórter Fausto Macedo no portal do Estadão que relatou
denúncia do Ministério Público contra o irmão mais velho daquele
ministro.
Abaixo, trecho do post de Azevedo.
Uau! Azevedo dizendo que “denúncia ainda não é condenação”? Daria
para encher a Biblioteca da Alexandria tudo que o blogueiro da Veja
escreveu condenando pessoas na mesma situação do irmão de Tóffoli. Um
exemplo recente é o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
É óbvio que o neo “garantismo” de Azevedo tem uma razão (cínica) de ser.
Não, eu não leio Reinaldo Azevedo – a menos que tenha um motivo que
valha pena tão dura. E esse motivo que me levou a tal empreitada foi um
fenômeno que não ocorre sempre no jornalismo: fonte importante procurar o
jornalista em vez de ser procurada por ele.
A fonte (mais do que fidedigna) me procura para ironizar o texto de Azevedo:
“Estão ‘seduzindo’ o Tóffoli por conta das contas de campanha no TSE”
A sedução não começou agora; começou logo após a escandalosa
“distribuição por sorteio” das contas de campanha de Dilma Rousseff no
TSE, que colegas de blogosfera dizem que não teve nada demais por – com
todo respeito – estarem desinformados.
Senão, vejamos: no dia 14 último, a jornalista Vera Magalhães, da
Folha, publicou matéria dando conta de que duas prestações de conta da
campanha de Dilma Rousseff caíram na mão de Gilmar Mendes por “sorteio”.
Confira, abaixo, a matéria
O que aconteceu no TSE foi um fenômeno impressionante. Se foi
coincidência, deveria entrar no Guinness Book. No mesmo dia, na mesma
Corte, dois processos de Dilma foram entregues ao mesmo juiz – as contas
da campanha de Dilma e as contas dos gastos do PT para a campanha de
Dilma.
Os dois sorteios, ocorridos um após o outro, no mesmo dia, hora e
local, deram Gilmar Mendes na cabeça. Coincidência é isso aí, o resto é
fichinha.
Mais engraçado ainda é que dias antes Toffoli participou de um almoço
em Brasília no qual brincou com uma possível fatalidade para Dilma, ou
seja, as contas de campanha dela caírem nas mãos de Gilmar.
“Já pensou se isso acontece?”, provocou o ministro do STF.
Tóffoli, a partir daquele sorteio esquisito, passa a ser submetido à
uma tática de investigação policial que Hollywood celebrizou: a tática
do “Tira bom, tira mau”. Um é feroz, faz ameaças o tempo todo. O outro é
bonzinho. Diz ao interrogado que seu colega está muito bravo é que não
sabe se vai conseguir contê-lo.
Aquele que até há pouco era considerado por Reinaldo Azevedo como um
títere do PT no STF, o que fez o ministro ser alvo de muita baixaria do
blogueiro da Veja, começou a ser seduzido logo após esse episódio do
sorteio das contas de campanha de Dilma.
Logo em seguida ao sorteio tabajara, Tóffoli foi convidado a
participar do programa Jô Soares, onde defendeu a dita “PEC da Bengala”,
que pretende tirar de Dilma Rousseff as nomeações de ministros do STF
que ela poderá fazer até 2018.
Mas por que estão seduzindo Tóffoli se, mesmo que Gilmar Mendes
rejeite as contas de campanha de Dilma, o processo será julgado por sete
ministros do STF?
Explico: entre os sete ministros, três são vistos como “legalistas” e quatro são considerados como “partidários”.
Os ministros “legalistas” seriam Maria Thereza de Assis Moura [que
relata as contas de Aécio Neves], Henrique Neves da Silva [que Dilma não
reconduziu ao cargo após seu mandato vencer, mas que deve reconduzir] e
Luciana Lóssio.
Três dos quatro ministros “partidários” são Gilmar Mendes e Luiz Fux
(que dispensam apresentações) e João Otávio de Noronha (nomeado para o
STJ pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que é amigo do peito
de Aécio Neves).
O sétimo membro “partidário” do TSE é José Antonio Dias Tóffoli,
presidente daquela Corte. Inicialmente, era visto como “partidário” por
ter trabalhado para o PT e ter sido advogado-geral da União de Lula.
O “novo” Toffoli seria o fiel da balança se uma eventual rejeição das
contas de campanha de Dilma fosse julgada pelo plenário do TSE. Por
conta disso, está sendo seduzido e ameaçado ao mesmo tempo.
Diante de Tóffoli está sendo colocada uma “escolha de Sofia”. Ele
pode escolher entre o céu e o inferno, ou seja, entre não endossar uma
artimanha qualquer de Gilmar para rejeitar (total ou parcialmente) as
contas de campanha de Dilma e virar alvo da mídia ou endossar e virar um
novo Joaquim Barbosa, sendo aplaudido em aeroportos e restaurantes
chiques.
A boa notícia é que, segundo essa e outras fontes, as contas de
campanha de Dilma apresentam uma higidez muito grande. Gilmar correrá um
grande risco tentando distorcer alguma coisa.
Contudo, não vamos nos esquecer de que estamos no país do julgamento
do mensalão, no qual ocorreram condenações sem provas e o qual um
ministro do STF considerou “ponto fora da curva”.
Está provado que, em
se tratando do PT e havendo maioria, o golpismo não se deixa constranger
e rasga a camisa. Sem pudor.
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