domingo, 17 de janeiro de 2010

Contraponto 1075 - Pasmem, Lula é um ser humano

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17/01/2010
Pasmem: Lula é um ser humano!

Tudo em cima 15/01/2010

Embora mediano como cinema, filme merece ser visto, pois é um registro necessário da trajetória quase milagrosa desse homem que, contra tudo e contra todos, tornou-se o presidente mais popular da história do país.


- por André Lux, crítico-spam

Eu nunca tinha ouvido falar na história do cinema de uma campanha difamatória tão contundente e sistemática como a que a chamada “grande imprensa” tem feito contra o filme “Lula, O Filho do Brasil”. Nem mesmo os ataques de católicos fundamentalistas contra a “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, chegaram a tanto. Mas para decifrar de onde vem esse ódio todo, é preciso primeiro entender como funciona a lógica da indústria cultural criada a partir de Róliudi e exportada mundo afora.

Existem duas fórmulas para se fazer filmes com pessoas pobres que são aceitas pelos donos do poder. A primeira é a do “pobre que venceu na vida e ficou rico” e a segunda a que ensina que “os pobres, apesar de não terem dinheiro, são muito mais felizes que os ricos”. Uma serve para vender a ilusão de que o capitalismo oferece oportunidades iguais a todos e para chegar lá no topo da pirâmide social basta se esforçar muito, seguir as regras e fazer muitas horas extras (de preferência sem remuneração, tipo “vestir a camisa” do patrão). Essa aproximação pode ser vista em filmes como “À Procura da Felicidade”, com Will Smith.

Já a outra funciona perfeitamente para convencer os que vivem na base da pirâmide que os ricos, mesmo tendo rios de dinheiro e acesso a tudo que existe de bom e de melhor, no fundo são todos infelizes, solitários e amargurados, enquanto os pobres são bem mais unidos, animados e felizes. Essa ladainha torpe pode ser encontrada em qualquer uma das famigeradas novelas da rede Globo ou em filmes como “Antes de Partir”, com Jack Nicholson e Morgan Freeman.

“Lula, O Filho do Brasil” não se encaixa em nenhuma dessas fórmulas, pois mostra a trajetória de alguém que saiu da miséria, lutou muito e venceu na vida, chegando a ser presidente do Brasil, mas mantendo-se fiel aos seus princípios ideológicos e políticos e sem nunca se esquecer de onde veio ou daqueles que vivem como ele viveu. Obviamente, não é o tipo de mensagem que os donos da revista Veja gostam de verem sendo veiculadas país afora, pois dá mau exemplo à "gentalha"!

Mas a verdade é que a extrema-direita hidrófoba brasileira com essa campanha de difamação toda acaba, mais uma vez, dando um tiro no próprio pé, pois faz muito barulho por quase nada. Afinal, a polêmica toda criada em torno do filme somente vai servir para levar mais pessoas aos cinemas para ver um filme que, por méritos próprios, nem merecia tamanha atenção.

Embora esteja longe de ser o desastre anunciado pela imprensa que busca o lucro acima de tudo, “Lula, O Filho do Brasil” também não é nenhuma obra prima. Em minha opinião, a culpa maior é do diretor Fábio Barreto que filma tudo de forma burocrática e não consegue tirar o melhor do excelente elenco que teve à disposição. Falta dinamismo e naturalidade ao filme que perde feio, por exemplo, para “Dois Filhos de Francisco”, que tinha temática semelhante, mas era bem melhor realizado.

Outro problema é o roteiro, que não sabe aprofundar os personagens (principalmente os secundários, como os irmãos do protagonista, que viram quase figuração) e limita muito a narrativa à relação de Lula com sua mãe, dona Lindu (a sempre confiável Glória Pires). O filme padece também da falta de conflitos e mesmo de suspense e só se sustenta devido à história de Lula, emocionante por si mesma, e à excelente atuação de Rui Ricardo Diaz que em alguns momentos parece "encarnar" o biografado.

Obviamente, a obra tem qualidades positivas, como a trilha musical de Antonio Pinto e Jacques Morelembaum, e o figurino que recria com perfeição as roupas de época, especialmente as usadas nos anos 70.

A acusação de que o filme seria eleitoreiro é uma idiotice sem tamanho. Puro delírio de quem tem preconceito e ódio irracional contra Lula, pois ele não faz em nenhum momento panfletagem político ideológica em favor do biografado, limitando-se apenas a narrar cronologicamente os fatos da vida do atual presidente. O que deve incomodar a turma da direita, além daquilo que já apontei lá em cima, é, pasmem, que o filme mostra que Lula é afinal de contas apenas um ser humano como qualquer outro. E isso torna difícil para seus detratores satanizá-lo como sempre fizeram.

Embora mediano como cinema, “Lula, O Filho do Brasil” merece ser visto, pois é um registro necessário da trajetória quase milagrosa desse homem que, contra tudo e contra todos, tornou-se, para desespero da direita, o presidente da República mais popular da história do país.
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