Jornal GGN - qua, 26/02/2014 - 10:22
Sugerido por Gão
Do Diálogos do Sul
Moniz Bandeira: Venezuela é a próxima vítima dos EUA
Por FC Leite Filho*
O politólogo Moniz Bandeira, autor do
livro “A Segunda Guerra Fria”, advertiu que os episódios que acontecem
Venezuela são um produto da mesma estratégia aplicada nos países da
Eurásia, na chamada “Primavera Árabe” e outra vez na Ucrânia.
Segundo Moniz, autor de mais de 20
livros – sobre as relações dos Estados Unidos com a América Latina e
agora com a Europa e a Ásia-, há um esquema de Washington para subverter
os regimes, que foi aperfeiçoado, desde o governo de George W. Bush, e
começa com o treinamento de agentes provocadores.
Tais agentes infiltrados organizam
manifestações pacíficas, com base nas instruções do professor Gene
Sharp, no livro From Dictatorship to Democracy, traduzido para 24
idiomas e distribuído pela CIA e pelas fundações e ONGs.
O objetivo é levar os governos a
reagirem, violentamente, e assim serem acusados de excessos na repressão
das manifestações e de violar os direitos humanos, o que passa a
justificar a rebelião armada, financiada e equipada do exterior e,
eventualmente, a intervenção humanitária, explica o politólogo.
A estratégia, ainda segundo Moniz
Bandeira, hoje residindo na Alemanha, consiste em fomentar o “Political
defiance”, o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey,
especialista da Joint Military Attaché School (JMAS), operada pela
Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um
governo e conquistar o controle das instituições, mediante o
planejamento das operações e a mobilização popular no ataque às fontes
de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente.
Ela visa a solapar a estabilidade e a
força econômica, política e militar de um Estado sem recorrer ao uso da
força por meio da insurreição, mas provocando violentas medidas, a serem
denunciadas como “overreaction by the authorities and thus discrediting
the government”.
A propaganda é “a key element of
subversion” e inclui a publicação de informações nocivas às forças de
segurança, bem como a divulgação de rumores falsos ou verdadeiros
destinados a solapar a credibilidade e a confiança no governo, diz o
politólogo brasileiro.
Trata-se do que o coronel David Galula
definiu como “cold war revolutionary”, atividades de insurgência que
permanecem, na maior parte do tempo, dentro da legalidade, sem recorrer à
violência.
Assim aconteceu na Sérvia, na Ucrânia,
Geórgia e em outros países, pela Freedom House e outras ONGs americanas,
que instigaram e ajudaram com o emprego de ativistas a impulsar as
demonstrações na Síria, como expôs Moniz Bandeira documentadamente em “A
Segunda Guerra Fria”. Agora está sendo aplicada na Venezuela e,
seguramente, tentam aplicar no Brasil com os black block.
As conclusões de Moniz Bandeira estão
fartamente no livro “A Segunda Guerra Fria”, editado recentemente pela
Editora Civilização Brasileira, inclusive com edição em e-book nas
diversas ofertas do mercado.
“A Segunda Guerra Fria”
Os Estados Unidos por trás das revoltas
da chamada Primavera Árabe e como mentor dos atos de terrorismo de
Estado no Oriente Médio, são algumas das conclusões do novo livro do
cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, há 17 anos residindo na
Alemanha, e que chega ao Brasil sob o título “A Segunda Guerra Fria –
Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos – Das rebeliões na
Eurásia à África do Norte e Oriente Médio”.
É lançado pela Editora Civilização Brasileira, com prefácio do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Aprofundando e atualizando as questões
apresentadas em “Formação do Império Americano”, seu último livro sobre a
região, de 2005, traduzido até para o chinês, o autor de mais de 20
obras e considerado a maior autoridade na análise da influência da
política norte-americana no Brasil e no continente, faz algumas
revelações, nesta obra, que deixariam pasmado qualquer observador menos
atento da cena internacional:
“Foram a CIA e o Inter-Services
Intelligence (ISI) do Paquistão e o Ri’ãsat Al-Istikhbãrãt Al-’Ãmah, o
serviço de inteligência da Arábia Saudita, que institucionalizaram o
terrorismo em larga escala, com o estabelecimento de campos de
treinamento no Afeganistão, a fim de combater as tropas da União
Soviética (1979-1989), fornecendo aos mujahin toda sorte de recursos e
sofisticados petrechos bélicos – de 300 a 500 mísseis antiaéreos
Stinger, dos Estados Unidos”. Antes, ele havia assinalado logo no
início, à página 37, que o terrorismo, na realidade, não era novo e nos
anos 1960 e 1970, tanto a Organização para a Liberação da Palestina
(OLP), quanto a Frente de Libertação Nacional (FLN), da Argélia, e a
Frente de Libertação da Eritreia (FLE) recorreram a esse método de luta,
sem que configurasse ameaça internacional. Tais ações seriam parte da
estratégia dos Estados Unidos e da Europa para travar a influência,
primeiro da União Soviética, e depois da Rússia e da China naquela
parte do mundo que controla dois terços da produção mundial de petróleo.
Outros dados da operação afegã: ”A CIA
forneceu em torno de 3,3 bilhões de dólares, dos quais pelo menos a
metade proveio da Arábia Saudita. Mais de US$ 250 milhões fluíam
mensalmente, para os mujahidin da Arábia Saudita e de outros países
árabes… Entrementes, agentes do ISI e da CIA recrutavam e treinavam
entre 16.000 e 18 mil mujahihin, aos quais Usamah (Osama) bin Ladin uniu
um contingente de 35.000 árabes-afegãos. O MI6 (Secret Intelligenece
Service), da Grã Bretanha, também colaborou na operação, apoiando, com
equipamentos de rádio e instrutores, os mujahidin de Ahmad Shah Massoud
(1953-2001), um sunita-afegão-tadjique que posteriormente comandaria a
Aliança Norte contra os Talibãs”.
O livro, de 714 páginas, é muito
minucioso e didático, mostrando, com abundantes mapas, gráficos e
documentos confidenciais, cada uma das situações da região, abalada mais
recentemente com as revoltas iniciadas na Tunísia, Líbia, Egito, Yemen e
Síria. Cada episódio vem encadeado em capítulos sempre precedidos de
resumo e de ementas. São exemplos as razões profundas da derrubada e do
linchamento físico do ex-homem forte da Líbia, Muammar Gadaffi, , a
resistência do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, e a impopularidade
dos rebeldes sírios, por devastarem as cidades e o embuste dos direitos
humanos, usado pelas grandes potências para justificar sua intervenção.
Quanto à Líbia, o livro relata a
política de boa vizinhança tentada por Gaddafi, que incluiu a renúncia à
energia nuclear, o restabelecimento de relações com Washington, Londres
e Paris. Mas o que se viu em seguida foi “a revolução fabricada pelo
DSGE da França, a matança de entre 90.000 e 120.000 pessoas, Gaddafi
linchado, brutalizado, abusado, assassinado”. O resultado do que ele
chama de disputa pelo “sramble” petrolífero foi que a Líbia virou “um
país sem governo e sem Estado, o vacuum político e as disputas tribais”.
*Colaborador de Diálogos do Sul – editor do Blog Café na Política.
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