terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contraponto 7342 - "Coletiva da presidenta Dilma em Havana"

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31/01/2012


Coletiva da presidenta Dilma em Havana

Do Com Texto Livre - 31/01/2012




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Comentário de Fernando de Brito do Tijolaço:

Reproduzo aí em cima o vídeo da entrevista da Presidenta Dilma Rousssef, que escapa, com firmeza, da estreiteza mental da nossa imprensa, que repete – a maioria sem saber – o discurso da guerra-fria, transformando as restrições do regime cubano como “justificativa” para toda a perseguição e bloqueio do maior – e mais armado – país do mundo a uma pequena ilha, há quase 50 anos.

É curioso que os “regimes amigos” dos EUA jamais sofram qualquer tipo de discriminação por esta questão e, com eles, seja legítimo termos relações de cooperação econômica.

Como é dever de qualquer governante que deseje a soberania de seu país, ela recusa discutir os problemas internos de outra nação.

Dilma, sem ser grosseira, ridiculariza a “idelologização” da mídia sobre a diplomacia brasileira, reaforma nossos desejo de colaborar – e não de colonizar – com as nações latinoamericanas e africanas e, na última provocação, sobre se iria ver Fidel Castro, não titubeira:

- Sim, com muito orgulho, eu vou.



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PITAOCO DO ContrapontoPIG


Dilma mais uma vez mostrando imagem de equilíbrio e seriedade

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Contraponto 7341 - "Dilma condena bloqueio econômico a Cuba "

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31/01/2012
Dilma condena bloqueio econômico a Cuba

Da Agência Brasil - 31/01/2012

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Ao visitar Cuba pela primeira vez como presidenta da República, Dilma Rousseff condenou o bloqueio econômico imposto ao país. Segundo a presidenta brasileira, a melhor forma de o Brasil ajudar o país caribenho é furar esse bloqueio e continuar investindo em parcerias que também são estratégicas para o Brasil.

"Eu acredito que a grande contribuição que nós podemos dar aqui, a Cuba, é ajudar a desenvolver todo o processo econômico", disse. "A melhor forma de o Brasil ajudar Cuba é contribuir para acabar com esse processo, que eu considero que não leva à grande coisa, leva mais à pobreza das populações que sofrem a questão do bloqueio, a questão do embargo, do impedimento do comércio".

Dilma citou as iniciativas brasileiras em Cuba que ela considera estratégicas, como a política de crédito para compra de alimentos. Por meio de um crédito rotativo, o Brasil financia para Cuba a compra de produtos alimentícios brasileiros. Essa linha oferece US$ 400 milhões em crédito.

Além disso, o programa federal Mais Alimentos financia a compra de máquinas e equipamentos para a produção de alimentos em Cuba. Nessa modalidade, o crédito oferecido ao país caribenho é de US$ 200 milhões, de acordo com informações da própria presidenta. "É impossível considerar correta a política de bloqueio de alimentos para um povo", enfatizou.

Dilma também citou a parceria para a ampliação e modernização do Porto de Mariel, estratégico para o comércio externo do país. "Trata-se de um sistema logístico de exportações de bens", disse. Dos cerca de US$ 900 milhões investidos no porto, o Brasil contribui com cerca de US$ 640 milhões. "Nós achamos que é fundamental que se crie aqui condições de estabilidade para o desenvolvimento do povo cubano", disse a presidenta.

Edição: Lana Cristina
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Contraponto 7340 - " - Santa Blogueira, Batman!"

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31/01/2012
- Santa Blogueira, Batman!


Do DoLaDoDeLa - 31/01/2012

por Lucio de Castro

Não sei se ainda é a ressaca da volta das férias, relatada aqui no último texto. Não sei nem ao certo se as coisas sempre foram e são assim ou se esse sentimento de que tudo em volta anda carregado é desses dias ou desde sempre. O fato é que os últimos dias tiveram cor de chumbo.

Não o chumbo dos anos de sufoco, mas um chumbo misturado com cinismo, com a “força da grana que mata e destrói coisas belas”, e uma sensação de que as coisas estão passando como rolo compressor por todo mundo, e a tal força da grana, o poderio econômico, a concentração de poder nos meios de comunicação e os tempos do pensamento único no mundo chegaram definitivamente para paralisar todo mundo. Com a agravante de que, em tempos de redes sociais, todo mundo se acha fazendo sua parte tuitando. É a rebeldia emoldurada em 140 caracteres.

Dias de envergonhar a espécie humana, com a barbárie do Pinheirinho, a omissão de sempre dos governantes nos prédios que desabam (como já tinha sido no bonde, nos temporais, em tantas coisas…), com o chocante relato na reportagem de Eliane Brum (sempre ela…!), “A Amazônia, segundo um morto e um fugitivo”, disponível na internet. Para completar, na semana que entra, temos a monótona, repleta de chavões e inverdades, parcial, acrítica, e muitas vezes beirando o desonesto, cobertura da visita da presidenta Dilma a Cuba. Desde já, nossa imprensa elegeu a personagem da viagem, não importando o que irá acontecer: Yoani Sánchez, a blogueira cubana. Eleita estrela pop pela imprensa mundial já há algum tempo.

Yoani Sánchez todos conhecem. Ou acham que sim. A tal blogueira que virou símbolo mundial na luta “pelos direitos humanos em Cuba”, “contra a falta de liberdade de expressão em Cuba”, etc… Não iria aqui (prestem atenção nesse trecho antes de enviar afirmações deturpadas sobre minhas opiniões… ) ignorar problemas, alguns graves, ocorridos ao longo do processo revolucionário em Cuba, desde 1959. Apenas é preciso tentar ver o outro lado sem a dose de cinismo com que geralmente a nossa imprensa o faz, assim como a maioria esmagadora da imprensa do ocidente. Sem ignorar os bloqueios, as sabotagens, as criminosas tentativas de homicídio partidas de Washington e outras variáveis. Estive na ilha por diversas e diferentes razões, e por isso gosto mais ainda dos versos de Pablo Milanez, equilibrado em reconhecer as contradições da revolução e seus méritos em “Acto de Fe”.

É preciso se despir de preconceitos, conceitos prontos e chavões para ao menos manter o senso crítico quando se vê, repetidas e monótonas vezes, a afirmação dos “desrespeitos e violação aos direitos humanos em Cuba”. Ou se fala com absoluto conhecimento de causa, se é capaz de afirmar com conhecimento e critério jornalístico, provando, ou nos resta como referência o órgão mundial que trata sobre o assunto. E segundo a Anistia Internacional, que de forma alguma pode ser apontada como conivente com Cuba, (muito pelo contrário), em parecer de abril de 2011, “no continente americano, é o país que menos viola os direitos humanos ou que melhor os respeita é Cuba. O parecer está no sítio da Anistia Internacional, em três idiomas. De qualquer forma, sempre chega a ser risível falar em “violação aos direitos humanos” vivendo no Brasil de Pinheirinhos, das remoções nas grandes cidades pelo estado de exceção que se instala por causa da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, da Candelária, do Carandiru, da reportagem acima citada de Eliane Brum… E poderíamos seguir dando tantos exemplos, infinitos, né?

O mesmo informe da Anistia Internacional dá conta de que 23 dos 27 países que votaram por sanções contra Cuba por violações dos direitos humanos são apontados pela própria Anistia como violadores muito maiores do que Cuba nos direitos humanos. O que nos leva a crer que a maior violação aos direitos humanos em Cuba está mesmo na base militar americana de Guantánamo. Quem dirá o contrário, quem será capaz?

Tampouco eu seria panfletário ou bobinho de falar em “liberdade de expressão” em Cuba. Apenas não sou panfletário ou bobinho de omitir o nosso quadro. Ou o das grandes corporações, dos barões da mídia mundiais. Alguém ignora o quanto de poderio econômico serve de filtro para o noticiário nosso de cada dia, para escolher o que vai para as páginas ou ao ar? Se não acredita, então fique esperando no horário nobre a apuração séria dos desmandos da Copa de 2014 ou 2016. Não vale algo pontual, quando o próprio interesse está em jogo…

Esqueçam as duas linhas de quatro, o 4-2-3-1 e as confusões da Turma do Didi (diretoria do Flamengo) e Luxemburgo, além da operação de Rogério Ceni. A semana que começa será de Yoani Sánchez, alguém tem dúvida? Brasileiros envolvidos na cobertura da visita de Dilma a Cuba irão procurar a blogueira. Traçarão perfis. Ela que ganhou espaço como colunista do Globo, que recebeu o Jornal Nacional esses dias e tem dado entrevista pra todos os órgãos de imprensa brasileiros, irá falar mais do que nunca. Espera-se que os envolvidos na cobertura tenham ao menos um pouco da categoria e cumpram os deveres do ofício como fez o jornalista francês Salim Lamrani, professor da Sorbonne. O único jornalista do mundo até aqui a fazer algumas perguntas elementares para Yoani. O único a estranhar que a blogueira tenha recebido Bisa Williams, diplomata americana em sua casa e não tenha revelado. O único a pelo menos questionar o que poderia estar por trás da dimensão que Yoani ganhou no mundo, além dos 300 mil euros recebidos em prêmios nos últimos tempos. Uma entrevista que vale a pena. É enorme, mas vale. Pelo menos para que possamos ter algumas interrogações quando começar a “semana Yoani”.

Aos colegas envolvidos na cobertura in loco, boa sorte. Independentemente de sistemas políticos, o que fica ao fim de tudo, sempre, é gente. Curtam essa gente especial. Em alguns momentos, não saberão se estão na Pedra do Sal, aqui em São Sebastião do Rio de Janeiro ou em Habana Vieja. Esqueçam as questões ideológicas e travem conversa com aqueles que mais rápido falam no mundo. Ninguém consegue falar mais rápido do que um cubano, quase engolindo sílabas. Esqueça os chavões, o que leu. Não comece a conversa por “companheiro”. Quem é de rua sabe que nas quebradas o papo é outro. Bote a mão no ombro, chame de “sócio”, “cumpadre”, “amigo” que seja. Vai encontrar uma gente altiva, de cabeça erguida. Na correria, como em qualquer lugar do mundo. Lembrem-se também que o mojito é na Bodeguita e o daiquiri na Floridita… E na hora em que estiver trabalhando, oxalá possa deixar os preconceitos de lado. Nem de um lado nem do outro. Do mesmo jeito que não valem as versões e protocolos oficiais, se der para relativizar pelo menos tudo o que vê de mazelas, tentar entender o contexto, ir além, vai dar para sair de cabeça erguida. Do contrário, se for mais um voltando com velhos chavões e preconceitos, será mais um a conhecer a maldição da despedida em Cuba. Consta que todos aqueles que não foram capazes de manter o equilíbrio e a correção em coberturas habaneiras, ganharam um nó eterno na garganta, adquirido na hora de ir embora e que acompanha o resto da vida, em forma de vergonha. Bate forte como arrependimento quando se pensa em tudo o que se escreveu pensando na voz do dono. Um mal que acomete a quem pecou diante de Gutemberg, e vem quando se passa pelos dizeres na saída do aeroporto (nada pode ser mais devastador):

“Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana”.
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Contraponto 7339 - "As versões sobre o Irã, por Roberto Fisk"

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Por Marco Antonio L.

No Sul 21

Já falamos sobre isso – e é ótimo para Israel que o mundo não pare de falar sobre “Irã nuclear”

Por Robert Fisk, no The Independent

É muito difícil, no jornalismo, voltar atrás na história – e raras vezes pode ser mais difícil que voltar atrás na história, no caso do Irã. Irã, a sombria ameaça da revolução islâmica. Irã xiita, protetor e manipulador do Mundo do Terror, da Síria, Líbano, Hamás e Hezbollah. Ahmadinejad, o Califa Louco. E, claro, Irã Nuclear, preparando-se para destruir Israel numa nuvem-cogumelo de ódio antissemita. Irã pronto a fechar o Estreito de Ormuz – no instante que forças ocidentais (ou de Israel) ataquem.

Dada a natureza do regime teocrático e a repressão à oposição em 2009, para não falar dos vastíssimos campos de petróleo, qualquer tentativa de injetar algum senso comum na cobertura precisa vir com alerta do ministério da saúde: “NÃO, a vida não é possível no Irã.” Mas…

p>Examinemos a versão israelense, segundo a qual, apesar de repetidas provas de que os serviços de inteligência israelenses são no mínimo tão eficientes quanto os sírios, continua a ser repetidamente trombeteada pelos amigos de Israel em todo o mundo – nenhum deles mais subserviente que os jornalistas ocidentais. O presidente de Israel avisa que o Irã está às vésperas de produzir sua bomba atômica. Que Deus nos proteja. Sim. Mas nenhum jornalista escreve que Shimon Peres, então primeiro-ministro de Israel, disse exatamente as mesmas palavras em 1996. Há 16 anos. E ninguém tampouco escreve que o atual primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu disse, em 1992, que o Irã teria sua bomba atômica em 1999. Deveria tê-la tido há 13 anos. Sempre a mesma velha história.

A verdade é que ninguém sabe se o Irã está ou não está construindo a bomba atômica. E, depois do Iraque, chega a ser engraçado ver que as velhas armas de destruição em massa voltam a pipocar com a mesma frequência com que pipocavam denúncias sobre o titânico inexistente arsenal de Saddam. Para nem falar da questão das datas. Quando tudo isso começou? O Xá. O Xá queria poder nuclear. Chegou a dizer que queria sua bomba “porque EUA e URSS têm bomba atômica” e ninguém reclamou. Os europeus correram a satisfazer o desejo do Xá. Quem construiu o reator nuclear em Bushehr foi a empresa Siemens – não alguma Rússia.

E quando o aiatolá Khomeini, Terror do Ocidente, Apóstolo da Revolução Xiita etc., assumiu o poder no Irã em 1979, imediatamente ordenou que todo o projeto nuclear fosse cancelado, porque era “obra do demônio”. Só quando Saddam invadiu o Irã – com nossas bênçãos ocidentais – e pôs-se a matar iranianos com gás venenoso (feito de componentes químicos que o ocidente lhe fornecia, é claro) foi possível convencer Khomeini a reiniciar o programa nuclear do Irã.

Tudo isso foi apagado dos registros históricos; quem inventou o programa nuclear foram os mulás de turbante negro, associados a Ahmadinejad, o doido. E Israel está obrigada a destruir essa arma terrorista para salvar-se da destruição, para salvar o ocidente da destruição, para salvar a democracia etc.

Para os palestinos na Cisjordânia, Israel é potência brutal, colonial, ocupante. Mas no momento em que se fala do Irã, a Israel brutal, colonial, ocupante é convertida em pequeno estado frágil, vulnerável, pacífico, que enfrenta iminente ameaça de extinção. Ahmadinejad – e aqui, mais uma vez, são palavras de Netanyahu – é mais perigoso que Hitler. Todo o arsenal de bombas atômicas de Israel – absolutamente reais e existentes estimadas hoje em quase 300 – some da cobertura jornalística. Os Guardas Revolucionários do Irã estão ajudando o regime sírio a destruir a oposição. Talvez estejam. Mas até hoje ninguém viu disso uma prova sequer.

O problema central é que o Irã venceu praticamente todas as suas guerras recentes, sem precisar disparar um tiro. George W & Tony destruíram o arqui-inimigo do Irã, o Iraque. Mataram milhares do exército sunita ao qual o Irã referia-se como “o Talibã negro”. E os árabes do Golfo, nossos amigos “moderados”, tremem de medo em suas mesquitas douradas, quando nós, no ocidente, pintamos o quadro de seu destino no caso de uma revolução iraniana xiita.

Não surpreende que Cameron continue a vender armas a essa gente repugnante cujos exércitos, em todos os casos, mal conseguem operar fogões de quatro bocas, imaginem se saberão operar as sofisticadas armas aladas de bilhões de dólares que nós lhes empurramos goela abaixo, sob a sombra do medo de Teerã.

Que venham as sanções. Convoquem também os palhaços.

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Contraponto 7338 - "Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres"

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31/01/2012


“Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres”

Da Carta Maior - 30/01/2012

“Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres”

Participante de atividades do Fórum Social Temático de Porto Alegre, Samuel Pinheiro Guimarães, o ex vice-chanceler de Lula e alto representante do Mercosul diferenciou, em entrevista ao jornal Página/12, a integração do comércio, falou sobre a crise econômica mundial e de suas próprias contradições. "A conta está chegando ao povo para que a pague. Os bancos e as companhias de auditoria iniciaram a crise e a montaram e depois explodiu tudo. Os governos socorreram os bancos. Os bancos seguramente vão terminar em boa situação".

(*) Entrevista concedida por Samuel Pinheiro Guimarães, no estúdio da TV Carta Maior, em Porto Alegre.

Porto Alegre - Samuel Pinheiro Guimarães está fora do Itamaraty, a Chancelaria brasileira e é considerado um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Trabalha há um ano como alto representante (diretor) do Mercosul por sugestão de Lula e aceitação unânime da Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Ele concedeu entrevista ao Página/12, em Porto Alegre:

– Não lhe toca um mundo fácil para estar responsável pelo Mercosul.

– Não, ainda que as situações sejam diferentes em diferentes países e continentes. Na Europa predominam os programas de ajuste financeiro e pressão muito forte sobre a população em geral. Todas as medidas são contra os mais pobres e contra os trabalhadores. Ao mesmo tempo estamos vendo o resultado final do processo. Os bancos sofreram prejuízos. Receberam aporte dos governos para comprar títulos. Agora os governos nacionais aumentam impostos e reduzem programas sociais e modificam a situação do trabalho para pagar dívidas. Neste ponto a conta está chegando ao povo para que a pague. Os bancos e as companhias de auditoria iniciaram a crise e a montaram e depois explodiu tudo. Os governos socorreram os bancos. Os bancos seguramente vão terminar em boa situação. Os bancos que emprestaram sabiam que os governos não poderiam pagar. Mas emprestaram. Então vão contra o povo.

– E nos Estados Unidos acontece a mesma coisa?

– É um pouco diferente. Há certa ênfase em aumentar os empregos, mas houve uma reação de direita muito grande. O governo quer aumentar impostos sobre os mais ricos e lhe dizem que isto é comunismo. Os bancos foram salvos, mas assim mesmo Barack Obama não se salva da agressão. Assim mesmo, como há certa necessidade de ajuste fiscal, o governo provavelmente acabe aumentando os impostos. A pergunta é: a quem ajustará? Aos mais ricos ou a os mais desfavorecidos?

– Ásia e China?

– É diferente. Há uma grande preocupação de que se reduza drasticamente o crescimento pelo descenso da atividade nos Estados Unidos e Europa. Não estou tão seguro de que isso aconteça. Assim mesmo as taxas de crescimento serão elevadas. Pensavam que para 2010 a taxa seria de oito e foi de dez por cento.

– Que há no fundo da crise?

– O problema é o controle político, a hegemonia política em longo prazo.

–O controle de que?

– A crise é das pequenas e médias empresas. As grandes estão bem. E os trabalhadores estão mal. Os velhos, os jovens e as empresas de porte médio estão em dificuldades. Esta crise é diferente da crise de 1929, quando o capitalismo era muito mais nacional e o grau de globalização financeira e produtiva era menor. A pressão sobre o governo para resolver a crise era maior. Hoje é menor. Com o Occupy Wall Street não chega. Há que tomar medidas. O pré-candidato presidencial Mitt Romney pagou menos de 15% de Imposto de Renda e sua secretária, 30%. A demora em resolver a crise é preocupante e a instabilidade ronda. Por sorte hoje não tem como chegar a uma guerra como a Segunda Guerra Mundial, mas cuidado com as guerras localizadas.

–A América do Sul não está em crise.

– Não. O problema é outro: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

– Não melhorou essa situação?

– Vou colocar em outros termos. Sou menos rico que o outro se ele tem mais que eu. Eu posso aumentar minha renda, mas ele pode estar se distanciando. É bom que 30 milhões de pobres tenham saído de sua situação vulnerável. Mas os super-ricos no Brasil têm rendimentos incríveis. Falo de pessoas. Os bancos não existem. Existem os acionistas dos bancos. Existem os mecanismos de concentração.

– E o Estado?

– O governo tenta concretizar mecanismos de desconcentração, como bolsa-família, a ajuda aos estudantes, a Contribuição Universal por Filho na Argentina. E está muito bem. A fonte dos problemas é a distribuição da riqueza, não do ingresso. Mas temos que lembrar que os Estados são criados pelas classes hegemônicas. Incluo aí como são escolhidos os juízes, para dar o exemplo de um setor específico. Os governos em geral são instrumentos das classes hegemônicas. O Partido dos Trabalhadores, inclusive no Congresso, não só no Executivo, ocupa uma parte do poder, não todo o poder. As classes conservadoras querem participar com suas posições ante as tentativas de redistribuição. Dá-se em todos os campos.

– Em quais?

–O que é o orçamento? É o que o governo ou o Estado arrecada com impostos. Depois se dá a luta para recuperar esses impostos. Estão os grandes empréstimos dos bancos oficiais a taxas de juros mais baixas. Os ricos estão contra as políticas sociais públicas, mas quando se aplicam querem que sejam privatizadas e terceirizadas. Falo deste assunto porque se avançou muito em tudo isso. O esforço foi muito grande, com uma resistência conservadora permanente que vem de séculos.

– Como a crise afeta os países do Mercosul?

– Hoje os países sofrem um impacto de diferente tipo. Um da China e outro dos Estados Unidos e da crise européia. Os chineses são grandes demandantes de produtos agrícolas e minerais. Isto afeta os quatro países. Isso, por um lado, gera um ingresso muito interessante. Por outro lado, a China é uma grande provedora de produtos manufaturados a preços baixos, o que afeta as estruturas industriais e o funcionamento do Mercosul em relação ao seu comércio interno. Diminuem os incentivos aos investimentos industriais. Se você é investidor não vai colocar seu dinheiro para montar uma fábrica para vender produtos manufaturados aos chineses, mas em agro ou mineração, para vender matérias primas a eles.

– É uma relação necessária e ao mesmo tempo contraditória.

– O importante é como transformar a relação com China para que os chineses contribuam com o desenvolvimento industrial. As populações são urbanas. Tem de haver emprego urbano. A agricultura emprega cada vez menos porque é de grande escala. Com a mineração acontece a mesma coisa. Além disso, os países sofrem variação de preços das matérias primas. Têm que aproveitar essas relações, mas não pensar que se pode viver eternamente delas.

– Há um ano que é o virtual chefe do Mercosul. Está satisfeito?

– Deixe-me lembrar algo. O Mercosul nasceu em 1991 sobre a base de governos neoliberais. Os que assinaram o Tratado de Asunción foram Carlos Menem, Fernando Collor, Andrés Rodríguez e Luis Lacalle, presidentes de governos tipicamente neoliberais, que pensavam na integração regional como um instrumento prévio à integração aberta com o mundo. E isso não pode ser. O regionalismo aberto é como um casamento aberto. É um contra-senso, porque os acordos de livre comércio com terceiros obviamente destruiriam o Mercosul em razão das tarifas zero. O casamento aberto implica que não há preferência. Isso dissolveria o Mercosul. Por isso ele tem que ser transformado em um instrumento de desenvolvimento industrial dos quatro países. Em qualquer sistema de integração os países maiores se beneficiam mais, mas deve haver mecanismos de compensação através da infra-estrutura. A visão atual do Mercosul ainda é de livre comércio. E essa visão choca com alguns exemplos da própria realidade. No comércio entre Brasil e a Argentina, 40% é automotivo, e não se trata de um intercâmbio surgido do comércio livre. É feito por multinacionais, não por empresinhas nacionais. Assim organizam a sua produção. Com liberdade de comércio e sem acordos, quiçá a indústria automobilística houvesse se concentrado em um só país. Terminar com essa visão, por isso, é urgente, e mais ainda pela ofensiva chinesa. O livre comércio não leva ao desenvolvimento. Leva à desintegração.

–Por onde haveria que começar?

–Por convencer os países maiores. O fundo de compensação que existe hoje é um passo muito pequeno. O Mercosul é como um carro que atolou no barro. O motorista acelera e joga barro em todas as direções, mas o carro não sai do lugar. Que fazer? Que os passageiros mais fortes saiam do carro e o empurrem. Nisso estamos. Se não é muita reunião, mas não se resolve nada. Ao mesmo tempo devo dizer que o comércio se expandiu, há muitos investimentos, principalmente dos países maiores. Mas isso é comércio. E a integração é outra coisa.

–O senhor é embaixador, foi ministro de Lula e vice-chanceler. Como foi sua formação?

–(Rindo) Uma explicação para aborrecer os diplomatas: meu tataravô ocupou o mesmo cargo.

– E outra explicação?

– Bom, na família da minha mãe havia empresários. Do lado do meu pai a família era de políticos abolicionistas e republicanos. Mas na vida a gente vai se fazendo com todas as contradições. Fui a um colégio de elite, o Colégio dos Jesuítas São Ignácio, no Rio. E ao mesmo tempo jogava futebol com os garotos das favelas. Comecei a ver o que tinha cada um e como era. Foi meu contato com as diferenças. Meu pai simpatizava com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek. Era anticlerical e ateu e me colocou num colégio de jesuítas. Eu estava em meio às contradições. O mundo é muito complexo, não? Fui à universidade para estudar Direito em 1958, uma das épocas mais politizadas do Brasil. Ingressei na política estudantil na época da política exterior independente. E em 1961 ingressei no Itamaraty.

– Qual é seu maior orgulho como vice-chanceler de Lula?

– Antes de Lula já me havia dedicado à luta contra a ALCA. Continuei e conseguimos, em 2005, que os países mais importantes da América do Sul não formassem uma área de livre comércio de toda a América. Também lembro a briga, no Brasil, contra os acordos de proteção de investimentos. A Argentina sofre muito, ainda hoje, com esses acordos que Menem assinou. O Ministério da Fazenda do senhor Antonio Palocci queria e eu não. Como sou amigo de Celso Amorim, que era chanceler, isso foi importante. Também pusemos muita ênfase na América do Sul. Foi uma diretiva do presidente Lula, mas faltava implementar. Fizemos. Aumentamos em 30% a dotação de nossas embaixadas. Obrigamos todos os diplomatas que tivessem como primeiro destino uma embaixada na América do Sul. Não na América latina, na América do Sul. É uma forma prática de compreender as realidades e as assimetrias. E bom, também está o terreno do pensamento. Já em 1975 escrevi sobre a importância de romper com o colonialismo português e com a África do Sul. Quando se estuda as coisas, a gente começa a compreender elas um pouco melhor, não é verdade?




Tradução: Libório Junior

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Contraponto 7337 - "Dilma planeja obras de infraestrutura no Haiti"


Por Marco Antonio L.

Do Vermelho.org

Haiti: Dilma vai assinar convênio para desenvolver infraestrutura

A presidente Dilma Rousseff deve ficar menos de oito horas no Haiti, após deixar Havana, no dia 1º de fevereiro, mas a expectativa é que ela faça um firme pronunciamento em relação ao futuro da missão de paz das Nações Unidas (Minustah), aquartelada no país sob comando das Forças Armadas do Brasil.

Na avaliação do governo brasileiro, o problema de segurança no Haiti já não é crônico e o momento é oportuno para a ONU começar a organizar um esforço efetivo dos países ricos em torno de um projeto de reconstrução institucional e material do país.

O essencial, de acordo com fontes ligadas à missão brasileira, é que as forças de paz deixem o país quando o Haiti tiver as mínimas condições para caminhar com as próprias pernas. Na prática, isso demanda construir a infraestrutura - ou reconstruir o que havia antes do terremoto de 2010 - básica do país. Isso significa desde a capacitação institucional, como a criação de uma nova força policial e projetos de segurança alimentar até a construção de hospitais e usinas de energia.

A presidente vai assinar um convênio com os haitianos na área de assistência de saúde, projeto a ser tocado por médicos cubanos. No que se refere à infraestrutura, Dilma deve lançar a pedra fundamental de uma usina hidrelétrica a ser construída com financiamento brasileiro, promessa antiga que pode ganhar corpo agora dentro de um projeto de financiamento da reconstrução, organizado e comandado pelas Nações Unidas.

Após o terremoto que há dois anos devastou Porto Príncipe, a capital haitiana, os países ricos se comprometeram a enviar algo em torno de US$ 2 bilhões para projetos de reconstrução. No entanto, a instabilidade política haitiana levou os países e autoridades envolvidas com o projeto, como o ex-presidente americano Bill Clinton, a recuar. Havia o receio de que o dinheiro, assim como parte da ajuda humanitária enviada ao país após o tremor de terra, pudesse ser desviado.

Desde então, no entanto, os brasileiros avaliam que houve avanços institucionais. Há cerca de um ano, o cantor popular Michel Martelly foi eleito presidente da República, com a transição de um governo democraticamente eleito para outro, de oposição. No fim do ano passado, o Congresso haitiano aprovou o programa de governo e o gabinete do primeiro-ministro.

A própria ONU avalia que a situação de segurança no país já permite o início de retirada das tropas adicionais autorizadas após o terremoto de 2010. O contingente militar, de 8.940 homens, foi recentemente reduzido para 7.340; o contingente policial, que contava com 4.391 pessoas, voltou para o nível de antes de terremoto - 3.241.

As próximas reduções de contingente serão feitas com base na situação de segurança local, que o governo brasileiro considera sob controle. Isso quer dizer que, na prática, o poder das gangues que infestavam a capital foi desmantelado e o crime no Haiti poderia ser controlado por uma nova polícia nacional, como a que está sendo treinada e organizada pelo Brasil.

Nessa situação, a avaliação que se faz em Brasília é que o presidente democraticamente eleito tem legitimidade para mediar a ajuda internacional para a reconstrução do Haiti.

Apesar de avaliar que há progressos na reconstrução institucional do país e "alívio da emergência humanitária gerada pelo terremoto", o governo brasileiro também ainda enxerga fatores de instabilidade e insegurança, principalmente aqueles que decorrem do desemprego e da precariedade em que ainda vivem cerca de 500 mil deslocados pelo terremoto. Os cálculos são que 4,6 milhões de haitianos se encontrem em situação de insegurança alimentar.

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Contraponto 7336 - "Liberdade para copiar e para ter criatividade"

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.31/01/2012
Liberdade para copiar e para ter criatividade

Jornal O Povo (CE) 28/01/2012

Riverson Rios*

"O que é preciso é uma lei que proteja o autor, que garanta seu sustento com a propriedade intelectual "

Houve um tempo, quando ainda não se conjugava o verbo copiar, em que se transcreviam partituras, se reproduziam cartões perfurados dos rolos das pianolas e se gravavam LPs em fitas cassete. Em nenhum desses casos havia o furto de um objeto, o “menos um” em uma prateleira de loja. Talvez por essa razão nada disso era considerado ilegal, mas também porque a indústria cultural conseguia criar seus ídolos e vender seus produtos.

Pode-se dizer que no mundo dos átomos todos eram felizes. Entra o mundo digital e as relações mudam. No mundo dos bits também não há o roubo físico de CDs e blu-rays das lojas, mas a cópia do original. Essa facilidade de copiar sem perda de qualidade qualquer bem cultural digitalizável e a vasta disponibilidade de conteúdo na internet assustaram os produtores de Hollywood e a poderosa indústria fonográfica norte-americana.

A sopa de letras (desculpem o paradoxo) dos atuais projetos de lei norte-americanos que eles apoiam – a Sopa e a Pipa – é mais uma tentativa de combater o compartilhamento de material protegido por direito autoral, quem sabe a definitiva.

O que precisa ser visto é que nem todo download, porém, traz prejuízo. Como afirma o renomado advogado estadunidense, Lawrence Lessig, não afeta os produtores de conteúdo baixar, por exemplo, material já disponibilizado gratuitamente pelos próprios autores (como é o caso de Paulo Coelho), de produtos que não estão mais em catálogo, de conteúdo que não é vendido em nossa localização geográfica, como muitos mangás e animés ou o download de amostras de canções para posterior compra (vejam os sites de vendas de MP3).

Do ponto de vista econômico, embora possivelmente ilegal, não há nessa ação prejuízo na venda desses produtos. É preciso notar ainda que nossa cultura sempre foi livre, sempre tivemos liberdade de apropriação e de recriação de nossos valores e costumes. Foi daí que surgiram grandes nomes como José de Alencar, Chico Anísio, Evaldo Gouveia e muitos, muitos outros que de certa forma copiaram alguma coisa de seus antecessores, sim, mas acrescentaram muita, muita dose de criatividade e inovação. Nas novas leis, a cultura da permissão e do medo imposta por parte da indústria cultural pode levar exatamente ao fim da criação. O que é preciso é uma lei que proteja o autor, que garanta seu sustento com a propriedade intelectual, mas que não iniba o criador e fomente a inovação.

E pensar que esses mesmos donos de Hollywood foram veemente contra o videocassete em seu início, como dispositivo em potencial de quebra de direitos autorais. Isso parece irônico quando se vê o número de filmes vendidos nas lojas. A pirataria deve ser combatida sim; a criatividade, não. Quem sabe se voltarmos a copiar tudo em fitas cassete deixarão de nos taxar de ilegais.


*Riverson Rios. Coordenador do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Contraponto 7335 - "O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda"

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30/01/2012


O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda


Do Viomundo - 29 de janeiro de 2012 às 16:06

Brasil: inimigo meu

por Túlio Muniz

Em Agosto de 2011, o Observatório da Imprensa publicou artigo de minha autoria, Por novos discursos midiáticos, no qual abordei o conceito de “fascismo social”, de Boaventura Santos, e adiantei o que chamo de Dispositivo Pós-Colonial, ou DPC.

Relembrando: o “fascismo social” é “um tipo de regime no qual predomina a lógica dos mercados financeiros em detrimento de grandes setores das populações, gradativamente distanciados e excluídos do campo de direitos sociais adquiridos nas últimas décadas. O risco, alerta Santos, é o da ingovernabilidade”.

Presente no Forum Social de Porto Alegre quando da expulsão dos moradores do Pinheirinho, Santos, ainda que não referisse diretamente ao seu próprio conceito, demonstrou como o “fascismo social” é presente na sociedade brasileira, e reafirmou a necessidade de se contrapor a ações como aquela, que, com o aval do Estado, beneficiam setores dominantes e opressores em detrimento do bem público e social (ver aqui).

O caso do Pinheirinho é grave e preocupante, e alinha-se a outros acontecimentos recentes de violência estatal. Entre outros, estão a carga da polícia militar contra estudantes em São Paulo (USP) e contra professores cearenses, ambos em 2011. Vale lembrar que, já neste ano, a polícia militar foi autorizada pelos governos do Espirítio Santo, do Piauí e de Pernambuco a carregar contra estudantes, em protestos contra reajustes do transporte coletivo.

Aqui há perigo. SP está nas mãos dos debilitados tucanos, do PSDB que há quase duas décadas se aliou à direita financista, mas CE, PI, PE e ES são estados governador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que demonstra que as cessões ao “fascismo social” não são exclusivos da direita, extravasaram também para a centro-esquerda, e às vezes com o silêncio conivente de partidos de esquerda.

Nos meio de comunicação convencionais, as abordagens críticas ao “fascimo social”, permanecem restritas aos espaços já consolidados (revista Carta Capital, Rede Record), com raras e bravas exceções, como a do jornalista Ricardo Boechat em seus comentários na Rádio Bandeirantes.

E eis que em meio ao caos ressurge com força o que outrora chamei de DPC, discursos e estratégias que os governos exercem sobre suas próprias populações, “impondo normas que visam tanto a justificar ocupações e dominação de territórios estrangeiros, quanto à imposição de determinações internas. Tais normas são geradas por governantes que necessitam coagir as populações nacionais e são sustentadas e difundidas pela mídia”.

A Rede Globo (não por acaso) permanece sendo o campo privilegiado de propagação do DPC. Se na TV aberta se esboça um certo pudor e contenção, estes se desnudam nos canais fechados da Globo, o que ficou patente em entrevistas recentes conduzidas por Monica Waldvogel.

Para além do bem e do mal, o DPC resulta no que se pretende, ou seja, coagir populações com discurso institucional legalista e higienista, conforme diz a Folha de S.Paulo de domingo, 29 de Janeiro: “Polícia na cracolândia é aprovada por 82% em SP”.

O que fazer nesse campo confuso, onde tanto o “fascismo social” quanto o DPC são gerados à esquerda e à direita? Talvez, estar atentos para o que muitos vem chamando de período pós-institucionais, a eclosão de movimentos não necessariamente estruturados ou vinculados à organizações governamentais e não-governamentais (nesse sentido sugiro leitura de análise de [Emir] Sader, aqui).

Entretanto, permanece relevante o papel de pensadores que se inserem na mídia para tratar de casos que passam ao largo da “neutralidade” jornalística, e exemplo disso é o artigo “Razão, desrazão”, do sociólogo e filósofo Daniel Lins no jornal O POVO de 29 de Janeiro, acerca da violência estatal no Pinheirinho: “A exclusão da loucura emerge no domínio das instituições mediadas pelo enclausuramento psiquiátrico ou social. Exilado em sua diferença intratável, o destino do louco ou do pobre é o confinamento moral, social”.

No mesmo nível de importância no combate ao DPC, estão os sites e blogues no estilo do Observatório, e tantos outros (viomundo, conversaafiada, escrevinhador, luiznassif, cartamaior, etc). Estes, mais do que a mídia convencional, primam pela proximidade entre jornalismo e pensamento. Portanto, parece urgente e preciso, cada vez mais, reforçar e manter a aliança entre opinião e reflexão, esta arma poderosa que causa horror aos jornalões, às TVs e ao poder institucionalizado.

Pinheirinho, polícia contra estudantes e professores, magistrados nababos, prédios desabando, mídia sem regulação. O Brasil, definitivamente, não precisa de inimigos externos.


*Túlio Muniz é jornalista, historiador e doutor em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.


PS do Viomundo: Não há combate possível ao fascismo social sem democratização da mídia; mídia concentrada, ascensão social despolitizada — calcada no consumismo — e governo por pesquisas de opinião são ingredientes essenciais para fomentar o “discurso da ordem”, que existe para bloquear a expansão dos direitos sociais.

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Contraponto 7334 - "Graça não está para gracinhas"

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30/01/2012

Graça não está para gracinhas

Do Tijolaço - 30/01/2012

Postado por Fernando Brito


Ao escrever o post anterior, sobre o machismo da nossa imprensa, ainda não havia tomado conhecimento das insinuações feitas pela revista Época de que a futura presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, teria recebido vantagens indevidas na empresa por conta de uma nomeação retroativa.

E, acintosamente, apesar de ser ela reconhecida por todos como pessoa que construiu uma história de competência desde que entrou há quase 30 anos, por concurso na empresa, depois de ter sido estagiária, diz que ela só ascendeu na carreira por “ter ficado amiga de Dilma Rousseff”.

Já na primeira, provocação, Graça mostrou que não está para brincadeiras.

Além das explicações oficiais da empresa, a nova presidente desafiou a Época a examinar seus contracheques e ver se ela recebeu algo indevido.

Fez muito bem.

E fará muito bem se não se enganar pela boataria que os jornais – especialmente O Globo, que nutre um especial ódio pela Petrobras – andam fazendo sobre possíveis (e naturais) troca de ocupantes de cargos de direção, como tratou ontem o blog do Zé Dirceu. Embora a armação já de início não se sustente, porque tanto Graça quanto o ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra são servidores de carreira da empresa, é bom estar atento a isso o tempo todo.

Porque O Globo não se pejou de dizer que “estava sendo criada uma diretoria” só para abrigar o petista, embora tivesse a função tivesse sido anunciada publicamente antes mesmo da eleição de Dilma Rousseff.

Hoje, no finalzinho da resposta de Dutra, o jornal se comporta como o lobo da fábula, ao reconhecer que a decisão é antiga, mas emendar dizendo que “está sendo efetivada apenas agora”.

Sabem como é: se não foi você foi seu pai, ou seu avô…


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Contraponto 7333 - "O pré-sal é nosso. A maior obra de Gabrielli"


30/01/2012
O pré-sal é nosso. A maior obra de Gabrielli



No programa Entrevista Record que vai ao ar nesta segunda feira, na RecordNews, às 22h15, depois do programa do Heródoto Barbeiro, o ansioso blogueiro procurou fazer uma espécie de balanço da gestão de Sergio Gabrielli, o mais longevo presidente da Petrobrás.

Dia 13 de fevereiro, ele passa o cargo a Graça Foster e vai ser Secretário do Governo Jacques Wagner, na Bahia.

O mote da entrevista foi uma frase de Gabrielli na Carta Capital desta semana, na pág. 18 – “A senhora do pré-sal”, sobre Graça Foster.

Disse Gabrielli:

A Petrobrás “era uma empresa fragmentada, pulverizada, que estava sendo preparada para ser vendida aos pedaços e fizemos um grande esforço no sentido contrário, de fortalecer a empresa.” (Grifo do ContrapontoPIG)

Clique aqui para ler o Mino Carta, quando diz que “O PiG (*) até hoje não consegue engolir a Petrobrás”

A primeira tarefa, diz Gabrielli, foi produzir mais petroleo, aumentar o patrimonio da empresa.

A descoberta do pré-sal se encaixa nessa estratégia.

Depois, combater a fragmentação pré-liquidação e integrar o refino, a produção, a logística.

Fazer com que as partes que os tucanos iam vender, aos pedaços, se comportassem como uma empresa só.

E abrir novos espaços de atuação: no gás e no bio-combstível.

Dar músculo à empresa para evitar que, frágil, pudesse ser passada nos cobres (como a Vale – PHA. Clique aqui para ver o video em que FHC diz que foi Cerra que mandou torrar a Vale).

(Convém lembrar que o WikiLeaks flagrou o Padim Pade Cerra a prometer à Chevron entregar o pré-sal )

Até 2015, Graça Foster vai investir US$ 224 bilhões, dos quais US$ 127 bilhões no pré-sal.

Desses US$ 224 bilhões, 95% serão produzidos no Brasil e 65% por empresas que têm sede no Brasil.

Ou seja, US$ 120 bilhões por empresas que tem sede aqui, com trabalhadores, engenheiros brasileiros.

Outra preocupação de Gabrielli foi investir na renovação do pessoal da empresa.

Hoje, mais de 52% dos funcionários da Petrobrás têm menos de 10 anos de casa.

O ansioso blogueiro observou que preservar o pré-sal para os brasileiros pode ter sido um dos principais legados do Presidente Lula, e, portanto, da gestão Gabrielli.

Como foi o processo de decisão que levou a isso ?

Gabrielli conta que, quando a Petrobrás descobriu aquele conjunto gigantesco no pré-sal, ele ponderou ao Presidente Lula que não fazia mais sentido manter o sistema de exploração que prevaleceu no governo Cerra/FHC.

Como a margem de risco da empresa exploradora do petróleo era muito alta, o Governo Cerra/FHC recebia um percentual da descoberta, e a exploradora levava a parte do leão para casa.

(Era o regime de ”concessão”, que, como se percebe, vem de “conceder”…)

Gabrileli explica que, no modelo/Lula – de “partilha”-, a União compartilha da descoberta e fica com parte dos lucros.

Além disso, a Petrobrás tem que explorar, no minimo, 30% de cada área descoberta no pré-sal.

As concorrentes disputarão os 70%.

Junto, foi criado um Fundo Social, para dirigir os lucros do pré-sal para a educação, a saúde e a inovação tecnológica.

E uma empresa já aprovada e ainda não estabelecida, a Petroleo Pré-Sal, que vai supervisionar o trabalha da Petrobrás.

Só falta o Congresso aprovar a distribuição dos royalties entre os Estados, mas isso não afeta a integridade do conceito do Governo do Nunca Dantes: o pré-sal é nosso !

Gabrielli lembrou que, para explorar o pré-sal, a Petrobrás precisou captar dinheiro no mercado financeiro internacional.

E levantou US$ 72 bilhões num dia !

Foi o maior lançamento da História do Capitalismo !

(A Urubóloga teve um troço !)

Sobre o renascimento da indústria da construção naval – uma obra da Petrobrás – ele lembou que, em 2002 (no Governo sombrio de Cerra/FHC), ela empregava dois mil brasileiros.

Hoje, emprega 60 mil !

Que horror !

Por que o PiG é sistematicamente contra a Petrobrás ?, o ansioso blogueiro perguntou.

Ah, isso é a rotina.

Depois de algum tempo, você se acostuma a uma crítica por dia.

Do que o PiG (leia-se Urubologa) não gosta ?

O PiG não gosta:

De a Petrobrás ser a principal operadora;

Do regime de partilha – prefere conceder;

Da operação de capitalização, os US$ 72 bi;

Não gosta de a União controlar a empresa;

Acha que a Petrobrás é formada por um bando de incompetentes (“bando” é deste ansioso blogueiro).

O ansioso blogueiro perguntou se devia comprar ações da Petrobrás.

Gabrielli respondeu:

A Petrobrás, com o pré-sal (ah, como a Chevron deve suspirar !) tem 30 bilhões de barris de reservas comprovadas.

Como o valor da companhia é de US$ 160 bi, isso significa que um barril de reserva comprovada sai a US$ 5.

O preço do barril de petroleo varia em torno dos US$ 100.

Uma barganha, disse ele !

(Este post e a entrevista são uma singela homanagem ao Davizinho, ao “especialista” Adriano Pires, à Urubóloga e a todos os Urubólogos, desde Roberto Campos, que queriam e querem entregar a Petrobrás às Chevron da vida.)

Paulo Henrique Amorim
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Contraponto 7332 - "O Globo publica matéria mentirosa, e reconhece que 'errou', após dura resposta de José Eduardo Dutra."

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30/01/2012

O Globo publica matéria mentirosa, e reconhece que 'errou', após dura resposta de José Eduardo Dutra.

007 BONDeblog - segunda-feira, 30 de janeiro de 2012



No último sábado (28/01), o jornal o globo publicou na capa de sua edição impressão a seguinte chamada: “PETROBRAS CRIA DIRETORIA SÓ PARA ABRIGAR PETISTA”.

Ou seja, o jornal afirmou que, o governo, controlador da empresa, e o comando de uma das maiores petrolíferas do mundo, estavam criando uma diretoria apenas (só) para arranjar uma vaga para integrante do PT, e aponta o ex-presidente do PT e também ex-presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra, como o mais cotado para assumi-la.

Na página 3 – 1o. Caderno - o referido jornal, em matéria assinada por Gerson Camarotti e Gabriela Valente, com título e sub-título, tendenciosos e baixos, afirma que... “outra decisão....é a criação de mais uma Diretoria, a Corporativa, que deverá ser usada para acomodar José Eduardo Durtra....

Essa é a visão e análise dos jornalistas, bem como a opinião do jornal, publicada em uma notinha na mesma página. Abram-se “aspas” para torpeza do texto:

“.....MAS A presidente e o PT se enfraquecem quando, ao mesmo tempo, criam um cargo de direção na Petrobras APENAS PARA EMPREGAR O COMPANHEIRO José Eduardo Dutra,....”

Lamentável que além de mentirosa, a referida matéria venha acompanhada de um texto desse nível, em que os editores do jornal utilizam o termo “companheiro” de forma pejorativa, escrevendo como se fossem integrantes de um partido de oposição.

Na edição de ontem, timidamente, não na capa, onde o globo só distorce fatos, mas, na página 18, diante de uma carta enviada por José Eduardo Dutra, que só teve publicada trechos, o jornal reconhece que “errou”.


NOTA DA REDAÇÃO: O Globo errou ao afirmar na reportagem....que a diretoria corporativa da Petrobras foi criada só para abrigar José Eduardo Dutra. A Diretoria está em gestação na empresa há cerca de dois anos. Em 2009, ela foi aprovada..........

Na sua carta ao jornal, (destacamos) José Eduardo Dutra diz o seguinte:

“A matéria(...) não se deu ao trabalho de apurar...outras empresas do mesmo porte têm diretorias equivalentes....esse assunto vem sendo discutido na Petrobras desde 2009....
A matéria em momento algum analisa se eu teria ou não capacidade para ocupar este cargo (...) 0 que importa é me carimbar como alguém que conseguiu a sua “boquinha”.

O jornal o globo, errou desta vez, como em tantas outras, por uma simples razão, ao invés de se pautar como uma empresa jornalística séria e independente, prefere atuar como braço midiático da oposição e coloca sempre uma forte dose de má-fé nas questões que envolvem o Governo Dilma ou o PT.
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Contraponto 7331 - "Tv Globo e o estupro da razão"

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30/01/2012
Tv Globo e o estupro da razão

Do Blog do Miro - 330/01/2012

Por Izaías Almada, no Blog da Boitempo:


Volto ao país depois de merecidas férias. Visto à distância, o Brasil é um país como outro qualquer. É como estar em São Paulo, por exemplo, e ler as notícias sobre países europeus, asiáticos ou sobre nossos vizinhos sul-americanos. As notícias do dia a dia são muitas vezes superficiais, sensacionalistas, procurando encobrir a natureza dos motivos pelos quais elas acontecem ou se desenvolvem.

A diferença, é claro, se dará por conta do conhecimento que temos da nossa própria realidade, os interesses e os fatores objetivos e subjetivos que se entrelaçam na informação produzida por jornais, televisões, revistas, sites e blogues.

A Rede Globo de Televisão, beneficiária e por isso mesmo defensora do golpe de Estado no Brasil em 1964 (ou seria o contrário?) chamou uma vez mais para si os olhares da nação, muitos deles cada vez mais descontentes com o que ali assistem.

Detentora de uma estratégia e de um marketing de comunicação imposto pelo poder econômico que construiu e que a sustenta, a emissora vem atravessando os anos colocando-se acima das leis e da Constituição, uma vez que o seu DNA foi formado no período autoritário mais recente da história política brasileira.

Ao se arrogar em fazer o que quer, a Rede Globo finge não ver que a ditadura já terminou e apresenta-se com aquela prepotência dos que fingem que nada de mais se passa à sua volta. Coloca-se acima da própria Constituição do país (consultar os artigos 221 e 223 da Constituição).

Talvez o braço mais forte do pequeno grupo que comanda impunemente a informação no Brasil, a “Venus platinada”, como alguns a chamaram ou ainda a chamam, não tem pelo país qualquer tipo de consideração, a não ser aquela – é claro – em benefício próprio, quando se proclama líder de audiência em vetustos programas, entre eles alguns já mofados e embolorados como “Fantástico”, “Jornal Nacional”, “Faustão”, “Programa da Xuxa” e a maioria de suas telenovelas, cujo conteúdo, aliás, é de dar enjôo em antiácido.

Baseados na antiga falácia de que a televisão produz aquilo que o povo gosta de ver, as emissoras de um modo geral e a Rede Globo em particular, mistura alhos com bugalhos propositadamente, pois sabe que um povo desinformado, confuso, indisciplinado, ignorante de seus direitos constitucionais, iludido por partidos políticos de pouca ou nenhuma expressão ideológica, é um povo paralisado e medroso.

A estratégia de desinformação coloca o cidadão diante da dúvida, da negação da própria política, do desânimo, da apatia, do medo.

Ainda assim, é possível identificar alguns bolsões de resistência a esse plano de manipulação de consciências e de votos, que transforma o país num amálgama de incertezas.

As manifestações de vários setores da sociedade quanto ao possível estupro de uma cidadã brasileira num programa de qualidade cultural zero são sinais de conscientização do entrave que representa para a democracia a existência de uma mídia partidarizada e defensora dos privilégios do poder econômico.

Imprensa livre, sim, mas não usurpadora do poder político, também ele livre, dos cidadãos e contribuintes.

Condenável sob todos os aspectos, até porque toda a armação foi para aumentar a audiência de um programa lamentável, o maior estupro não é o que a TV Globo mostrou, mas é o estupro que se faz da razão, da nossa inteligência e da própria democracia.
.Link

Contraponto 7330 - "A Cuba que Dilma visita"

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30/01/2012

A Cuba que Dilma visita



Do Blog do Emir - 29/01/2012

Emir Sader*


Assim que Fidel e seus companheiros tomaram o poder e o governo dos EUA acentuou suas articulações para tratar de derrubar o novo poder, a grande burguesia cubana e uma parte da classe média alta foram se refugiar em Miami. Bastava esperar que mais um governo rebelde capitulasse diante das pressões norte-americanas ou fosse irremediavelmente derrubado. Afinal, nenhum governo latinoamericano rebelde tinha conseguido sobreviver. Poucos anos antes Getulio Vargas tinha se suicidado e Peron tinha abandonado o governo. Os dois governos da Guatemala que tinham ousado colocar em prática uma reforma agrária contra a United Fruis – hoje reciclada no nome para Chiquita -, sofreram um violento golpe militar.


Como um governo cubano rebelde, em plena guerra fria, a 110 quilômetros do império, conseguiria sobreviver? Cuba era o modelo do “pátio traseiro” dos EUA. Era ali que a burguesia cubana passava suas férias como se estivesse numa colônia sua. Era ali que os filmes de Hollywood encontravam os cenários para os seus melosos filmes sentimentais. Era ali que um aristocrata cubano tinha importado Esther Williams para inaugurar sua casa no centro de Havana, mergulhando numa piscina cheia de champanhe. Era em Cuba que os milionários norteamericanos desembarcavam com seus iates diretamente aos hotéis com cassinos ou às suas casas, sem sequer passar pelas alfândegas. Era ali que os marinheiros norteamericanos se embebedavam e ofendiam os cubanos de todas as formas possíveis. Era para Cuba que a Pan American inaugurou seus vôos internacionais. Era ali que as construtoras de carros norte-americanas testavam seus novos modelos, um ano antes de produzi-los nos EUA. Foi em Cuba que a máfia internacional fez seu congresso mundial no fim da segunda guerra, para repartir os seus mercados internacionais, evento para o qual contrataram o jovem cantor Frank Sinatra para animar suas festas. Em suma, Cuba era um protetorado norteamericano.

Os que abandonaram o país deixaram suas casas intactas, fecharam as portas, pegaram o dinheiro que ainda tinham guardado e foram esperar em Miami que o novo governo fosse derrubado e pudessem retomar normalmente sua vida num país de que se consideravam donos, associados aos gringos.

Há um bairro em Miami que se chama Little Havana, onde os nostálgicos ficam olhando para o sul, cada vez menos esperançosos de que possam retornar a uma ilha que já não podem reconhecer, pelas transformações radicais que sofreu. Participaram das tentativas de derrubada do regime, a mais conhecida delas a invasão na Baía dos Porcos, que durou 72 horas, mesmo se pilotada e protagonizada pelos EUA – presidido por John Kennedy naquele momento. Os EUA tiveram que mandar alimentos para crianças para conseguir recuperar os presos da invasão, numa troca humanitária.

Cuba mudou seu destino com a revolução, conseguiu ter os melhores índices sociais do continente, mesmo como país pequeno, pobre, ao lado dos EUA, que mantem o mais longo bloqueio da história – há mais de 50 anos -, tentando esmagar a Ilha.

Durante um tempo Cuba pode apoiar-se na integração ao planejamento conjunto dos países socialistas, dirigida pela URSS, que lhe propiciava petróleo e armamento, além de mercados para seus produtos de exportação. O fim da URSS e do campo socialista aparecia, para alguns, como o fim de Cuba. Depois da queda sucessiva dos países do leste europeu, a imprensa ocidental se deslocou para Cuba, instalou-se em Havana Livre, ficaram tomando mojitos e daiquiris, esperando para testemunhar a ansiada queda do regime cubano. (Entre eles estava Pedro Bial e a equipe da Globo.)

Passaram-se 23 anos e o regime cubano está de pé. Desde 1959, 10 presidentes já passaram pela Casa Branca e tiveram que conviver com a Revolução Cubana – de que todos eles previram o fim.

Cuba teve que se reciclar para sobreviver sem poder participar do planejamento coletivo dos países socialistas. Cuba teve que fazer um imenso esforço, sem cortar os direitos sociais do seu povo, sem fechar camas de hospitais, nem salas de aulas, ao invés da URSS de Gorbachev, que introduziu pacotes de ajuste e terminou acelerando o fim do regime soviético.

É essa Cuba que a Dilma vai encontrar. Em pleno processo de reciclagem de uma economia que necessita adaptar suas necessidades às condições do mundo contemporâneo. Em que Cuba intensificou seu comércio com a Venezuela, a Bolívia, o Equador – através da Alba -, assim como com a China, o Brasil, entre outros. Mas que necessita dar um novo salto econômico, para o que necessita de mais investimentos.

Necessita também aumentar sua produtividade, para o que requer incentivar o trabalho, de acordo com as formulações de Marx na Critica do Programa de Gotha, de que o principio do socialismo é o de que “a cada um conforme o seu trabalho”, afim de gerar as condições do comunismo, em que a fartura permitira atender “a cada um conforme suas necessidades”.

Cuba busca seus novos caminhos, sem renunciar a seu profundo compromisso com os direitos sociais para toda a população, a soberania nacional e a solidariedade internacional. Cuba segue desenvolvendo suas políticas solidárias, que permitiram o fim do analfabetismo na Venezuela e na Bolívia e o avanço decisivo nessa direção em países como o Equador e a Nicarágua.

Cuba mantem sempre, há mais de dez anos, a Escola Latinoamericana de Medicina, que já formou na melhor medicina social do mundo, de forma gratuita, a milhares de jovens originários de comunidades carentes todo o continente – incluídos os EUA. Cuba promove a Operação Milagre, que ja’ permitiu que mais de 3 mil latino-americanos pudessem recuperar plenamente sua visão.

Cuba é um sociedade humanista, que privilegia o atendimento das necessidades dos seus cidadãos e dos de todos os outros países necessitados do mundo. Que busca combinar os mecanismos de planejamento centralizado com incentivos a iniciativas individuais e a atração de investimentos, na busca de um novo modelo de crescimento, que preserve os direitos adquiridos pela Revolução e permite um novo ciclo de expansão econômica.

Aqueles que se preocupam com o sistema politico interno de Cuba, tem que olhar não para Havana, mas para Washington. Ninguém pode pedir a Cuba relaxar seus mecanismos de segurança interna, sendo vítima do bloqueio e das agressões da mais violenta potência imperial da história da humanidade. A pressão tem que se voltar e se concentrar sobre o governo dos EUA, para o fim do bloqueio, a retirada da base naval de Guantanamo do território cubano e a normalização da relação entre os dois países.

É essa Cuba que a Dilma vai se encontrar, intensificando e ampliando os laços de amizade e os intercâmbios econômicos com Cuba. Não por acaso o Brasil só restabeleceu relações com Cuba depois que a ditadura terminou, intensificando essas relações no governo Lula e dando continuidade a essa política com o governo Dilma.


Emir Sader. Sociólogo e cientista político

Contraponto 7329 - "Navegando na contracorrente"

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30/01/2012

Crescimento econômico

Navegando na contracorrente

"Vamos nos defender adequadamente, com um pouco mais de defesa comercial", afirma o ministro. Foto: Sérgio Lima / FolhaPress

Da Carta Capital - 29.01.2012 16:28

Luiz Antonio Cintra

A despeito do mercado financeiro, o ministro Guido Mantega mantém a aposta em um crescimento de 4,5% neste ano. Na entrevista a seguir, ele menciona as variáveis que inclui em sua equação e reforça a necessidade de o País agir diante da “guerra cambial” em curso no planeta.

CartaCapital: O senhor tem anunciado que o País crescerá 4,5% neste ano. Como chegaremos lá?
Guido Mantega: Nós reunimos as condições. Em primeiro lugar, porque não somos tão suscetíveis aos problemas da economia mundial. Dependemos menos do mercado externo, temos uma exposição menor à Europa, e isso nos dá mais autonomia de voo, enquanto outros países, como a própria China, dependem muito do mercado externo. Esse é o primeiro ponto. Segundo ponto, temos um mercado interno sólido, que continua crescendo, em termos de vendas ao varejo, 8% ao ano. Nos últimos sete ou oito anos, estamos crescendo 7%, em média, e no ano passado, até o último número que tenho, chegamos a 7,7%. Então o nosso mercado continua em expansão. Terceiro ponto, estamos com um aumento do salário mínimo expressivo, de 14,3%, que vai injetar em torno de 50 bilhões de reais na economia. A massa salarial continua crescendo, tivemos, em 2011, um aumento do emprego de quase 2 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Em quarto lugar, as amarras do crédito que tínhamos estabelecido em 2011 foram eliminadas. No ano passado, começamos puxando o freio, subindo os juros, com medidas prudenciais, compulsório, IOF para o crédito ao consumo, ou seja, puxamos vários freios para dar uma controlada na economia. E os freios funcionaram. Agora estamos na direção oposta. Desde agosto de 2011, o BC passou a reduzir a taxa de juros, amenizamos as medidas prudenciais, o IOF já começamos a baixar e, portanto, estamos em um ciclo de expansão do crédito, redução do custo financeiro…

Leia mais:
A senhora do pré-sal
Pessoas com 50 anos ou mais ganham espaço no mercado de trabalho
Um novo padrão de financiamento doméstico

CC: E os investimentos?

GM: Do ponto de vista da ação governamental, temos um grande programa de investimentos pela frente. O investimento será um dos propulsores desse crescimento em 2012, mesmo porque é bom crescer com investimento, pois ele dá um crescimento de qualidade. Em segundo lugar, porque o País precisa de mais infraestrutura, de logística etc. para impedir gargalos, reduzir custos, por isso temos um programa ambicioso, eu diria, de investimentos. Só no PAC são 42 bilhões que vão estar completamente liberados no orçamento de 2012. Temos o Minha Casa, Minha Vida, da Caixa Econômica, que vai ter uma injeção de mais de 40 bilhões de reais, ou seja, estará a pleno vapor. E vale lembrar que a segunda fase desse programa terá o dobro de recursos da primeira fase. E os ministérios estão preparados. Em 2011, houve mudança de governo e, apesar da continuidade, houve também mudanças de equipes, alguns problemas nos ministérios ligados à infraestrutura, e tudo isso já foi recuperado. Realmente, o investimento vai dar uma puxada neste ano. E não haverá nenhuma contenção nessa área, ao contrário. Além dos programas sociais, que continuam todos. E vamos dar continuidade à política de solidez fiscal, sempre reduzindo a dívida pública em relação ao PIB. Essa política fiscal, mais a queda da inflação que está ocorrendo, dará graus de liberdade ao BC, que divulgou uma ata hoje dizendo que o juro irá a um dígito. Ainda que com muito mais modéstia do que a política do Federal Reserve, que desta vez foi tão longe quanto podia.

CC: Em que sentido?
GM: Bem, a taxa de juros real nos EUA é negativa. A inflação hoje lá é de 3,5%, um título de dez anos da dívida norte-americana paga 2%. A taxa básica é de 0% a 0,25%, portanto, estão trabalhando com taxas reais negativas. E o Ben Bernanke já anunciou que vai ficar assim até 2014, ou seja, perto deles somos modestos. O Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) também reduziu as taxas. No Reino Unido, também já estão praticando o Quantitative Easing. O Draghi, de certa forma, quando liberou esse crédito de 490 bilhões de euros aos bancos, também acabou soltando um crédito adicional. Então, o mundo inteiro está baixando a taxa de juros e, felizmente, nós reunimos condições aqui, com inflação em queda, com as commodities bem comportadas neste ano, ao menos é a previsão geral, também porque tiveram uma alta muito forte nos dois últimos anos. Então, ou estabiliza ou cai, ou seja, não haverá pressão inflacionária. Com a previsão de queda da atividade internacional, o mundo vai crescer menos em 2012, então isso também puxa para baixo. Assim, as pressões inflacionárias serão menores. Estamos caminhando para o centro da meta, o que abre espaço para que o BC possa dar continuidade à política de crédito que está fazendo. E os bancos públicos estarão presentes.

CC: E no caso da indústria?
GM: Vamos intensificar a defesa comercial. E só agora o aumento do IPI sobre os veículos importados vai mostrar seus efeitos, já que os estoques com tributo menor estão acabando, e vão passar aos carros nacionais. A indústria eletroeletrônica tem seus estímulos, assim como existem os estímulos para a linha branca. Outro ingrediente importante é o otimismo do brasileiro, que está confiante que 2012 será melhor do que 2011.

CC: Já tem entrado uma boa quantidade de dólares, com mais pressão sobre o -real. Isso é preocupante?
GM: A desvalorização do real que já houve, desde pelo menos julho do ano passado, como resultado das medidas tomadas, continuará. Não permitiremos a valorização do real, e o mercado já sabe disso. Temos instrumentos eficazes para atuar e vamos fazê-lo. E para a indústria é muito importante o câmbio porque, afinal de contas, a guerra cambial está pegando fogo. A medida do Bernanke vai nessa direção, é a “quantitativização” do Bernanke. Na fala do Obama, ele afirmou que criará um departamento de polícia de importações, impedindo as fraudes para defender o mercado norte-americano, ou seja, é guerra. O pessoal vai para a guerra, e nós também estamos nela. E vamos nos defender adequadamente, com um pouco mais de defesa comercial. Estamos entrando com um processo de salvaguardas para o setor têxtil, dentro das regras da OMC, evidentemente. E estamos examinando outros setores.

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Contraponto 7328 - "Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais"

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30/01/2012

Não mexerei um palito pela blogueira cubana, diz Fernando Morais

Fernando Morais foi debatedor do Fórum Social Temático

Do Vermelho - 29 de Janeiro de 2012 - 11h57

Jornalista e escritor, e portanto defensor e dependente da liberdade de expressão, Fernando Morais, reconhecido especialista em Cuba, não pretende se envolver no caso da blogueira cubana Yoani Sánchez, cuja tentativa de vir ao Brasil virou notícia nestes dias que antecedem viagem da presidenta Dilma Rousseff à ilha de Fidel Castro.

Por André Barrocal

Morais quer distância do assunto por um motivo simples: política. Amigo da revolução castrista, cujo saldo considera positivo ao povo de lá, o escritor acredita que críticas públicas ao país – e ele diz que também teria razões para criticar - só “ajudariam o inimigo”, os Estados Unidos e seu bloqueio à ilha. Yoani discorda do regime e o ataca via blog. Para Morais, ajudá-la é ficar contra a revolução.

“Sou defensor da liberdade de expressão. Mas, em primeiro lugar, defendo o direito de 11 milhões de cubanos que estão sendo espezinhados pelos americanos”, afirmou o escritor nesta sexta-feira (27), durante um debate sobre livro que lançou no segundo semestre de 2011 sobre a prisão e a condenação de cinco cubanos nos Estados Unidos, chamado “Os últimos soldados da guerra fria”.

“Em nome das minhas convicções, não posso apoiar uma moça que vem dedicando a vida a combater a revolução”, disse Morais no debate, que fez parte das atividades do Fórum Social Temático, grande encontro de esquerda. “Eu não vou mexer um palito para que essa moça venha ao Brasil.”

Quando começou a correr a notícia de que Dilma irá a Cuba – será na próxima segunda-feira (30), a primeira viagem internacional da presidenta em 2012 -, Yoani anunciou no Twitter que queria um visto brasileiro, para vir ao país. Depois, escreveu uma carta a Dilma com o mesmo pedido.

Com dificuldade para obter visto no governo Lula, a blogueira teve mais sorte agora. Quarta-feira (25), o ministério das Relações Exteriores informou que daria um visto especial de 90 dias para ela. Mas Yoani ainda precisa de autorização do governo cubano para deixar o país, e Morais, que tem contato com autoridades de lá, não pretende interceder a favor dela.

Para o escritor, apesar do tipo de crítica que Yoani faz – a falta de liberdade é a principal -, o saldo da revolução cubana não justificaria tentar derrubar o regime. No debate, ele disse que não há crianças pedindo esmola na rua, analfabetismo e (caso único no hemisfério sul) desnutrição infantil, enquanto a taxa de mortalidade infantil é a metade da vista nos EUA.

Tudo isso foi conquistado, lembrou, apesar do bloqueio norte-americano, que atrapalha o desenvolvimento cubano. O boicote começou nos anos 60 e foi reforçado nos anos 90 no governo do ex-presidente Bill Clinton, que pertence ao Partido Democrata, em tese, mais à esquerda, dentro daquilo que pode ser considerado “esquerda” nos EUA.

“Já perdi a inocência com os Estados Unidos. Na política externa, não faz a menor diferença se é democrata ou republicano”, afirmou Morais. “Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas. E quem tirou, foram os republicanos”, completou o escritor.

Para Morais, o governo Obama "não mudou absolutamente nada" na política externa americana, apesar da expectativa inicial que foi criada. Por isso, ele não acredita que haja qualquer distensão na relação entre Cuba e EUA sob o comando do atual candidato à reeleição.

Fonte: Cartamaior

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Contraponto 7327 - "Globo não engole dois pernanbucanos. O que significa 'painho' "

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30/01/2012
    Globo não engole dois pernanbucanos. O que significa 'painho'

    Do Conversa Afiada - Publicado em 30/01/2012

O jornal O Globo produziu neste domingo uma peça de preconceito.

Um pseudo perfil de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, aquele que fez – com o Nunca Dantes – uma revolução em Pernambuco, cujo símbolo é o porto de Suape.

Quando esteve lá, durante a campanha presidencial de 2010, o ansioso blogueiro assegurou que Campos dava de 10 a 0 naquele que o Globo e seus colonistas consideravam “o mais consistente”, o Padim Pade Cerra.

O título do preconceito do Globo é “Eduardo Campos, o novo painho da política do Nordeste”.

Campos faz no Nordeste, “sorrindo, o que antes o todo poderoso Antonio Carlos Magalhães fazia gritando na Bahia“ – diz o pseudo perfil.

Pergunta O Globo, naquele texto objetivo, isento, que caracteriza o PiG (*): “é um coronel moderno com mais verniz ou um socialista que prefere o Diário Oficial a O Capital ?”

(A autora deste editorial vai longe …

Acaba com um programa na GloboNews, no lugar do “Entre Caspas”.)

Ela sintetiza sua opinião assim, de forma anônima, pelas costas:

“Mas, entre os aliados (quem ? nome, endereço ? Dilma ? – PHA), paira uma desconfiança de que o político mais poderoso do Nordeste vá lhes dar uma rasteira em 2014.”

NAVALHA

O emprego da palavra “painho” – que não consta do Houaiss – tem o perfume do preconceito.

Contra as religiões afro-brasileiros.

Ou contra os nordestinos.

Ou contra os dois.

Ou uma alusão direta, frontal a Antonio Carlos Magalhães, que na Bahia também era chamado de “painho”.

Os filhos do Roberto Marinho não gostavam de ACM – forma mais frequente de chamá-lo, na Bahia.

Porque ACM governou o Brasil, em companhia do Dr Roberto e José Sarney.

Era um “presidencialismo tripartite”, cuja legitimidade provinha da Constituição do Ministro do Exércio, Leonidas Pires Gonçalves, que deu posse a Sarney, num Golpe Costitucional.

Quando o Dr Roberto, ACM e Sarney governavam o Brasil, ACM combinava com o Dr Roberto as manchetes do jornal O Globo ou a inclinação da cobertura do jn (foi sempre assim, inclinado) e o Dr Roberto mandava mudar as manchetes dos dois – para desespero dos filhos (eles não tem nome próprio) e do diretor do Globo, Evandro Carlos de Andrade.

Evandro fechava o jornal antes de ir jantar em casa – era o único diretor de jornal que jantava em casa, às 20h – e quando acordava, o jornal era outro.

Quando o Dr Roberto começou “a faltar”, Evandro chegou com um porrete na Globo (tinha sido promovido) e mandou ser “isento” com o painho.

De lá para cá, ACM virou painho na Globo.

Os filhos ingratos nem se lembram dos favores que receberam do Ministro das Comunicações de Sarney.

Nem da NEC, que painho mandou tirar do Mario Garnero (que ficou calado) para entregar ao Dr Roberto.

O painho agora é o Eduardo Campos, que dá de 10 a 0 em todos os jenios do PiG (*).

O PiG (*) não aguenta dois pernambucanos de talento numa geração só.

Lula e Campos é uma dose inaceitável.

O Estadão foi o pioneiro no preconceito: o primeiro a declarar que Campos não passava de um coronel moderno.

Pelo menos disse também que era “moderno”, observou Campos, na entrevista que deu a esse ansioso blogueiro.

E sobre os tucanos de São Paulo ?

Como chamá-los, depois de 17 anos no poder ?

De Marechais de Pinheirinho ?

Ou de coronéis obsoletos ?

Ou nem para coronéis servem ?

Já que se tornaram capitães do mato de Naji Nahas.




Paulo Henrique Amorim
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