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Vermelho - 29/07/2010
O Conselho de Chanceleres da Unasul (União de Nações Sul-americanas) se reunirá nesta quinta-feira (29) para debater a ruptura das relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia e analisar medidas para impulsionar o diálogo e a paz entre os dois países vizinhos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou ontem que pretende exercer um papel de mediador na crise. Para ele, o tempo "é de paz, não de guerra".
Há uma semana Chávez rompeu oficialmente os laços diplomáticos com a Colômbia, após o governo colombiano fazer uma série de acusações, insinuando que Caracas teria ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército Nacional de Libertação).
"Pretendo conversar muito com o (Hugo) Chávez, muito com o Santos (Juan Manuel Santos, presidente eleito da Colômbia, que toma posse dia 7), porque acho que o tempo é de paz, não de guerra", afirmou Lula. "Falam em conflito. Mas ainda não vi conflito. Eu vi conflito verbal, que é o que nós ouvimos mais aqui nessa América Latina."
Lula disse que no dia 6 participará de uma reunião bilateral com Chávez e irá, em seguida, para a Colômbia, onde pretende acompanhar a posse de Santos e conversar tanto com ele quanto com o atual presidente do país, Álvaro Uribe.
"Temos de restabelecer a normalidade nas relações entre Venezuela e Colômbia, porque são dois países importantes para nós da América do Sul, duas grandes economias, dois países que têm grandes fronteiras."
O Brasil será representado, nesta quinta, no encontro da Unasul em Quito, pelo secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota - uma vez que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, está em missão oficial no Oriente Médio. O assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, também participará da reunião.
A reunião é uma resposta ao pedido do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que solicitou ao presidente do Equador e líder de turno da Unasul, Rafael Correa, um encontro entre as autoridades do organismo para discutir a crise diplomática.
O rompimento
Há uma semana Chávez rompeu oficialmente os laços diplomáticos com a Colômbia, após o governo colombiano fazer uma série de acusações, insinuando que Caracas teria ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército Nacional de Libertação).
Em meados de julho, o ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, afirmou ter "evidências da presença de líderes" das guerrilhas no território venezuelano, chegando a afirmar que o governo colombiano tinha conhecimento do local exato onde estaria Iván Márquez, um dos comandantes das Farc.
Entretanto, o governo da Venezuela respondeu que "em diversas ocasiões, foi verificada e constatada a falsidade de tais informações. Em oportunidades, as coordenadas transmitidas correspondiam a lugares situados no próprio território colombiano".
Mesmo assim, na última quinta-feira (22), o embaixador colombiano na OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Alfonso Hoyos, apresentou, em sessão extraordinária da organização supostas provas sobre a possível presença de guerrilheiros em território venezuelano. De acordo com Hoyos, que sustentou o argumento com fotografias, há pelo menos 87 acampamentos guerrilheiros consolidados na Venezuela e cerca de 1,5 mil rebeldes no país sob o consentimento de Chávez.
Em resposta, o presidente venezuelano rompeu com o país alegando que o anúncio foi uma "tentativa desesperada" do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de "minar o terreno para uma eventual normalização das relações bilaterais", que desde julho de 2009 estavam "congeladas", após Bogotá acusar Chávez de contrabandear armas para grupos guerrilheiros.
Em decorrência da recente crise, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um giro pela América Latina nesta semana para conversar com autoridades do Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Peru e Bolívia sobre a questão e evitar "que o governo que sai da Colômbia realize ações desesperadas que pretendam algum tipo de evento militar" contra Caracas.
Maduro mostrou a intenção de articular um “plano de paz permanente com a Colômbia”, mas foi contundente ao afirmar que, diante de qualquer ação agressiva da administração Uribe, a Venezuela irá responder com “medidas extremas de proteção”.
Na última semana, o governo da Venezuela reforçou a segurança na fronteira com a Colômbia com cerca de mil soldados, de acordo com o general Franklin Márquez, chefe do Comando Regional 1 da Guarda Nacional Bolivariana. Apesar disso, Maduro reiterou que a intenção da Venezuela não é eclodir um conflito militar.
“Faremos todos os esforços para impedir seu desdobramento militar. Mas repudiamos a agressão diplomática do governo colombiano e defenderemos nosso território diante de qualquer tentativa de violação”, argumentou.
EUA
Diante das acusações colombianas, Chávez voltou a acusar os Estados Unidos de manter uma política conjunta com a Colômbia contra Caracas. Respaldado por diplomatas, o presidente venezuelano classificou como um “circo midiático” a atitude colombiana e disse que se houver agressão militar da Colômbia contra a Venezuela, haverá medidas contra os EUA.
Durante visita a Casa Branca, o embaixador venezuelano nos EUA, Bernardo Alvarez, afirmou que a Colômbia "não faz nada sem antes informar os norte-americanos”. Já Maduro disse que todas as provocações da Colômbia e todas essas intenções agressivas têm, como pano de fundo, os norte-americanos.
“Não temos dúvidas de que existe uma estratégia elaborada pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado norte-americano para recuperar a hegemonia política que os EUA perderam na região por conta do avanço das correntes progressistas”, disse o chanceler da Venezuela.
Maduro afirmou ainda que caso a Venezuela seja agredida, medidas de proteção realmente serão tomadas contra os EUA, “a começar pelo cancelamento do comércio de petróleo e derivados com eles”.
Nova liderança
O rompimento das relações entre os dois países aconteceu menos de um mês antes do atual presidente colombiano, Álvaro Uribe, deixar o cargo e entregar a presidência ao recém eleito Juan Manuel Santos. Diante disso, centenas de colombianos que moram na Venezuela entregaram um documento ao consulado do país em Caracas exigindo que Uribe desista do confronto com Chávez e abra caminho para Santos.
No dia 14 de julho, Chávez anunciou o desejo de normalizar relações diplomáticas com a Colômbia, determinando que Maduro procurasse a futura chanceler do país vizinho para tratar dos termos de reaproximação. Porém, no dia seguinte a imprensa colombiana divulgou que Uribe apresentaria provas contundentes de presença guerrilheira em território venezuelano, minando qualquer reaproximação.
“O presidente Uribe parece movido pelo interesse de manter seu espaço como chefe dos grupos mais conservadores e belicistas de seu país. Não tivemos outra opção que não o rompimento das relações diplomáticas”, disse Maduro.
Já o representante da organização Colombianos en Venezuela, Juan Carlos Tanus, disse que a mudança de liderança pode ser um ponto positivo para a retomada das relações bilaterais. “Acreditamos que Santos se desvinculará destas iniciativas agressivas lideradas por Uribe e que a partir de 8 de agosto se possa propiciar um cenário de encontro formal para a busca da paz”, afirmou.
Anteriormente à crise, o sucessor de Uribe havia manifestado sua intenção de se reaproximar da Venezuela, chegando até mesmo a convidar Chávez para participar da cerimônia de posse, dia 7 de agosto. Porém, até agora Santos evitou comentar a ruptura de relações anunciadas pela Venezuela ao considerar que a atitude seria "sua melhor contribuição" à situação.
Negociações
Na última terça-feira (27), durante seu giro pela América Latina, Maduro chegou a sugerir a Uribe a possibilidade de uma proposta de paz com as guerrilhas que atuam na Colômbia sem "afrouxar" a luta contra o terrorismo. Entretanto Uribe rejeitou a idéia e disse que a intenção do chanceler venezuelano é criar uma “armadilha” ao governo colombiano.
"Sabemos que a cobra do terrorismo quando sente que está encurralada e que está com uma corda no pescoço pede processos de paz, para que afrouxemos a forca e para que ela possa tomar oxigênio e voltar a envenenar", disse em alusão às recentes afirmações de Maduro, que disse que levará um plano de paz para a região à reunião de chanceleres da Unasul.
Com Opera Mundi
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