segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Nº 23.028 - "Estrella, o descobridor do pré-sal: Petrobras voltou à era FHC"

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18/12/2017


Estrella, o descobridor do pré-sal: Petrobras voltou à era FHC

estrella
Em ótima entrevista ao Sul21, o geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de produção e exploração da Petrobras e líder da equipe que descobriu a ocorrência de petróleo na camada pré-sal do litoral Sudeste do Brasil, diz que a Petrobras, hoje, regrediu à situação a que a levou o governo Fernando Henrique Cardoso, quando a orientação era para a empresa  “abrir espaço, principalmente na área de exploração e produção, para empresas estrangeiras”.
“(…)  a empresa novamente está se apequenando sob um argumento frágil, que é o argumento da insustentabilidade financeira. A Petrobras é uma empresa que produz dois milhões e meio de barris por dia. O valor só dessa produção de petróleo bruto é de quase 50 bilhões de dólares por ano, nos preços atuais. A empresa tem uma dívida que é grande, é verdade, mas com esses recursos que ela tem em mãos pode sentar à mesa e renegociar essa dívida e não vender seus ativos, ser esquartejada e apequenada, o que dificulta, aliás, o pagamento da dívida. Quando você vende um gasoduto, está vendendo uma renda futura. Trata-se, na verdade, de um plano para privatizar a empresa.
Estrella conta que, quando assumiu a diretoria que cuida da perfuração e exploração de poços de petróleo e gás,  não encontrou “uma empresa de petróleo, mas sim uma empresa de investimentos no setor petrolífero” e que o governo Lula resolveu remobilizar todo o conhecimento acumulado pela empresa e ousar na prospecção de novas jazidas.
A descoberta do pré-sal se deu em um regime aberto à exploração de empresas estrangeiras. A Shell, em 2001, furou o pré-sal, no campo de Libra (veja a nota ao final). Ela parou no sal. Nós atravessamos o sal para ver o que tinha embaixo. As nossas previsões geológicas apontavam uma possibilidade muito grande de termos petróleo. Nossa dúvida era quanto ao tamanho dos reservatórios.
A dúvida virou a certeza de que o pré-sal é a maior jazida de petróleo encontrada no século 21 e que abriu caminho para o Brasil ter uma produção compatível com o tamanho de sua economia e livrou o país do fantasma da iminente exaustão dos depósitos da Bacia de Campos, explorada há 40 anos e, então, responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo.
(…)foi uma decisão corajosa, mas não foi uma decisão irresponsavelmente corajosa. Ela foi baseada em toda a nossa experiência de estudos geológicos nas bacias sedimentares brasileiras. Muita gente que disse que a Petrobras teve sorte ao achar o pré-sal. Não houve sorte alguma. Foi resultado de um projeto científico e técnico de perfuração, envolvendo tecnologia de ponta e conhecimento de fronteira. A descoberta do pré-sal foi produto, também, da decisão do governo Lula de libertar a empresa dos grilhões da bacia de Campos. Essa descoberta deu ao Brasil a condição que faltava para projetarmos o desenvolvimento nacional para todo o século XXI.
Estrella rejeita a ideia de que a exploração do pré-sal com reservas para a Petrobras tenha representado uma política isolacionista:
O marco regulatório do pré-sal, que acabou sendo derrubado pelo projeto do (José) Serra no ano passado, previa a participação da Petrobras em pelo menos 30% das explorações. Ou seja, abria espaço para a participação de empresas de capital estrangeiro em até 70%. Não houve nenhuma decisão isolacionista. Mas isso não bastou. A espionagem rolou solta, contra a Petrobras e contra a própria presidente Dilma Rousseff. Além disso, três meses depois de anunciarmos a descoberta do pré-sal, os Estados Unidos decidiram reativar a Quarta Frota no Atlântico Sul. Parece-me inegável que houve interferência externa no golpe que ocorreu no Brasil. No caso específico da Petrobras, representantes de empresas petrolíferas estrangeiras atuaram de forma desavergonhada no Congresso Nacional, numa verdadeira ofensa à cidadania brasileira. Desculpe-me a expressão, mas o Brasil está sendo transformado numa verdadeira casa de tolerância para capitais estrangeiros.
O “pai do pré-sal” diz que ” o próximo governo tem que se comprometer com a anulação pura e simples desses atos e partir para o confronto”.
Não há o que negociar. Gilberto Bercovici, professor de Direito Constitucional da Universidade de São Paulo, disse que os beneficiários desses atos não são compradores, mas sim receptadores de roubo. Eles precisam ser enquadrados como receptadores. Estamos lidando com crimes lesa-pátria e com uma ditadura civil.
A elite empresarial brasileira, tola, prefere outra postura, servil, e não entende que está sendo roubada dela própria a oportunidade de ser sócia do desenvolvimento de um grande país. Prefere ser assecla subalterna de um projeto colonial falido no mundo inteiro.
Nota: O Tijolaço publicou mais desta história incrível, que não pareceu apetitosa à grande imprensa: Libra foi leiloada por R$ 250 mil no Governo FHC 
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