23/10/2010
José Dirceu: "o preconceito do Estadão e o esforço inútil da Globo"
Portal Vermelho - 22/10/2010
Em editorial hoje (22), o Estadão tenta explicar porque a Japan Air Lines (JAL) quebrou, apesar de socorrida pela quinta vez pelo governo japonês. A despeito do título dado ao texto — “O que a JAL nos ensina” —, parece que o jornal não aprendeu sua própria lição ao pretender nos convencer de que não foi a privatização a responsável pela falência endêmica da empresa, mas sim a má gestão e interferência política dos governos.
Por José Dirceu, em seu blog
O Estado de S. Paulo aproveita para criticar o governo Lula pela interferência política na Petrobras e na Vale. Mas os fatos — para o jornal, “ora os fatos”! — o desmentem. Todas as empresas de aviação do mundo, exceção das chinesas, vivem situação similar a da JAL. O setor é altamente subsidiado em todos os países a começar pelos Estados Unidos.
A maioria das empresas já foi estatal e suas privatizações não resolveram nada. Basta ver os casos da Ibéria (Espanha), Alitalia, Air France, British Airwais (Reino Unido), Swissair, TAP (Transportes Aéreos Portugueses). Na prática, elas constituem até hoje um monopólio.
Assim, por causa de preconceito do jornalão paulista contra a presença do Estado na economia, apesar das boas intenções, o editorial não consegue explicar a realidade. Estatais podem e devem existir em muitos setores e em muitos momentos da vida das nações, sem preconceitos e sem esse dogma de que tudo deve ser privado.
Já que falei sobre um editorial de O Estado de S. Paulo, aproveito para destacar outro, publicado há dois dias (4ª feira, 20/01). Este também um primor de defesa das posições conservadoras do jornalão paulista que enaltece de forma ampla, geral e irrestrita, sem quaisquer reparos ou ponderações, a eleição do homem mais rico do Chile, Sebastián Piñera, para a presidência do país.
“O Chile hoje se equipara ao que o mundo tem de melhor em matéria de civilidade política”, disse o Estadão naquela 4ª feira, três dias após o pleito chileno. É bom o Estadão assumir abertamente que é de direita — e das bravas! — e que defendeu e apoia um magnata na sucessão presidencial no Chile. É raro acontecer isso e é melhor do que escamotear suas posições em editoriais ou editorializando as notícias.
Esforço inútil da Globo
Bem que a Rede Globo tenta, mas não consegue esconder a revolta e a sensibilidade popular na cidade mais rica do país e no estado mais desenvolvido, há 16 anos governado pelos demo-tucanos. O povo não é bobo. Sabe que é a grande vítima das enchentes. No final são só vaias, como aconteceu ontem ao prefeito Gilberto Kassab (DEM-PSDB) no bairro do Grajaú.
Os governos tucanos não investiram na infra-estrutura da cidade e não conseguem resolver um problema simples e corriqueiro como o trazido pelos alagamentos. Kassab aplicou no ano passado menos de 10% das verbas programadas para obras contra enchentes e menos de 8% das previstas para piscinões.
Resultado: não fazem canalização e limpeza de córregos nem piscinões — esses, aliás, foram abandonados por Serra quando prefeito e por Kassab que diante das novas cheias desse ano, anunciou a retomada da construção de cinco sem dizer quando inicia e conlui essas obras. Também não investiram nas áreas de risco e nem combateram os loteamentos clandestinos, a especulação imobiliária e a ocupação desordenada da cidade.
Isso sem falar nos bilhões gastos no rebaixamento da calha do rio Tietê na capital para nada! Faltam governo, eficiência, compromisso com o povo, sensibilidade social e sobram tecnocracia, elitismo e soberba. O resultado só podia ser mesmo o que estamos vendo.
Falta ao governo Serra-Kassab humildade para pedir desculpas ao povo e reconhecer os erros que cometeu. Essa atitude é até mais grave do que a incompetência já comprovada com os fatos. Mas é isso que o país terá se cometer o erro de eleger Serra presidente da República em outubro. Diante de crises, mais cortes de gastos e mais juros. Como sempre...
E na imprensa nacional, nada...
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) pediu autorização à Assembleia Legislativa para prosseguir com o inquérito em que o vice-governador tucano Leonel Pavan é acusado, dentre outros delitos, de corrupção passiva. Pavan ia assumir o governo do Estado dia 5 e não pode. Além disso, viu o PSDB rifar, também, sua candidatura a governador esse ano.
Agora, caberá à Assembleia autorizar ou não a abertura do processo contra Pavan. A decisão sobre enviar o pedido à Casa foi unânime: os 27 desembargadores do estado votaram a favor e eles só discordaram quanto ao envio imediato, ou se o protelariam — mas 19 votaram pela solicitação já.
Pavan foi denunciado pelo Ministério Público também por advocacia administrativa e violação do sigilo funcional. Está envolvido, ainda, em denúncias de lavagem de dinheiro do narcotráfico e fraudes em licitações milionárias. Ele nega as acusações.
O inquérito a que responde foi instaurado mediante investigação da Polícia Federal. Esta o acusa de ter recebido R$ 100 mil de propina para ajudar empresários de uma distribuidora de combustíveis a recuperar a inscrição estadual cancelada por sonegação fiscal.
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