jornal GGN - seg, 17/02/2014 - 12:09
- Atualizado em 17/02/2014 - 12:41
Sugerido por mcn
Esse é o título do simpático blog da BBC
Brasil, que "traz contribuições de um grupo de estudantes de Oxford em
viagens por diferentes cidades brasileiras ao longo de 2014". A primeira
postagem é de 31 de janeiro. Duas estudantes participaram até agora.
Os posts são ótimos. Ao mesmo tempo em
que se surpreendem com o jeito brasileiro de ser, como as dificuldades
da blogueira Lily Green com nossas gírias e regionalismos (LINK), há também acuradas observações sobre nossos problemas mais sensíveis, como machismo, racismo e segregação.
Do BBC Brasil
Yara Rodrigues Fowler - Estudante, Universidade de Oxford
Sou metade brasileira, metade
britânica. Nasci e fui criada em Londres, mas, em viagens frequentes e
contato com a família de minha mãe, criei laços que fazem de mim uma
cidadã de dois países.
Amo o Brasil, mas, entre o Natal e o
Ano Novo, época em que geralmente visito minha família em São Paulo, um
episódio me fez lembrar um aspecto da sociedade brasileira que me deixa
envergonhada. A empregada estava de folga e ofereci cozinhar para a
minha família. Éramos umas 15 pessoas no total. Aprendi a cozinhar com
meus pais e, desde que fui para a faculdade, dois anos atrás, cozinho
praticamente todos os dias.
A maior parte da minha família adotou o
discurso do "deixa disso" e não conseguia entender por que eu queria ir
para a cozinha. "Imagine! Deixa que a gente chama uma pizza!" Cozinhar
não era normal. Lavar a louça, jamais! Eu insisti e, no final, acho que
todos aprovaram meu espaguete com camarão, alho, limão, um pouquinho de
pimenta e nozes.
Minha família brasileira é de classe
média, daquelas com médicos, engenheiros e advogados. O interessante é
que minha família inglesa é bem parecida no que diz respeito a
profissões. A diferença? Todo mundo cozinha, lava louça e arruma a
própria casa. Na Inglaterra, ter uma empregada cuidando de tudo é coisa
de paródia de aristocrata inglês.
Também sempre estranho quando vejo, em
São Paulo, prédios com um elevador "social" e outro de "serviço". O
texto da lei contra discriminação, geralmente dentro do elevador, torna a
divisão ainda mais óbvia. Outra coisa que me chama a atenção são as
babás e empregadas de uniforme, ou com suas roupas brancas.
Eu não sei como reagir. Usar o
elevador "social" faz com que eu me sinta muito envergonhada. Deixar o
meu prato para uma empregada de uniforme lavar faz com que eu me sinta
muito envergonhada. A segregação e o regime de servidão praticados pela
classe média do Brasil me deixam muito envergonhada. Por que sinto essa
sensação? Porque, ainda que more longe, sou parte deste país.
Me parece que a classe média do
Brasil, em geral, está insensível a isso. É uma insensibilidade
manifesta, por exemplo, na exigência de um uniforme que mascara a
individualidade das pessoas - que faz com que certos grupos ignorem e se
sintam bem com a segregação com qual vivem na sua vida diária. São as
'damas de branco' que cuidam de filhos alheios, o elevador de serviço, o
quarto de empregada sem janela... É o apartheid à brasileira.
Em Londres, onde eu cresci, existe
desigualdade social, econômica e racial que também é visível no dia a
dia. Oxford, a universidade onde eu estudo, tem poucos estudantes de
classes mais pobres. Não existe utopia na Inglaterra. Por outro lado,
não me parece existir um sistema de dessensibilização tão forte. Quando
eu era criança, estudei em uma escola pública, brinquei no parque
público, e não convivi com instrumentos tão óbvios de segregação no dia a
dia.
Peço desculpas se ofendi alguém com
minha crítica. Minha sensação vem das experiências que tive do Brasil
que nunca irão representar o todo. Eu gostaria muito de saber o que
jovens da minha geração acham deste assunto e se eles acham que a
mentalidade está mudando no Brasil. O que vocês acham?
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PITACO DO ContrapontoPIG
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PITACO DO ContrapontoPIG
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500 anos de Casa Grande e Senzala , deixam marcas.
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Possuímos uma elite formada nesta visão de superioridade.
Mentalidade de elite egoísta e perversa que passa, sem que se note, inclusive como padrão de comportamento para as classes menos ricas.
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Excelente o artigo da conterrânea de dupla cidadania, e que vive mais fora do que dentro desse nosso país. Isso é exemplo para os que se pautam pela nossa mídia vagabunda que repercute mentiras e preconceitos como virtudes para essa nossa elite bizarra e hilariante e um povo que sem opções de conhecimentos reverbera preconceitos contra sí mesmo a a partir do que vê, ouve e lê dos meios de comunicações colonizados e colonizadores de mentes vadias!...
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