26/11/2014
OPERAÇÃO LAVA JATO
Excesso de informação desinforma
Observatório da Imprensa - 25/11/2014
Por Luciano Martins Costa em 25/11/2014 na edição 826
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 25/11/2014
Eis um exercício interessante para os observadores críticos da imprensa
brasileira: diga, de memória, os nomes de cinco acusados no escândalo
da Petrobras e explique as suspeitas que pesam sobre cada um deles.
Outro desafio: especifique o valor que teria sido desviado da estatal no
conjunto de operações abordado pelo inquérito. Mais uma questão:
quantos e quais partidos políticos estariam envolvidos no caso, a se
considerar o que sai diariamente nos jornais?
Como se pode notar, excesso de informação não significa mais
informação. O bombardeio intenso de notas e declarações, colhidas em
vazamentos produzidos pelas autoridades, impede que o leitor componha em
sua mente o quebra-cabeças que lhe permitiria entender a história como
um todo.
Sabe-se, genericamente, que foi montado um esquema para aumentar preços
de serviços, obras e equipamentos, e que esse dinheiro era usado para
alimentar um fundo – ou vários fundos – com finalidades diversas. Um
esquema de consultorias fictícias fazia a transição do dinheiro. A
principal suspeita, pelo menos a que tem aparecido com maior frequência
no noticiário, é de que os valores desviados serviriam para financiar
campanhas eleitorais.
No entanto, segundo os jornais, o juiz encarregado de conduzir o
processo se nega a ouvir referências a políticos, para não ser obrigado a
transferir o foro para o Supremo Tribunal Federal. Se não há políticos
envolvidos oficialmente, que valor teriam as citações a parlamentares,
ex-ministros e outras autoridades nas denúncias?
Que há corrupção na Petrobras e em outras grandes empresas, estatais ou
privadas, não há dúvida.
Pode-se dizer que, com ou sem operações com
nomes inspiradores, a prática vem de longa data, e entende-se que a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal tenham que restringir a
investigação a certo período específico e a um conjunto de personagens
que tenham relações entre si, o que deixaria para outro pacote a
apuração dos antecedentes do caso que agora mobiliza a imprensa. No
entanto, não se pode ignorar que falta um fio condutor para orientar a
compreensão dos cidadãos que acompanham as notícias.
Quem move a primeira peça?
Na terça-feira (25/11), por exemplo, os leitores dos principais jornais
de circulação nacional são convencidos pela imprensa de que os
envolvidos atuavam com tanta segurança que até davam recibo de propina.
Essa afirmação está na primeira página do Globo: “Corrupção na Petrobras teve até recibo de propina”, diz o jornal carioca.
O Estado de S. Paulo, mais contido, evita assumir que o recibo
se referia ao pagamento de propina, dizendo que um dos executivos presos
declarou ter entregue dinheiro a um intermediário, mesmo depois de
iniciado o inquérito do caso, e mostrou um comprovante de pagamento. Já a
Folha de S. Paulo coloca o assunto em segundo plano na primeira página e registra: “Empreiteira exibe suposto comprovante de propina”.
Temos, então, três versões diferentes para a mesma história, mas com um
sentido comum que nenhum dos jornais esclarece: o esforço que fazem os
advogados dos empresários presos para convencer a sociedade e, por
extensão, as autoridades, de que seus clientes são apenas vítimas do
sistema da corrupção que envenena o setor público. O tal recibo seria,
no caso, uma prova de que o pagamento foi feito sob ameaça de boicote à
empresa.
Acontece que os jornais já publicaram, em edições anteriores, até mesmo
fac-símiles de notas fiscais, que, segundo o inquérito, comprovariam
pagamentos de comissões irregulares. Com esse tipo de abordagem, a
imprensa reforça a tese de que as grandes empreiteiras são vítimas do
sistema da corrupção, obrigadas a pagar comissão para vender
equipamentos e serviços.
O noticiário não responde as questões importantes, como por exemplo:
quem move a primeira peça nesse jogo – o corrupto ou o corruptor?
A imprensa se esforça para fazer parecer simples uma história complexa,
com muitos protagonistas e complicadas operações financeiras, mas a
tática de saturar o noticiário com informações desconexas apenas produz
desinformação e reforça a crença geral de que tudo, na nossa democracia,
se faz por vias tortas.
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