domingo, 17 de janeiro de 2010

Contraponto 1177 - Chile: um passo adiante ou um passo atrás?


17/01/2010
Direita ameaça América Latina

Cidadania - Atualizado às 22h39m de 16 de janeiro de 2010

Eduardo Giumarães





Sebastião Piñera ....... Eduardo Frei

Neste domingo, no Chile, nove milhões de eleitores irão às urnas escolher o novo presidente da República. O candidato da esquerda, Eduardo Frei-Ruiz, e o da direita, Sebastián Piñera, estão tecnicamente empatados, segundo as pesquisas, depois de a esquerda ter chegado fragmentada ao segundo turno e com perspectiva de derrota.

Apesar de a mídia tentar relativizar as diferenças ideológicas entre os grupos políticos dos dois candidatos, para mim – que estive mais de cinqüenta vezes naquele país, tendo tantos amigos no Chile que nem preciso de hotel quando estou por lá – são enormes as diferenças entre conservadores e progressistas chilenos.

O Chile tem talvez a pior direita das Américas. Tenho clientes, naquele país, que montaram verdadeiros altares para o ex-ditador Augusto Pinochet em suas salas de estar. E há um que, além de Pinochet, cultua Hitler.

Amigos chilenos se dizem à beira do desespero com a possibilidade de vitória do candidato dos pinochetistas. A turma toda do ex-ditador cerrou fileiras em torno de Piñera. Sua eleição seria uma tragédia para a América Latina. E em um momento em que a direita coloca as manguinhas de fora por toda parte.

No Brasil, existe a ameaça real de a direita voltar com uma eventual eleição de José Serra. Com o governador tucano de São Paulo estão os grandes inimigos dos programas sociais. Basta acessar algum blog de política para ler seus aliados chamando o Bolsa Família de esmola ou defendendo a ditadura no âmbito da gritaria contra o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos.

Na Argentina, o governo de Cristina Fernández de Kirchner vai colhendo fracassos sucessivos que dificilmente deixarão de conduzir a direita ao poder no ano que vem. Há que reconhecer, porém, que o governo dela tem sido ruim. Após o crescimento chinês logrado no governo de seu marido, ela meteu, sim, os pés pelas mãos.

Mas a pior situação me parece a da Venezuela. Hugo Chávez perdeu o controle. Apesar de sua obra social ser a maior das três Américas e uma das maiores do mundo, politicamente e no comando da economia os erros dele são inegáveis, sem falar de suas tentações autoritárias, que vão dando uma certa razão aos seus críticos.

Então o leitor perguntará de que vale países como Argentina ou Venezuela manterem governos de esquerda se estes (desses países específicos, que fique entendido) têm sido tão questionáveis, ao que respondo que, com eles, pelo menos a pobreza foi drasticamente reduzida e a renda, distribuída, ao passo que os governos de direita mantiveram a pobreza e a desigualdade intocadas.

Nesse processo, enfim, o Brasil é o xis da questão. Se a direita recuperar o poder por aqui, haverá uma onda reacionária por toda a América Latina, com toda certeza. A vitória de Serra poderia iniciar um retrocesso social na região que fatalmente desembocaria em conflitos sociais terríveis.

Um governo brasileiro de esquerda, nos próximos anos, teria como segurar a mão pesada da direita num Chile ou numa Argentina, ainda que governos conservadores, nesses países, sejam apenas ameaça, até aqui. Ao fim deste domingo, pois, a América Latina poderá respirar aliviada ou terá que começar a se preocupar de verdade.
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