segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Contraponto 15.431 - "O PT não sabe o porquê do ódio... É a Síndrome de Estocolmo"

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24/11/2014

 

O PT não sabe o porquê do ódio... É a Síndrome de Estocolmo



    O que me deixa aborrecido e insatisfeito são as lideranças do PT, que ainda insistem em compor e tentar dialogar com setores conservadores e reacionários


Brasil 247 - 24 de Novembro de 2014 às 19:54


DAVIS SENA FILHO

Estou a ler notícias na internet e me deparo, para a minha surpresa, com uma notícia no Brasil 247 na qual anuncia que o Partido dos Trabalhadores, "assustado" e também "surpreso" com a rejeição por parte de milhões de brasileiros, principalmente os de São Paulo ao PT, resolveu fazer um levantamento sobre tal questão, que tanta incomoda sua direção, e, consequentemente, seus líderes.

Na verdade o que me incomoda não é a rejeição por parte de cidadãos à agremiação política e partidária trabalhista. O que me deixa aborrecido e insatisfeito são as lideranças do PT, que ainda insistem em compor e tentar dialogar com setores conservadores e reacionários, que, apesar de serem beneficiados, estão sempre dispostos a apunhalar pelas costas o governo popular de Dilma Rousseff, fato este que aconteceu, reiteradamente, quando Lula assumiu a Presidência por oito anos.

A pergunta que se recusa a calar é esta: "Qual é o problema do PT?" Eu mesmo respondo: "O Partido dos Trabalhadores sofre da Síndrome de Estocolmo". É isto mesmo. A sigla trabalhista perdeu o punch e o élan, para não mais se recuperar. O PT, simplesmente, não sabe mais se defender, quanto mais atacar. Por isso, tornou-se um paciente da Síndrome de Estocolmo, que significa a vítima se envolver com seu algoz, de tal modo que passa a sentir "amizade", "piedade" e até mesmo ser cúmplice daquele que o humilha e lhe causa dor e desatino.

Custo a acreditar que o PT precise da ajuda de uma empresa para saber o que está a acontecer no Brasil, sem, no entanto, de acordo com a matéria do "Brasil 247", citar a imprensa de negócios privados, que faz uma das campanhas mais longas e sórdidas que se tem notícia no mundo ocidental quando se trata de atacar violentamente um governo autêntico, popular, legalista e democrático, que se recusa a excluir os milhões de brasileiros pobres dos mercados de trabalho e consumo, bem como permitiu o acesso dos mais humildes à educação, por intermédio das cotas, do Enem, do ProUni, do Pronatec, do Fies e do Sisu.

É impressionante a desfaçatez petista, com a exceção de Lula e mais timidamente a presidenta Dilma, quando se trata de afirmar o sistema midiático privado, desregulado e de DNA golpista está há 12 anos a atacar os governos trabalhistas, a não lhes dar trégua e água, de forma consistente e diuturna, sem falhar um único dia, por meio de mídias cruzadas, no que diz respeito a desqualificar, desconstruir, judicializar e criminalizar a Presidência da República, os ministérios, os órgãos e autarquias governamentais, que ora são administrados pelo PT e seu governo de coalizão.

Não. De forma alguma é necessário o PT contratar uma empresa para saber, por exemplo, por que São Paulo rejeita ou sente ódio pelo Partido dos Trabalhadores. Será que o PT não compreende que São Paulo e sua ideologia e propósitos são similares a estados como o Texas, ou seja, território da União ocupado por moradores politicamente conservadores e voltados para os valores apregoados pelo liberalismo econômico, radicalismo religioso e a crença de que o mercado regula tudo e transforma os homens em seres "livres".

São Paulo, antes de tudo e, historicamente, considera-se autossuficiente, como sempre demonstrou no decorrer de sua história. Edificado com trabalho escravo, com a imigração de europeus pobres e esfaimados e com a migração de sulistas, mineiros e nordestinos, o Estado mais poderoso e conservador do Brasil possui uma das "elites" econômicas mais perversas do planeta, além de se verificar que a classe média paulista e paulistana, em grande parte, coaduna com as ideias, os valores e os princípios daqueles que têm o domínio sobre os meios de produção.

A tradição conservadora da burguesia e da pequena burguesia de São Paulo e do restante do Brasil, somada ao sentimento a meu ver equivocado de se considerar "especial" e, por sua vez, com o direito de viver em um mundo restrito e dedicado a uma pequena parcela da população, faz com que esses setores de sociedade se tornem arrogantes, prepotentes e até mesmo violentos quando se julgam parte de uma "elite" que não deve conviver com os reles mortais, ou seja, o povo brasileiro, responsável maior pelo desenvolvimento do Brasil e pela riqueza da Casa Grande, que sempre se beneficiou de sua força de trabalho.

Portanto, é incompreensível ao tempo que ridículo observar que o PT e seus líderes ainda não perceberam que as manifestações de junho de 2013 não representam apenas momentos de revoltas da classe média, que foi às ruas, não porque o Brasil está envolto com "as maiores corrupções de todos os tempos ou da história", como quer fazer crer a mídia corrupta e meramente de mercado, golpista histórica e entreguista por natureza.

De forma alguma. Nota-se, sobretudo, que a classe média, principalmente a que ideologicamente se identifica com o espectro à direita, sentiu-se preterida quanto à atenção do Governo Federal no que é relativo a receber também benefícios, além de se considerar "traída", no que concerne a se certificar de que as camadas sociais mais pobres ascenderam socialmente, o que se torna um assunto de ordem psicológica, pois se trata de um perverso tabu, que se baseia em preconceitos e intolerâncias históricas enraizadas em sua essência escravocrata alimentada por gerações.

Apesar de a classe média ser tradicionalmente universitária e instruída por causa de sua escolaridade, ela tem enorme dificuldade para enxergar o mundo de forma universal ou completa, porque só consegue visualizá-lo até os limites de seu bairro ou dos lugares que frequenta. Ela não consegue se visualizar no outro, porque o trata como uma sombra que nunca aparece por causa da ausência do sol. Só que as sombras desenham suas silhuetas e este desenho não define cor, raça, credo, classe e origem social e econômica.

A falta dessa compreensão que a leva a ser intelectualmente obtusa e, por seu turno, incapaz de compreender os fatos e as realidades que lhes rodeiam, de forma precisa e pontual. Eis a classe média, que age como o avestruz da anedota que, para deformar e desvirtuar a verdade, recusa-se a reconhecer, por exemplo, os avanços sociais e econômicos conquistados pelo povo brasileiro nos últimos 12 anos.

A partir dessas considerações e realidades, a Casa Grande, assim como seu principal braço de combate aos governos trabalhistas, a imprensa familiar e corporativa, trataram logo de empurrar o PT contra a parede e sufocá-lo. Começaram a atuar em quatro frentes, que atuam e agem de forma sincronizada: o PSDB e seus aliados, a imprensa empresarial, certos juízes do STF (já aposentados e na ativa) e inúmeros promotores, que, além de desejarem aparecer, resolveram fazer política, sem, no entanto, serem titulares de mandatos eletivos, mas, tais quais os coxinhas de classe média, resolveram tomar à frente de questões políticas e de ações administrativas e estruturais a cargo de políticos eleitos legitimamente pelo povo.

Os escândalos do mensalão, o do PT, evidentemente, porque o dos tucanos já está a prescrever, além dos malfeitos na Petrobras são exemplos emblemáticos de combate ao PT e da intenção de criminalizar o Partido e judicializar a política. Quem perde a eleição pelo voto, que é o caso do PSDB, recorre a assuntos de perfis escandalosos com o propósito de desqualificar e desconstruir o adversário, bem como conquistar o apoio de setores da população insatisfeitos com ascensão das camadas mais desprotegidas da sociedade, além de ideologicamente serem contrários a partidos e políticos que elaboram e efetivam programas e projetos de inclusão social.

Para esses segmentos conservadores, o PT é tudo aquilo que eles detestam e rejeitam, porque se trata de um partido que nasceu do ventre das fábricas, além de dialogar com os movimentos sociais e de trabalhadores desde sua fundação, em 1980. Além disso, a Casa Grande é sabedora que o PT é um partido orgânico, ou seja, está inserido na sociedade, em incontáveis segmentos da vida brasileira, de maneira tal que se tornou imperativo para o establishment que a agremiação popular fosse duramente e sistematicamente desconstruídas pelos canais de comunicação desregulados e controlados pela grande burguesia.

E aí, cara pálida, o Partido dos Trabalhadores, equivocado novamente, anuncia que vai contratar uma empresa para saber o porquê de o partido ser odiado. A resumir: Algumas pessoas do PT (sempre é sábio não generalizar) gostam de adular certos setores do status quo. Como esses setores se mostraram resolutamente indispostos a dialogar, o PT, depois de muitos anos no poder, resolveu governar e moderadamente enfrentar aqueles que o ataca, o sangra, o calunia e o injuria.

Essas realidades ficaram claras nas eleições de 2014, e na tentativa de golpe "branco" contra o Lula, em 2005. O PT tem de entender que a comunicação do governo é péssima, bem como quem a chefia não pode ser umbilicalmente ligada ao complexo de comunicação privado, já cansado de demonstrar que não tem quaisquer compromissos com o Brasil e seu povo. Ponto.

Os petistas, autoridades ou não, precisam urgentemente compreender que a Casa Grande, além de dar nó em pingo d'água e não dar ponto sem nó, não tergiversa quando se trata de seus interesses políticos, comerciais e econômicos. A imprensa, diversificada em inúmeras mídias cruzadas, transformou-se no maior partido de oposição de direita da história do Brasil. O sistema midiático familiar tomou a frente do processo político e pauta, sem titubear, a vida brasileira e suas instituições republicanas.

O PT também tem culpa de permitir que esse processo draconiano ou dantesco acontecesse. O principal partido do Governo foi pusilânime, covarde e se dobrou aos ditames de uma oposição enfraquecida, incompetente e entreguista, praticamente derrotada, praticamente desmotivada para enfrentar o pleito eleitoral.

Aprendi há muito tempo que se tal pessoa é leniente ou permissiva com acusações infundadas, denúncias vazias e calúnias, injúrias e difamações, que não retratam a realidade é porque não se importa com seu presente e futuro, mesmo se o passado foi glorioso, pois repleto de conquistas e trabalhos realizados. É o que está a acontecer com o PT que se dobrou, e, de joelhos, aceita o jogo da direita após ter vencido uma eleição muito difícil, com o apoio irrestrito e voluntário de sua militância, bem como dos blogs progressistas, também chamados de "sujos".

Eis da onde veio a vitória do PT, pois a militância e a blogosfera de esquerda travam uma luta sem trégua e incansável contra a imprensa "oficial" e familiar, pois sustentada há mais de século pelo dinheiro público, do contribuinte. O PT sofre da Síndrome de Estocolmo, porque não reage a seu algoz: a Casa Grande, os tucanos, a mídia alienígena e certos setores do MP, da PF e do Judiciário que deveriam ser enquadrados.

Não cabe ao Governo Trabalhista ao PT, nesta altura do campeonato, não saber e compreender o porquê de tanto ódio. O ódio, a cólera vem desde os tempos de Getúlio Vargas. Basta ler a história para depois marcar limites e territórios no que tange aos adversários. Quem cala, consente. O PT que trata de melhorar sua comunicação com o povo, efetivar o marco regulatório para as mídias e responder, de pronto, todas as acusações que forem injustas, manipuladas e infundadas. Sempre, sem vacilar. Não sei o que é pior: se a Síndrome de Estocolmo do PT ou o complexo de vira-lata e a veia golpista da Casa Grande. É isso aí.


Davis Sena Filho é editor do Blog Palavra Livre
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