sábado, 15 de fevereiro de 2014

Contraponto 13.313 - "Após exaltar protestos, Globo pede um basta"

247 - Quem não se lembra das lindas manifestações iniciadas nas jornadas de junho? O povo nas ruas disposto a botar pra quebrar e a brigar até por bandeiras defendidas pelas Organizações Globo, como a PEC 37, que garantia superpoderes ao Ministério Público. De todos os grupos de mídia, nenhum fez tanto para estimular aquela onda como a Globo. No Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil, na Globonews, no Fantástico e no Globo Repórter, toda a máquina de informação dos irmãos Marinho foi mobilizada para manter elevada a temperatura dos protestos.

Neste fim de semana, porém, em capa da revista Época, a Globo pede um basta. E na reportagem principal da revista diz que "Somos todos Santiago". Leia, abaixo, um trecho:

Somos todos Santiago

O rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade atingiu cada um de nós. É preciso dar um “basta!” à escalada da intolerância e da violência nas manifestações de rua

GUILHERME EVELIN E HELIO GUROVITZ, COM RAPHAEL GOMIDE E VINÍCIUS GORCZESKI
14/02/2014 21h16 - Atualizado em 14/02/2014 21h46
Jornalistas são os olhos, ouvidos e vozes de uma nação. Olhos, ouvidos e vozes que trabalham para todos. É por meio dos olhos das câmeras que vemos o que acontece em locais distantes. Por meio dos ouvidos dos microfones que escutamos o que os outros têm a nos dizer. Por meio das vozes que narram as histórias que tentamos entender o mundo, compreender nosso tempo, alcançar um conhecimento modesto sobre o pouco que cabe a cada um de nós saber nesta vida. Sem olhos, sem ouvidos, sem vozes, restam apenas ignorância, escuridão, silêncio.
Qualquer ataque à imprensa é um ataque a esses olhos, ouvidos e vozes. Quem ataca a imprensa ataca olhos, ouvidos e vozes que trabalham para si próprio, que estendem sua própria visão, sua própria audição e sua própria voz. Quem ataca a imprensa não quer apenas cegar o outro – quer também ficar cego. Não quer apenas ensurdecer o outro – quer também ficar surdo. Não quer apenas calar o outro – quer também ficar mudo. 

Ser os olhos de todos nós era o trabalho do jornalista e cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes de Televisão. Santiago foi atingido com um rojão na cabeça, enquanto trabalhava na cobertura de protestos contra o reajuste da tarifa de ônibus, no Rio de Janeiro na quinta-feira, dia 6 de fevereiro. Sua morte na última segunda-feira, dia 10, fez dele a primeira vítima a morrer num conflito provocado pela espiral de manifestações que tomaram o país desde as jornadas de junho do ano passado, quando milhões de brasileiros foram às ruas protestar inicialmente contra reajustes nas tarifas de ônibus, depois contra carências de toda sorte.
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