domingo, 2 de novembro de 2014

Contraponto 15.210 - "América Latina e Brasil como modelos de desenvolvimento"

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02/11/2014

América Latina e Brasil como modelos de desenvolvimento 


JornalGGN - dom, 02/11/2014 - 02:05 -Atualizado em 02/11/2014 - 08:00



marcio valley

O geógrafo britânico David Harvey, professor emérito de antropologia da Universidade da Cidade de Nova Iorque, afirma, em entrevista publicada na Folha de São Paulo, que Dilma Rousseff, em seu segundo mandato, terá que decidir se vai tentar uma acomodação com os mercados ou se buscará satisfazer as demandas da população.

Segundo ele, a sociedade brasileira, hoje, quer mais democracia e participação nas questões políticas. A principal demanda da população atualmente é por uma maior qualidade de vida nas cidades, com um projeto urbano que priorize a melhora dos serviços de transporte, de saúde, de educação e moradias decentes.

Harvey está certíssimo. As manifestações de junho de 2013 revelaram a vontade popular de participação direta. Infelizmente, as iniciativas do governo foram barradas à época, e continuam a sê-lo hoje, como se viu da movimentação do Congresso para impedir a participação popular através dos Conselhos Populares criados por Dilma.

A mesma negativa de participação direta se vê na recusa do Congresso em permitir que o povo se manifeste sobre a reforma política, ainda que para o singelo ato de dizer sim ou não. Aparentemente, essa teimosia parlamentar irá se repetir.

Por outro lado, as demandas de nossa "Primavera Tropical" de junho de 2013, confusa e dissonante, foram, de uma forma geral, entendidas pelo governo federal, que vem se empenhando para acrescer qualidade de vida às cidades na forma de pesados investimentos, em conjunto com municípios e estados, em projetos de mobilidade urbana, como corredores viários, VLT's e metrôs.

Ocorre que tais demandas contrariam a ótica desse deus chamado "mercado". No pensamento de Harvey, essa vontade popular de melhoria na qualidade da vida urbana vai de encontro ao modelo de cidade almejado pelo mercado, que é aquele que permita o máximo de lucratividade para poucos, independentemente do conforto do morador. A grandeza dessa mesquinhez ainda mais se evidencia quando se sabe, como relembra o pensador, que, atualmente, os bilionários, os ricos que representam um por cento da população mundial, estão indo muito bem, enquanto o restante da população sofre com a crise econômica mundial.

Na visão de Harvey, a América Latina está dando um exemplo de governos de centro-esquerda que vêm promovendo uma abordagem na estratégia econômica diferente das tradicionais, que usualmente favorecem as finanças internacionais, ou seja, os interesses dessa pequena fração da população mundial que detém quase a metade da riqueza. Por conta disso, a pobreza foi reduzida em países como o Brasil, o Equador e a Bolívia, cujos desenvolvimentos beneficiaram as respectivas populações.

É bastante interessante analisar como a visão intelectual estrangeira, apreciando o conjunto sócio-político latino-americano e brasileiro com maior distanciamento e, por isso mesmo, de forma menos parcial e com maior abrangência, é capaz de constatar coisas boas ocorrendo nessa parte do mundo.

Tais coisas boas, no que se refere ao Brasil, se iniciam a partir do final do processo da redemocratização, pós-período militar, mais especificamente com Collor, que inaugura o processo de renovação da economia.

Essa constatação contraria frontalmente o pensamento de alguns brasileiros que, por conta de uma radicalidade histérica e sem grande reflexão, flertam com a ditadura e o totalitarismo, ingenuamente acreditando que isso seria um mal menor, completamente incapazes de, primeiro, superar o muro da propaganda dos profetas do apocalipse, cujas profecias, claro, são orientadas pelo “princípio Ricúpero”: divulga-se amplamente qualquer banalidade com viés negativo, transformando-a em escândalo, e esconde-se toda e qualquer evidência de realizações positivas.

Segundo, de entender a real natureza de uma ditadura totalitarista, que, concretizada, tem o péssimo hábito de engolir todo tipo de voz, inclusive as vozes que produziram as preces de invocação e lhe deram suporte. E, terceiro, de olhar para si e ao redor e aceitar a realidade tal qual ela se apresenta, sem fantasias: o Brasil está melhor do que esteve.

Ainda falta muito, mas estamos caminhando para frente com passos mais firmes e seguros do que jamais tivemos.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1541895-prioridade-de-dilma-deveria-ser-melhoria-das-cidades-diz-geografo.shtml
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