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17/11/2014
Preconceito pornográfico dos coxinhas, golpe nas ruas e marco para a imprensa
Chegam a ser ridículos e muitas vezes "cômicos" tais protestos de características conservadoras e golpistas, mas a verdade é que não o são
DAVIS SENA FILHO
"As virtudes que apreciamos já estão enraizadas em nós". (Goethe)
Existem quatro principais setores que navegam pelo espectro político conservador e que ainda, percebe-se, inconformados com a derrota eleitoral do candidato de direita e do PSDB, o senador Aécio Neves. Os recalcitrantes são os seguintes:
1- a imprensa de negócios privados;
2- os coxinhas de classe média lacerdistas;
3- o PSDB; e
4- os setores atucanados da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça Federal, com canais abertos com o STF, a exemplo do juiz político e de direita, Gilmar Mendes.
A revolta e a frustração pela derrota do candidato desses grupos sociais institucionalizados é tão grande que, após 22 dias das eleições presidenciais, a insanidade tomou conta dessas pessoas, principalmente em São Paulo — o mega bolsão do reacionarismo brasileiro desde os tempos dos bandeirantes. Considero incrível e quase inacreditável que o histerismo político-partidário faz com que indivíduos saiam da realidade e protestem contra a "cubanização", a "venezuelização" do País, bem como a marcarem territórios como se fossem cães hidrofóbicos e, consequentemente, sem condições psíquicas para avaliar de forma ponderada, pontual e lúcida a conjuntura brasileira e suas realidades.
Chegam a ser ridículos e muitas vezes "cômicos" tais protestos de características conservadoras e golpistas, mas a verdade é que não o são. Esses movimentos têm objetivos nada ingênuos, e um deles é abrir um processo de impeachment contra uma presidenta constitucional, recém-eleita, legalmente, pelos votos de mais da metade do povo brasileiro, e que, no momento, está a lutar pela reforma política, além de exigir, no momento, o afastamento e a punição dos envolvidos em corrupção, no caso Lava Jato.
Além disso, Dilma Rousseff tem afirmado à sociedade brasileira que vai realizar o marco regulatório para as mídias, a fim de efetivar regras para tão importante setor da economia, sem, no entanto, o Estado interferir no que diz respeito ao conteúdo que essas empresas, no caso as privadas, repercutem à vontade, porque, sem sombra de dúvida, os magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas e seus empregados publicam, mostram e falam o que querem, até mesmo, como ocorreu nas eleições, tentar influenciar os eleitores, como o fez a revista Veja — a Última Flor do Fáscio.
Contudo, o visível histerismo e a total rejeição dos fundamentalistas, dos desinformados, dos histéricos de direita, que cooperam para que os interesses do sistema de capitais sejam concretizados se tornaram uma questão preocupante para o Governo Trabalhista, bem como para parte importante e populosa da sociedade brasileira, que acredita no jogo democrático, nos ditames da Constituição e no estado de direito.
A questão primordial é o Governo Trabalhista se fazer ouvir e ser entendido pelo povo brasileiro.
Existem meios para se preencher essa lacuna aberta desde os tempos do Governo Lula. E, como assim? Respondo: fortalecer o sistema de comunicação estatal, de forma que ele abranja todo o Brasil, por intermédio de novas sedes regionais e cobrar que a Secretaria de Comunicação (Secom) repercuta sistematicamente suas obras de infraestrutura, além de mostrar os avanços sociais conseguidos com os programas de inclusão do Governo Federal.
Todavia, somente essa estratégia não adianta. Não dá resultado. A Secom tem de rebater, diuturnamente, a imprensa comercial e privada de essência privatista e elitista. Quando há acusações e denúncias, todas elas têm de ser investigadas ou apuradas pelo Palácio do Planalto, por meio do Ministério da Justiça, com o apoio da base do Governo no Congresso, principalmente de suas lideranças, sempre prontas para informar e explicar os acontecimentos, mas nunca deixar de rebater, sistematicamente, as acusações infundadas e as denúncias vazias. Ponto!
Por sua vez, as ilações artificiais e os ataques nada republicanos, criados pela imprensa empresarial e familiar, pinçadas de um contexto mais amplo e complexo, têm de ser rebatidos duramente pelas Secom, Casa Civil e por autoridades de órgãos e instituições que respondem pela segurança do Estado e pela estabilidade da democracia brasileira.
É dessa forma que tem de agir as autoridades e os profissionais de comunicação, a evitar ruídos no que tange à compreensão dos fatos e dos acontecimentos por parte do povo brasileiro, merecedor de respeito, consideração, bem como de receber satisfações de quem é pago e sustentado pelo contribuinte. Agora, vamos à pergunta que não quer calar: "Quando os magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas vão ser também investigados, julgados e punidos pelos seus crimes?"
A imprensa alienígena tem de ser colocada em seu devido lugar, pois, talvez assim, tal sistema midiático corporativo resolva fazer jornalismo, desça do palanque político-eleitoral e pare de proceder como uma agremiação política de direita, desregulada, para seu deleite, e que inúmeras vezes agiu fora da lei, como nos casos do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da edição criminosa do debate entre Lula e Collor, em 1989, dentre muitos outros maus exemplos.
Sou sabedor que no Brasil existem muitos grupos de direita e de extrema direita na sociedade civil — no mundo empresarial, político, acadêmico e estatal. Compreendo o porquê de os coxinhas, falo daqueles que são educados, gentis e instruídos quando se trata das relações pessoais e profissionais, mas que, de repente, surpreendem pela intolerância expressada em uma variedade de preconceitos e cóleras que deixariam um fascista estudioso e ideológico com o queixo caído.
Trato da classe média que vai às ruas e brada, em catarse mesclada com ódio, por um impeachment, sendo que grupos ainda mais radicais reivindicam, "simplesmente", um golpe militar. Surreal. Um histerismo coletivo de tal monta que deveria ser estudado por psiquiatras experientes, porque, sem exagero, considero que se trata de um surto pós-eleitoral, que atingiu muitas pessoas, que até agora não conseguiram sair desse círculo viciado, bem como não compreenderam os fatos e por causa disso não conseguem digerir as realidades apresentadas a elas, pois que lhes causam frustrações e, consequentemente, dor.
Há poucos dias conversava em um bar e restaurante, no bairro do Flamengo, com pessoas da minha geração, entre 50 e 60 anos. A conversa fluía e os temas eram sobre política, eleições, países, futebol etc. Lá pelas tantas, um dos caras, com 58 anos (ele disse a idade dele), estourou e começou a xingar seu interlocutor, porque ele discordou de suas considerações relativas aos EUA.
O homem ofendido apenas disse que os "Esteites" também tinham problemas sociais graves, como pobreza, falta de um sistema de saúde público de boa qualidade, racismo histórico, maior população carcerária do mundo, desemprego, crise financeira internacional, além de ser alvo de inimigos em quase todo o planeta. Pra quê? O cidadão de 58 anos, que até então se mostrava um coxinha gentil e educado, transformou-se no Mr. Hyde, de o Médico e o Monstro.
Testemunhei uma saraivada de insultos e impropérios que deixariam um biltre espantado ou a infâmia com vontade de pedir socorro. Impressionante a boca suja do sujeito. O coxinha bramia; e sua língua parecia um chicote para açoitar escravos. Incrível. O cidadão atacado pela verve absurda e injuriosa do indivíduo que, em um passe de mágica, tornou-se seu inimigo, primeiro ficou com os olhos arregalados, seus lábios ficaram brancos-acinzentados, depois suas faces ficaram vermelhas, para logo esboçar uma reação...
A discussão ficou feia, mas o sujeito classe média arrogante e desaforado gritava mais alto e conhecia um conjunto de palavrões e insultos mil, que deixou todo mundo atônito e com vontade de ir embora. O homem rugia: "Não fale mal da América"! "Eu morei lá, porra"! "Eu amo a América"! "Eles são os xerifes do mundo"! "O Brasil é uma merda; uma verdadeira bosta"! "Odeio este País"! "Eu quero mais é que o Brasil e esse povinho mulambo, de merda, se foda"! "Não fale mal da América, seu merda"! "Bata na boca pra falar dos americanos"! E por aí vai, porque os palavrões e demais ultrajes não valem à pena relatar.
O mister Hyde brasileiro e carioca revelou seu lado demoníaco e... coxinha. Com ele, o doutor Jekyll não tem a mínima chance de recuperar seu corpo, pois sua alma já pertence ao monstro. Quero dizer que o Brasil vive tempos difíceis, no que concerne à convivência entre os diferentes e à tolerância quando os antagonismos são expressados e considerados como se as pessoas estivessem em uma guerra, quando, na verdade, são apenas posições quanto ao que certo cidadão acredita, pelo menos naquele momento, porque os seres viventes mudam de opinião quando, não, passam para o outro lado da cerca.
Foi o que aconteceu com o dono do bar onde ocorreu a contenda. O comerciante falava mal à beça do PT, e, por fim, votou em Dilma Rousseff, porque a filha dele foi beneficiada pelo programa Ciência sem Fronteiras. C'est la vie, como dizem os franceses. Depois desse bate boca passei a compreender melhor os meus detratores, que enviam desaforos e esculhambações por intermédio de mensagens ao meu blog, o "Palavra Livre", bem como aos sites "Blog da Dilma" e "Brasil 247", dentre muitos outros veículos da internet onde meus artigos são publicados e repercutidos.
O Brasil vive um momento psicológico, cívico e político singular. Porém, o Governo Trabalhista de Dilma de Rousseff, as instituições republicanas, a grande parte do povo brasileiro que preza as liberdades civis têm de ficar atento às tentativas de golpes, ainda mais quando tais crimes se voltam contra a democracia, conquistada com muita luta, suor e sangue, no decorrer de 21 anos. Os grupos radicais de direita estão a brincar com fogo, porque as condições políticas de hoje não são as que se apresentavam em 1964. Vivemos em outro Brasil, e este fato é inquestionável.
Inúmeras pessoas, a exemplo do cidadão de classe média e com 58 anos, que ofendeu seu semelhante, porque ele apenas teceu comentários sobre os Estados Unidos estão "possuídas" por um despertar de emoções incontidas e omitidas durante muito tempo de suas vidas. De repente, elas explodiram, porque esses indivíduos não aceitam a ascensão social de brasileiros pobres, somadas às crenças ideológicas e opções partidárias, que se transformaram em amarras de suas existências, ao tempo que pontas de lanças de suas verborragias agressivas, esnobes e preconceituosas.
São valores e princípios enraizados em gerações, e que, em certo momento, vieram à tona de forma incontrolável, ao ponto de a intolerância e o preconceito se tornarem combustíveis dos que não se conformam com a democracia e o estado de direito, que estão a viabilizar a igualdade de oportunidades para que todos os brasileiros possam ter uma vida de melhor qualidade.
No fundo das almas dos senhores classes médias tão gentis e por isso bons anfitriões moram os monstros Hydes, pois, do contrário, não diriam tantas barbaridades e não mostrariam seus preconceitos e intolerâncias de conotações dantescas, quase pornográficas, nas televisões e redes sociais, nas ruas e praças públicas. O Governo Trabalhista tem de ficar atento para enfrentar golpes, fazer o plebiscito da reforma política, além de efetivar o marco regulatório para as mídias. O tempo urge. É isso aí.
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