terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Contraponto 7148 - "O que a "Privataria" revela de novo

Eduardo Guimarães

A partir do momento em que o PSDB e a (sua) imprensa descerraram a cortina de silêncio absoluto que num primeiro momento interpuseram entre o livro A Privataria Tucana e a parcela do distinto público que ainda não descobriu a blogosfera, surgiu uma tese curiosa: a obra conteria apenas denúncias “requentadas” por já terem sido publicadas por essa mesma imprensa, tese que ironicamente reconhece que o que já foi publicado sobre o caso não teria consistência, já que não teria produzido consequências àqueles que o livro acusa.

A tese tucana, compartilhada por Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja e seus tentáculos espraiados pelos quatro cantos da nação também foi aproveitada – ou reaproveitada, como se verá adiante – por uma das personagens mais freqüentes no livro da Privataria: Verônica Serra, filha do ex-tudo José Serra. No apagar das luzes de 2011, essa senhora divulgaria, através do site do ex-secretário-geral da Presidência do governo Fernando Henrique Cardoso Eduardo Graeff, desmentido que já fora divulgado outras vezes, mas que seria a primeira manifestação de Verônica após a publicação do livro.

A dar crédito à nota da filha de Serra, o leitor da grande imprensa (tucana) fica perdido. Como é possível que alguém escreva um livro com acusações tão graves sendo elas tão flagrantemente falsas quanto faz crer a nota de Verônica? O jornalista Amaury Ribeiro Jr. teria que ser um lunático, um suicida, pois é abissal o descompasso entre o que ele diz e o que diz a filha do tucano e os veículos de comunicação aliados a ele.

Vamos rever, então, a explicação única que Verônica Serra vem usando tanto que, como se poderá constatar em seguida – na reprodução do “outro lado” que a imprensa ocultou –, o jornalista Amaury Ribeiro acabou prevendo em seu livro.

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Nota de Verônica Serra à imprensa

27 de dezembro de 2011

“Nos últimos dias, têm sido publicadas e republicadas, na imprensa escrita e eletrônica, insinuações e acusações totalmente falsas a meu respeito. São notícias plantadas desde 2002 — ano em que meu pai foi candidato a presidente pela primeira vez — e repetidas em todas as campanhas posteriores, não obstantes os esclarecimentos prestados a cada oportunidade. Basta lembrar que, em 2010, fui vítima de quebra ilegal de sigilo fiscal, tendo seus autores sido indiciados pela Polícia Federal. E, agora, uma organizada e fartamente financiada rede de difamação dedicou-se a propalar infâmias intensamente através de um livro e pela internet. Para atingir meu pai, buscam atacar a sua família com mentiras e torpezas.

1. Quais são os fatos?

- Nunca estive envolvida nem remotamente com qualquer tipo de movimentação ilegal de recursos.

- Nunca fui ré em processo nem indiciada pela Polícia Federal; fui, isto sim, vítima dos crimes de pessoas hoje indiciadas.

- Jamais intermediei nenhum negócio entre empresa privada e setor público no Brasil ou em qualquer parte do mundo.

- Não fui sócia de Verônica Dantas, apenas integramos o mesmo conselho de administração.

Faço uma breve reconstituição desses fatos, comprováveis por farta documentação.

2. No período entre Setembro de 1998 e Março de 2001, trabalhei em um fundo chamado International Real Returns (IRR) e atuava como sua representante no Brasil. Minha atuação no IRR restringia-se à de representante do Fundo em seus investimentos. Em nenhum momento fui sua sócia ou acionista. Há provas.

3. Esse fundo, de forma absolutamente regular e dentro de seu escopo de atuação, realizou um investimento na empresa de tecnologia Decidir. Como conseqüência desse investimento, o IRR passou a deter uma participação minoritária na empresa.

4. A Decidir era uma empresa “ponto.com”, provedora de três serviços: (I) checagem de crédito; (II) verificação de identidade e (III) processamento de assinaturas eletrônicas. A empresa foi fundada na Argentina, tinha sede em Buenos Aires, onde, aliás, se encontrava sua área de desenvolvimento e tecnologia. No fim da década de 90, passou a operar no Brasil, no Chile e no México, criando também uma subsidiária em Miami, com a intenção de operar no mercado norte-americano.

5. Era uma empresa real, com funcionários, faturamento, clientes e potencial de expansão. Ao contrário do que afirmam detratores levianos, sem provar nada, a Decidir não era uma empresa de fachada para operar negócios escusos. Todas e quaisquer transações relacionadas aos aportes de investimento eram registradas nos órgãos competentes.

6. Em conseqüência do investimento feito pelo IRR na Decidir, passei a integrar o seu Conselho de Administração (ou, na língua inglesa, “Board of Directors”), representando o fundo para o qual trabalhava.

7. À época do primeiro investimento feito pelo IRR na Decidir, o fundo de investimento Citibank Venture Capital (CVC) – administrado, no âmbito da América Latina, desde Nova Iorque – liderou a operação.

8. Como o CVC tinha uma parceria com o Opportunity para realizar investimentos no Brasil, convidou-o a co-investir na Decidir, cedendo uma parte menor de seu aporte. Na mesma operação de capitalização da Decidir, investiram grandes e experientes fundos internacionais, dentre os quais se destacaram o HSBC, GE Capital e Cima Investments.

9. Nessa época, da mesma forma como eu fui indicada para representar o IRR no Conselho de Administração da Decidir, a Sra. Veronica Dantas foi indicada para participar desse mesmo conselho pelo Fundo Opportunity. Éramos duas conselheiras (e não sócias), representando fundos distintos, sem relação entre si anterior ou posterior a esta posição no conselho da empresa.

10. O fato acima, no entanto, serviu de pretexto para a afirmação (feita pela primeira vez em 2002) de que eu fui sócia de Verônica Dantas e, numa ilação maldosa, de que estive ligada às atividades do empresário Daniel Dantas no processo de privatização do setor de telecomunicações no Brasil. Em 1998, quando houve a privatização, eu morava há quatro anos nos Estados Unidos, onde estudei em Harvard e trabalhei em Nova York numa empresa americana que não tinha nenhum negócio no Brasil, muito menos com a privatização.

11. Participar de um mesmo Conselho de Administração, representando terceiros, o que é comum no mundo dos negócios, não caracteriza sociedade. Não fundamos empresa juntas, nem chegamos a nos conhecer, pois o Opportunity destacava um de seus funcionários para acompanhar as reuniões do conselho da Decidir, realizadas sempre em Buenos Aires.

12. Outra mentira grotesca sustenta que fui indiciada pela Polícia Federal em processo que investiga eventuais quebras de sigilo. Não fui ré nem indiciada. Nunca fui ouvida, como pode comprovar a própria Polícia Federal. Certidão sobre tal processo, da Terceira Vara Criminal de São Paulo, de 23/12/2011, atesta que “Verônica Serra não prestou declarações em sede policial, não foi indiciada nos referidos autos, tampouco houve oferecimento de denúncia em relação à mesma.”

13. Minhas ligações com a Decidir terminaram formalmente em Julho de 2001, pouco após deixar o IRR, fundo para o qual trabalhava. Isso ressalta a profunda má fé das alegações de um envolvimento meu com operações financeiras da Decidir realizadas em 2006. Essas operações de 2006 – cinco anos após minha saída da empresa – são mostradas num fac-símile publicado pelos detratores, como se eu ainda estivesse na empresa. Não foi mostrado (pois não existe) nenhum documento que comprove qualquer participação minha naquelas operações. Os que pretendem atacar minha honra confiam em que seus eventuais leitores não examinem fac-símiles que publicam, nem confiram datas e verifiquem que nomes são citados.

14. Mentem, também, ao insinuar que eu intermediei negócios da Decidir com governos no Brasil. Enquanto eu estive na Decidir, a empresa jamais participou de nenhuma licitação”.

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Dos dezesseis capítulos de A Privataria Tucana, dois deles servem ao propósito de mostrar que a estratégia de Serra e de seu entorno familiar é a de apostar no estrangulamento do contraditório ao menos na imprensa, porém visando a que a censura jornalística acabe produzindo o abandono do caso pelo Poder Judiciário.

A você que, ao ter descoberto a blogosfera, não está mais preso ao instituto da informação controlada por injunções políticas que a dita “grande” imprensa oferece ao seu domesticado público cativo, este blog oferece trechos dos capítulos 9 e 13 de “Privataria”, os quais demonstrarão que quem quer realmente se manter informado, hoje em dia, não pode mais se limitar aos meios de comunicação tradicionais.

O trecho do capítulo 9 do livro em que a tese de que suas denúncias seriam “requentadas” é literalmente moída começa no terceiro parágrafo de sua página 185, apesar de o capítulo ter início na página 181. A essa altura, o autor pergunta:

– E o que este livro tem de novo a acrescentar sobre a Decidir?

E o próprio autor responde:

– Documentos, é claro, obtidos de forma lícita, que esclarecem de vez a saga da sociedade entre as Verônicas – a Serra e a Dantas, sendo esta a irmã do banqueiro Daniel Dantas.

E Amaury prossegue:

– Os papeis comprovam que Verônica [Serra] mentiu várias vezes em sua nota [o jornalista parece adivinhar, enquanto escrevia o livro, a nota de Verônica que seria publicada semanas após sua publicação]. A empresa não fechou as portas, Verônica não deixou a empresa e o dinheiro do Opportunity e do Citibank aplicado na firma também nunca esteve na Argentina. Após cancelar seu registro de funcionamento no departamento de Comércio da Flórida em 2001, a Decidir passa a ter outro endereço (…), as Ilhas Virgens Britânicas, é claro. (…) A decidir é transformada em offshore e rebatizada como Decidir International Limited.

E Amaury segue questionando:

Qual é a função da offshore Decidir? Internar dinheiro. Onde? Na empresa Decidir do Brasil, que funciona no escritório da filha do ex-governador, localizado na rua Renato Paes de Barros, no bairro Itaim Bibi, em São Paulo (SP).

Neste ponto, uma informação que a filha de Serra jamais explicou em suas reiteradas notas:

Documento da Junta Comercial de São Paulo revela como a empresa [a Decidir das Ilhas Virgens, da qual Verônica é sócia] injeta de uma vez R$ 10 milhões, em 2006, na Decidir do Brasil [com a qual a filha de Serra diz não ter vínculos, apesar de ter recebido a dinheirama da empresa que ela tem no Caribe, e de funcionar em seu escritório em São Paulo], que muda de nome para Decidir Brasil.com.br (…) E além de funcionar no escritório de Verônica Serra (…), a Decidir brasileira tem como vice-presidente a própria filha do ex-governador.

Como se não bastasse, Amaury faz uma afirmação que, se fosse falsa, provaria que ele não está em seu juízo perfeito. Contra a afirmação de Verônica Serra de que jamais foi indiciada criminalmente, o jornalista conta uma história diferente:

– Verônica Serra foi indiciada pela Polícia Federal já no remoto ano de 2003 e é ré em processo que corre na 3ª Vara Criminal de São Paulo. Qual a acusação? Justamente a de ter praticado um crime da mesma natureza [da qual o próprio Amaury é acusado: de quebra de sigilo]. Consta do processo 370-36-2003.401.6181 (numeração atual), no qual Verônica e outros dirigentes da empresa Decidir do Brasil são apontados como autores da violação de segredo bancário.

Quem não acreditar no que leu pode investir a bagatela de três dezenas de reais e adquirir o livro A Privataria Tucana. Os documentos que contém, devidamente autenticados, foram extraídos de juntas comerciais e cartórios no Brasil e no exterior. Comprovam cada afirmação acima. Só não vou reproduzi-los aqui porque o autor tem que ser remunerado pelo serviço prestado ao país ao menos vendendo o seu livro. Afinal de contas, pirataria é com uma outra turma…

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Um comentário :

  1. O livro seria noticias requentadas, chamar o FHC o de presidente mais corrupto que o país já teve "não acrescenta nada", os artigos jornalista Hélio Fernandes, denunciou a roubalheira da privataria, só agora com o fogo amigo com o Aécio é que se pode repercutir a roubalheira, sendo uma briga de tucanos mineiros e paulista. Como sempre os EGOS do tucanos são agigantados. Eugênio.

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