terça-feira, 27 de abril de 2010

Contraponto 2049 - "Obama arrisca-se em aventura de intimidação"

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27/04/2010


"Obama arrisca-se em aventura de intimidação"


Viomundo 26 de abril de 2010 às 18:18


25/4/2010, Gareth Porter, Asia Times Online [de Washington]

http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/Obama-gambles-on-deterrence.html

tradução Caia Fittipaldi

A declaração do governo Obama na Nuclear Posture Review (NPR) [Revisão da Postura Nuclear dos EUA 2010] de que os EUA reservam-se o direito de usar armas nucleares contra o Irã acrescenta novo elemento à estratégia de persuadir o Irã de que a ameaça de Israel, de atacar as instalações nucleares iranianas, é possibilidade real, caso o Irã não se curve à exigência de por fim ao enriquecimento de urânio.

Por mais que os funcionários tenham evitado atentamente criar qualquer conexão direta entre a nova opção nuclear e a ameaça dos israelenses, a NPR faz aumentar o número de casos em que as armas nucleares passam a poder ser usadas. – De fato, incluiu-se agora a possibilidade de resposta militar iraniana no caso de o Irã ser atacado por Israel. O único caso que se pode descrever como “eventualidade” para emprego de armas nucleares nos termos do novo documento passou a ser essa resposta iraniana a ataque israelense.

A “Nova Postura” fala do papel das armas nucleares norte-americanas, nessa eventualidade, como fator “de contenção” ou “de intimidação” [ing. “a deterrent”]. Uma estratégia de explorar a ameaça israelense de ataque ao Irã, visando a intimidar o Irã, no sentido de conter uma resposta iraniana àquele ataque – e torna mais plausível o ataque dos EUA ao Irã.

A nova opção nuclear para atacar o Irã emergiu depois de uma série de declarações, ao longo de todo o ano passado, feitas por altos funcionários, entre os quais a secretária de Estado Hillary Clinton e o vice-presidente ‘Joe’ Biden, sugerindo, sempre, que o governo toleraria uma opção israelense.

Ambos os governos, de Bill Clinton e de George W Bush, sempre disseram que os EUA “reservam-se o direito” de responder com armas nucleares ao uso de armas químicas e biológicas [ing. CBWs] em ataque contra os EUA, seus “aliados” ou seus “amigos”. Em novembro de 2003, foi construído e aprovado um plano de contingência, chamado CONPLAN 8022-02[1], para destruir armas nucleares ou instalações nucleares de inimigos. Introduziu a possibilidade de usarem-se bombas nucleares que penetram no solo, para destruir instalações subterrâneas.

Mas a “Nova Postura” de Obama fala de “estreita faixa de eventualidades nas quais as armas nucleares dos EUA podem ainda desempenhar papel de contenção em ataque convencional ou por armas químicas e biológicas contra os EUA, seus aliados ou parceiros”.

Esse linguajar parece sugerir que a opção nuclear conseguiria refrear qualquer resposta de retaliação convencional dos iranianos a ataque israelense ou contra alvos militares dos EUA na região, no caso de Israel atacar o Irã.

Os dois, Obama e o secretário de Defesa Robert Gates, fizeram declarações em que implicitamente aproximam a nova declaração de postura nuclear e o problema mais amplo de tentar obrigar o Irã a curvar-se às exigências internacionais na questão nuclear.

Em entrevista ao programa CBS News, dia 1º. de abril, perguntou-se a Obama por que parecia acreditar que, dessa vez, as sanções funcionariam. Depois de referir-se ao isolamento do Irã, o qual disse ele, “eventualmente teria efeito sobre a economia iraniana”, Obama fez clara alusão às opções militares. “Mas, você sabe, tenho dito que não retiramos da mesa nenhuma opção”, disse o presidente. “Vamos continuar a aumentar a pressão, e veremos como eles reagem.”

No passado, referências a “opções” em “mesas” sempre foram referência a ataque militar convencional pela Air Force dos EUA. Dessa vez, Obama evidentemente anunciava a opção nuclear nos termos da “Nova Postura” que seria divulgada cinco dias depois, dia 6 de abril, como meio para “aumentar a pressão” sobre o Irã.

Dia 5 de abril, em entrevista ao New York Times, perguntado se acreditava que Israel decidiria atacar o Irã “se se mantivesse a rota atual”, Obama recusou-se a “especular sobre decisões israelenses”.

“Mas”, disse ele, “queremos enviar uma mensagem forte, com as sanções, com a articulação da Nova Postura Nuclear e com a conferência para revisão do Tratado de Não-proliferação marcada para breve: a comunidade internacional fala sério quando diz que o Irã terá de enfrentar consequências sérias se não mudar seu comportamento.”

Gates foi ainda mais explícito, ao destacar o que chamou de “mensagem ao Irã”, ao apresentar a Nova Postura Nuclear, dia 6 de abril; disse que “todas as opções estão sobre a mesa em termos de como negociamos com vocês”.

Não era intenção dos especialistas que esboçaram originalmente o texto da Nova Postura Nuclear no Departamento de Estado lançar nova ameaça contra o Irã, segundo fonte que se manifestou sobre o texto, no início do mês. Mas os encarregados de montar o primeiro texto reconheceram que Gates e Obama modelaram a linguagem de modo a sugerir que os EUA, agora, estão jogando mais pesado contra o Irã, segundo fonte que não quis ser identificada.

O Coordenador da Casa Branca para armas de destruição em massa, contraterrorismo e controle de armas é Gary Samore, que, antes de passar a trabalhar para o governo Obama, discutiu publicamente a necessidade de explorar o medo dos iranianos de um ataque israelense, para dar mais peso à ação diplomática sobre Teerã.

Num fórum no Instituto Kennedy em Harvard em setembro de 2008, Samore disse que o próximo governo não quer “agir de modo que impeça” algum ataque israelense ao Irã, “porque estamos usando a ameaça como instrumento político”.

Samore foi perguntado, em sessão de perguntas e respostas depois da conferência no Carnegie Endowment for International Peace em Washington na 4ª.-feira, sobre se esperava que o Irã acreditasse que os EUA usarão armas nucleares contra o Irã, caso o país dê resposta de retaliação com armas convencionais a ataque israelense. Samore ignorou a pergunta.

Parte do aparente esforço para aumentar a incerteza, no Irã, a respeito de ataque israelense, várias declarações de altos funcionários dos EUA ao longo do ano passado sugeriam que os EUA nada farão para evitar que Israel ataque o Irã. Contudo, o governo Obama já fez saber ao governo israelense, privadamente, que se opõe fortemente a qualquer ataque israelense ao Irã – ou isso, pelo menos, é o que tem noticiado a imprensa israelense.

Alto ex-funcionário da inteligência dos EUA no Irã crê que a opção nuclear levará o Irã a avançar ainda mais na direção de armas nucleares. Em e-mail para o Inter Press Service, Paul Pillar, que foi agente da inteligência nacional para o Oriente Próximo e o Sul da Ásia de 2000 a 2005, disse que os funcionários do Irã, muito provavelmente, interpretaram a nova opção nuclear como “mais uma manifestação da hostilidade dos EUA em relação ao Irã”.

A percepção de que os EUA estão declaradamente ameaçando o Irã “servirá como um dos principais incentivos para que os iranianos desenvolvam suas próprias armas nucleares”, escreveu Pillar.

Para Pillar, os iranianos “podem também ver a doutrina como tentativa de dar cobertura a ataque dos israelenses, fazendo as vezes de instrumento de contenção da retaliação iraniana, no caso de serem atacados.”

Outros analistas político-militares lançam dúvidas sobre a credibilidade da anunciada opção nuclear contra o Irã.

Para Morton Halperin, que foi diretor do Planejamento de Políticas no Departamento de Estado do governo Clinton e falou à IPS, “nada aí me parece confiável. Não acho que o governo espere que alguém acredite nisso. Mas, considerado como tema político, seria “politicamente insustentável a alternativa de tirar da mesa a possibilidade das armas atômicas”.

Jim Walsh, do Programa de Estudos de Tecnologias de Segurança do MIT, Massachusetts Institute of Technology, que teve inúmeros contatos com líderes iranianos e com agentes da segurança nacional iraniana nos últimos anos, disse à IPS que os EUA “não usarão armas nucleares contra o Irã” e que, portanto, “é bobagem” continuar a repetir e sugerir que “todas as opções estariam sobre a mesa”.

[1] Sobre o “Plano de Contingência”, ver “A Global Strike Plan, With a Nuclear Option”, William Arkin, Washington Post, 15/5/2005, em http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2005/05/14/AR2005051400071.html.
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