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15/05/2015
O vigor do outro Brasil surgido dos anos 2000
A parte do país que não está nas principais regiões metropolitanas aumentou a participação na riqueza nacional de 46,4% em 1970 para 60%, em 2010. Mas esse Brasil menos desigual parece não agradar alguns
Originalmente poblicado no Rede Brasil Atual)
MARCIO POCHMANN

Isso porque no início da década de 1970, os militares
oficializaram com o conceito de região metropolitana um conjunto de
municípios centralizados em torno de nove capitais principais do país, a
saber: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre,
Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. O restante dos municípios
excluído da definição de região metropolitana seria expressão do atraso e
da desigualdade, que sem força própria se tornaria dependente de
transferências do governo central.
O resultado disso foi a trajetória do fluxo
imigratório que deslocou uma massa de trabalhadores do meio rural
fundamentalmente para as regiões metropolitanas do país. Entre 1940 e
1980, por exemplo, a população localizada nas regiões metropolitanas
passou de 16,8% do conjunto dos brasileiros para 29,2%, um crescimento
acumulado de 73,8% em somente 40 anos.
Ao mesmo tempo, a participação na produção nacional
por parte das regiões metropolitanas subiu de cerca de um terço para
quase 54% entre as décadas de 1940 e 1970. Um Brasil polarizado entre a
modernidade de algumas cidades que se situavam em torno de poucas
capitais a sustentar o núcleo dinâmico do desenvolvimento nacional e a
parte restante representando o atraso passou a sofrer uma importante
inflexão a partir de 1980.
A crise da dívida externa entre os anos de 1981 e
1983, bem como pelas medidas adotadas pelo último governo da ditadura
(1964-1985), terminaram por romper o curso do projeto nacional
desenvolvimentista estabelecido nos últimos 50 anos. As políticas
neoliberais adotadas na década de 1990 colocaram uma pá de cal nas
possibilidades de soerguimento do desenvolvimento nacional.
O resultado foi a regressão nas regiões
metropolitanas concomitantemente com o resto do Brasil. De oitava
economia do mundo em 1980, o País decresceu para o posto de 13ª no ano
2000, coincidindo com a expansão do desemprego que saltou de 1,8 milhão
para 11,5 milhões no mesmo período de tempo.
Nos anos 2000, a retomada do desenvolvimento
econômico com justiça social ofereceu novo horizonte para a questão da
desigualdade no território. Passou-se a assistir ao crescimento
econômico descentralizado, por opção de políticas públicas de
investimento e políticas de renda onde o Brasil encontrava-se esquecido
por séculos.
O resultado, em pouco tempo, não tardou a se
apresentar. De um lado, a estabilização dos habitantes nas regiões
metropolitanas, que as manteve abaixo de 30% a participação relativa no
total da população do país.
De outro lado, a alteração na composição da riqueza
nacional segundo a localização territorial. No ano de 2010, por exemplo,
o conjunto das regiões metropolitanas respondeu por 40% do produto
nacional, enquanto em 1970 chegou a representar quase 54%.
A queda no peso relativo das regiões metropolitanas
no produto nacional ocorreu principalmente em função do verificado nas
duas principais. A região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 50% de
sua participação relativa entre os anos de 1970 e 2010, ao passo que a
de São Paulo decaiu 29,3% no mesmo período.
No sentido inverso, as regiões metropolitanas de
Salvador (17,6%), Fortaleza (62,5%), Curitiba (78,6%) e Belo Horizonte
(14,3%) aumentaram suas posições relativas na riqueza nacional. Belém
manteve intacta sua participação relativa no produto nacional nos
últimos 40 anos.
Se considerar a parte restante do país, excluída do
conceito de região metropolitana, percebe-se o crescimento na
participação da riqueza nacional de 46,4%, em 1970, para 60%, em 2010.
Ou seja, aumento acumulado de 29,3% em 40 anos.
Em função disso, nota-se que as fontes do dinamismo
nacional localizam-se cada vez mais na interior do Brasil, o que reduz o
grau de polarização entre regiões metropolitanas e o resto do
território nacional. A riqueza aumenta mais puxada pela força do outro
Brasil, assim como a própria expansão de empregos e renda.
Um país menos desigual surge das transformações
introduzidas fundamentalmente na década de 2000. Mas isso, contudo,
parece não agradar alguns, que buscam, mesmo de forma não democrática,
interromper a todo custo o governo que produziu o vigor do outro Brasil.
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