R7 - 23/02/2014
Nirlando Beirão
Busquei nos jornais deste domingo as notícias sobre os anunciados protestos contra a Copa, em São Paulo.
Como estava fora da cidade, fiquei curioso. A menos de quatro meses da abertura, quero avaliar a que ponto manifestações políticas podem vir de fato atrapalhar a vida dos eventos do futebol em junho e julho.
O protesto de sábado, convocado pelas redes sociais, prometia a adesão de multidões. Apareceram os habituais gatos-pingados.
Leio os jornais e fico perplexo: detalhes sobre as eventuais pancadarias, o tal “esquadrão ninja” da Polícia Militar, agressões a jornalistas, prisões de muita gente, vandalismo contra agências bancárias – enfim, nada de novo.
O que era novidade os jornais não contaram: a manifestação contra a Copa foi um fracasso. Queria ver isso escrito – um fracasso. Por que é que os jornais se recusam a estampar essa verdade evidente, tão cristalina?
Mil pessoas estavam no protesto. Na mesma hora, algumas dezenas de milhares caíam no samba. O bloco de homenagem ao Caetano Veloso, Tarado Ni Você, arrastou mais de 20 mil foliões não muito longe dali dos blac blocs tristes e exibicionistas (outros 40 blocos estavam se esbaldando em São Paulo enquanto os frangotes anti-Copa e anti-tudo tentavam emanar a felicidade geral e irrestrita).
A imprensa está exagerando no poder dessa meia-dúzia de inconformados mimadinhos (e, muitas vezes, covardemente violentos). Aos jornais interessa manter esse suspense artificial criado pela minoria insignificante do #NãovaiterCopa. A brincadeira mixou, os jornais fingem perceber que não.
Não fica bem dizer que não vai ter protesto – ou que eles, se ocorrerem, não terão o menor efeito, o menor significado. O bacana é dizer, com ares de sabichão: não sei, não, o pau vai quebrar.
Os jornais se deixam levar pelo culto ao protesto como se fosse uma causa nobre (outros, com a agenda política do golpe, mais fariseus, mais finórios, torcem para bagunçar o País em ano eleitoral).
O que aconteceu em junho de 2013 foi importante. Mas não tem nada a ver com os surtos da atual moléstia infantil do protestismo.
As aves agourentas vaticinaram que os estádios não ficariam prontos – e quase todos já estão. Que a roubalheira iria grassar. Gostaria que me dessem evidências reais – e não aquele lero-lero catastrofista dos taxistas. Profetizou-se o caos. A Copa caminha para se realizar dentro da maior normalidade.
A Copa não vai esconder os duros problemas do Brasil. Tampouco é responsável por eles. A Copa é só a Copa. Melhor relaxar e aproveitar.
Nirlando Beirão. Jornalista e escritor, é colunista do Jornal da Record News, comandado por Heródoto Barbeiro. Foi colunista do Estado de S. Paulo, de Carta Capital e do Correio Braziliense, editor de Veja e Istoé e fundador de Caras, Wish Report e Status. É diretor-adjunto da revista Brasileiros. Contato: nirlandobeirao@r7.com
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