domingo, 27 de março de 2011

Contraponto 5045 - "De Fidel para Obama: onde os sapatos me apertam"

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27/03/2011
De Fidel para Obama: onde os sapatos me apertam


Do Tijolaço - 26/03/2011

Brizola Neto

Recolho, do site do PDT, a tradução de um dos últimos artigos publicados por Fidel Castro sobre a viagem de Barack Obama à América do Sul e o transcrevo aqui, para que todos tenham acesso. Aos 84 anos, “El Comandante” continua com a pena, o humor e a coerência histórica afiados, vejam só:

“Enquanto os reatores acidentados despejam fumaça radiativa no Japão, e aviões de monstruosa aparência e submarinos nucleares lançam mortíferas cargas teleguiadas sobre a Líbia, um país norte-africano do Terceiro Mundo com apenas seis milhões de habitantes, Barack Obama contava aos chilenos uma fábula parecida com as que eu escutava quando tinha quatro anos: “Os sapatos me apertam, as meias fazem calor; e o beijinho que me deste levo no coração”.

Alguns de seus ouvintes ficaram pasmos naquele “Centro Cultural” em Santiago do Chile.

Quando o presidente olhou ansioso o público depois de mencionar a pérfida Cuba, esperando uma explosão de aplausos, houve um silêncio glacial. Às suas costas – Ah! Feliz coincidência! – entre as demais bandeiras latino-americanas, estava exatamente a de Cuba.

Se por um segundo desse uma volta sobre seu ombro direito, teria visto, como uma sombra, o símbolo da Revolução na Ilha rebelde que seu poderoso país quis, mas não pôde, destruir.

Qualquer pessoa seria, sem dúvida, extraordinariamente otimista se espera que os povos de Nossa América aplaudam o 50º aniversário da invasão mercenária pela baía dos Porcos, 50 anos de cruel bloqueio econômico de um país irmão, 50 anos de ameaças e atentados terroristas que custaram milhares de vidas, 50 anos de projetos de assassinato dos líderes do histórico processo.

Senti-me aludido em suas palavras.

Prestei, efetivamente, meus serviços à Revolução durante muito tempo, mas nunca evitei riscos nem violei princípios constitucionais, ideológicos ou éticos; lamento não ter tido mais saúde para seguir servindo-a.

Renunciei sem vacilação a todos os meus cargos estatais e políticos, inclusive ao de Primeiro Secretário do Partido, quando adoeci e nunca tentei exercê-los depois da Proclamação de 31 de julho de 2006, nem quando recuperei parcialmente minha saúde mais de um ano depois, embora todos continuassem intitulando-me afetuosamente dessa forma.

Mas sigo e seguirei sendo como prometi: um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar.

Quando perguntaram a Obama sobre o golpe de Estado contra o heróico presidente Salvador Allende, promovido como outros muitos pelos Estados Unidos, e a misteriosa morte de Eduardo Frei Montalva, assassinado por agentes da DINA, uma criação do governo norte-americano, perdeu sua presença de espírito e começou a tartamudear.

Foi certeiro, sem dúvida, o comentário da televisão do Chile ao final de seu discurso, quando expressou que Obama já não tinha nada que oferecer ao hemisfério.

De minha parte, não quero dar a impressão de que experimento ódio a sua pessoa, e muito menos ao povo dos Estados Unidos, a cujos muitos de seus filhos reconheço o aporte à cultura e à ciência.

Obama tem agora pela frente uma viagem a El Salvador, nesta terça-feira. Ali terá que inventar bastante, porque nessa nação centro-americana irmã, as armas e os treinadores que recebeu dos governos de seu país, derramaram muito sangue.

Desejo-lhe boa viagem e um pouco mais de sensatez.
Fidel Castro Ruiz
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