sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Contraponto 13.300 - " Lula sobre candidatura: 'É uma questão para o futuro' "

247 – O ex-presidente Lula inicia nesta sexta-feira 14, em Minas Gerais, seu périplo em apoio aos candidatos do PT nas eleições de outubro. Em entrevista ao jornal mineiro O Tempo, o cacique petista falou do cenário político no estado, de um possível retorno à política, da violência nas manifestações populares e deu uma curta, mas contundente, declaração sobre a Ação Penal 470, o chamado 'mensalão'.

Questionado sobre seu futuro político, e se pretendia se candidatar novamente, o ex-presidente voltou a deixar a resposta no ar. "Eu já disse que não tenho vontade de disputar eleição novamente. Mas essas coisas não dependem só da vontade pessoal. De qualquer forma, é uma questão para o futuro, em 2014 a nossa candidata é a presidente Dilma", declarou o petista.

Exaltou as manifestações populares, lembrando que "quanto mais participativa a democracia, melhor" e ressaltando a necessidade de que "os governos devem dialogar com os movimentos". Condenou, no entanto, a violência registrada nos protestos e que levou à morte do cinegrafista Santiago Andrade. Para ele, "a violência é inaceitável". "Quem recorre à violência perde a razão e obriga o Estado democrático a agir para impedi-la", alertou.

No fim da entrevista, Lula foi questionado se considera a Ação Penal 470 um julgamento político e, com isso, que seus condenados sejam "presos políticos". A resposta, curta, voltou a ser uma crítica ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, como fez Lula por duas vezes no último fim de semana (veja aqui). "Só vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 quando o julgamento estiver concluído. Mas é óbvio que a Suprema Corte não é lugar para fazer política. Quem quer fazer política deve filiar-se a um partido e assumir as suas posições em praça pública".

No lançamento da "Caravana Horizonte Paulista", do pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, Lula não pôde estar, assim como no lançamento da pré-candidatura da presidente Dilma Rousseff pelo PT, em São Paulo, na última segunda-feira, quando o ex-presidente viajou para Nova York. Hoje, porém, ele participa da "Caravana da Participação", em Belo Horizonte, ao lado do pré-candidato ao governo de Minas e ex-ministro Fernando Pimentel (leia aqui).

Abaixo, a íntegra da entrevista, publicada no site do Instituto Lula:

'Vamos trabalhar para que Pimentel tenha apoio do PMDB'

ISABELLA LACERDA
O petista, que está hoje em Belo Horizonte para o lançamento da pré-candidatura de Fernando Pimentel ao governo de Minas, afirma em exclusiva a O TEMPO que para ganhar a eleição é preciso mostrar as fragilidades do PSDB e não descarta ser candidato de novo.

O salário mínimo vem tendo ganho real nos últimos anos. O senhor, que foi um líder sindical atuante, acha que trabalhador tem condições de sobreviver atualmente com R$ 724?

Nós sabemos que o mínimo não é o sonho do trabalhador. Em 2002, o salário mínimo era de apenas R$ 200, e não chegava a US$ 100. De 2003 até hoje, já teve mais de 70% de aumento real. Chegou a R$ 724, que são cerca de US$ 300, e vai continuar crescendo nos próximos anos. O governo anterior dizia que era impossível aumentá-lo sem quebrar a Previdência Social. Demonstramos que isso era falso. Negociamos com as centrais sindicais uma política de valorização permanente do salário mínimo, que passou a ter aumento acima da inflação. Além de melhorar a vida dos trabalhadores, o aumento do salário mínimo amplia o consumo popular e fortalece o mercado interno, que é o esteio da nossa economia. E a Previdência não quebrou.

O senhor é a favor das manifestações de rua em curso no país desde junho de 2013? Como o governo deve tratá-las, considerando ser a Copa do Mundo o alvo de muito desses protestos?

O Brasil é uma democracia, e as manifestações pacíficas fazem parte da vida democrática. Na última década, a sociedade se mobilizou e obteve conquistas extraordinárias. A população descobriu que vale a pena manifestar-se, que isso ajuda o país a avançar. Quanto mais participativa a democracia, melhor. E os governos devem dialogar com os movimentos, atendendo o que for justo e possível. A violência, no entanto, é inaceitável. Quem recorre à violência, perde a razão e obriga o Estado democrático a agir para impedi-la. Uma Copa do Mundo traz muitos benefícios para o país que a realiza. É por isso que existe uma disputa tão grande para sediá-la. Além das vantagens esportivas, como a construção e reforma de estádios, a Copa aumenta o turismo, gera empregos, amplia a infraestrutura e melhora a mobilidade urbana. É natural que ocorram protestos, pois alguns grupos aproveitam a visibilidade do evento para divulgar as suas causas. Mas a imensa maioria do povo brasileiro está feliz com a realização do Mundial no Brasil e percebe os benefícios para o país e espera que seja um sucesso.

Por que a transposição do rio São Francisco ainda não foi concluída e a obra hoje encontra-se em muitos pontos abandonada? Foi um erro?

A transposição, que na verdade é uma integração de bacias, é uma obra fundamental para o Nordeste brasileiro. Um sonho da maioria dos Estados nordestinos desde os tempos de D. Pedro II. Ela vai promover uma revolução produtiva e social no semi-árido. Por isso, não hesitei em apoiá-la, mesmo sabendo que enfrentaria muitas incompreensões, sobretudo daqueles que não conhecem o sofrimento do sertanejo com a falta de água. E ela não está parada não. Há trechos praticamente concluídos e muitos que estão avançando. Alguns estão suspensos por decisões judiciais. Mas, com paciência e perseverança, todos os obstáculos serão vencidos.

Qual é o futuro político do senhor? Disputaria uma nova eleição ou poderia fazer parte de um novo governo da presidente Dilma?

Não deixei de ser um militante político porque saí da Presidência. A política é essencial na minha vida. Eu vou ser um ativista político até morrer, pois acredito que essa é a melhor maneira de mudar a sociedade, de combater as injustiças, a pobreza e a desigualdade. Eu já disse que não tenho vontade de disputar eleição novamente. Mas essas coisas não dependem só da vontade pessoal. De qualquer forma, é uma questão para o futuro, em 2014 a nossa candidata é a presidente Dilma. E acho que ela tem grandes chances de ganhar. Não pretendo ter nenhum cargo no segundo mandato de Dilma, quero continuar ajudando ela do meu jeito. Além do mais, no Instituto Lula estamos fazendo um trabalho de cooperação com a América Latina e a África que me entusiasma muito e que pretendo continuar.

Qual a maior virtude e o maior defeito da presidente Dilma Rousseff no comando do país?

A maior virtude é trabalhar duro e com muita competência. Tudo que ela pega, ela se empenha e resolve. Ela nunca larga uma tarefa pela metade. Acaba sendo um pouco mãe das coisas. E a população percebe isso, sente que o Brasil está nas mãos de quem sabe cuidar do país. O defeito dela é não ser corintiana.

Qual vai ser a estratégia do PT em Minas para vencer a hegemonia do senador e candidato tucano à Presidência, Aécio Neves? Haverá aliança com o PMDB?

O PT de Minas e os partidos aliados é que vão definir a nossa estratégia. Mas eu acho que devemos mostrar as limitações e fragilidades do governo tucano e o que pode melhorar com o PT. Na verdade, quase todas as obras importantes e as ações sociais que acontecem em Minas são com dinheiro do governo federal. Já era assim no meu governo e aumentou com o governo de uma mineira. Às vezes o Estado troca o nome dos programas, mas a maior parte do dinheiro continua sendo federal. Temos um ótimo pré-candidato, o ministro Fernando Pimentel, que está inclusive liderando as pesquisas, e vamos trabalhar para que ele seja apoiado pelo PMDB e por todos os partidos da base do governo federal. Tenho certeza de que o PT, como sempre, fará sua campanha dialogando em todo o Estado com os movimentos sociais, a juventude, a intelectualidade, o empresariado e os setores que desejam um novo rumo político e social para Minas.

O combate à pobreza e mais investimento na educação vão ter que esperar mais uma década?

O combate à pobreza e a melhoria da educação foram as maiores prioridades do meu governo e continuam sendo no da Presidenta Dilma. E isso muito antes do pré-sal. Basta dizer que, sem um tostão do pré-sal, só com recursos do Orçamento, conseguimos tirar 36 milhões de pessoas da miséria e levar 40 milhões para a classe média. Foi a maior ascensão social coletiva que o Brasil já conheceu, fruto de um conjunto de programas, principalmente do Bolsa Família, que foi premiado pela ONU como o melhor programa de combate à pobreza do mundo. A Dilma aprofundou esse trabalho, com o Brasil Sem Miséria. Sobre a educação, os números falam por si.

Nesses 11 anos, elevamos o orçamento do Ministério da Educação de 33 bilhões em 2003 para R$ 101,86 bilhões em 2013. Com isso, foi possível ampliar todas as universidades federais existentes, criar 17 novas universidades e espalhar 126 novos campi pelo interior do país. Em Minas Gerais, foram trës novas universidades: a Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), a Federal de Alfenas (Unifal) e a Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), além de três novos campi das universidades de Juiz de Fora e de Uberlândia. Criamos em uma década mais escolas técnicas federais do que haviam sido criadas em todo o século anterior. Sem falar no Pro-Uni, que já possibilitou o acesso de 1,4 milhões de jovens da periferia ao ensino superior. E poderíamos acrescentar o FUNDEB, o FIES, a Universidade Aberta, o Piso Nacional do Magistério etc. Tenho muito orgulho de ter sido, junto com o saudoso José Alencar, o governante que mais fez pela educação brasileira, da pré-escola à pós-graduação. Também nessa área, a Dilma está avançando muito, com o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras, por exemplo.

O senhor concorda com a tese de que o julgamento do mensalão foi político e que, portanto, os envolvidos são "presos políticos"?

Só vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 quando o julgamento estiver concluído. Mas é óbvio que a Suprema Corte não é lugar para fazer política. Quem quer fazer política deve filiar-se a um partido e assumir as suas posições em praça pública.

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