03/03/2016
O rescaldo da delação de Delcídio
Nesses
tempos de informação online, há uma tendência massacrante de pretender
produzir notícias de imediato, em resposta à fatos explosivos.
É bom separar fatos objetivos, deduções e factoides.
O que se pode dizer:
Sobre a delação
O texto da suposta delação é verossímil. Tudo indica que é real.
As
discussões sobre se é delação ou não são porque, para se tornar
delação, depende da aprovação do Ministro Teori Zavascki, do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Qual
o motivo do vazamento? Ou é o Procurador Geral da República (já que a
delação foi feita a ele) pretendendo vazar o relato para pressionar
Teori; ou são pessoas visando anular a delação por quebra de sigilo.
Sobre o papel de Delcídio
Delcídio
é personagem chave de toda a estratégia política do governo no
Congresso. A base era composta pelo PT, por parcela do PMDB – incluindo
seus principais operadores. E o botim era mais amplo, dividido também
com parlamentares do PSDB, como o senador Aécio Neves (vide Furnas). Delcídio era o operador mor desse esquema. Conhece todos os podres não apenas da sua base como do Congresso.
Com
a reeleição, Dilma Rousseff investiu vigorosamente contra o esquema,
precipitando, aliás, a crise política. Portanto, jamais viu Dilma com
bons olhos.
Sobre o direcionamento da delação
As
fontes da revista preocuparam-se em informá-la que a delação atinge
parlamentares de todos os partidos, para salientar sua suposta isenção.
Nenhum prócer do PSDB, nem do PMDB – Renan, Temer e muito menos Aécio
Neves, do PSDB –, nenhum de seus grandes parceiros aparecem na delação.
Apenas pequenos chantagistas do baixo clero, como o deputado
Francischini.
Sobre a qualidade das denúncias
A
maior parte das supostas denúncias refere-se a rumores já disseminados
através da mídia, dentro da guerra de informações da qual delegados e
procuradores tornaram-se vozes (em off) ativas.
Relata
a preocupação de Dilma com a prisão de dois presidentes de
empresas-chave para o país. E duas tentativas de cooptar candidatos a
Ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para sua libertação.
Ambas as supostas tentativas circulavam em forma de boato pela mídia.
Aconteceu a interferência? Não, porque um não aceitou a indicação e o
outro renunciou à relatoria.
Ou
a reunião de Lisboa, entre a presidente Dilma, o Ministro da Justiça
José Eduardo Cardozo e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal)
Ricardo Lewandowski para comprometer as investigações. Houve algum ato
concreto? Não, porque Lewandowski não teria aceito, porque o candidato
ao STJ não aceitou etc.
É
provável que o relato tenha se dado sob forma do questionário induzido:
“Você sabia se houve uma reunião assim, assim, assado, em que se tentou
tal e tal coisa? “. É o interrogado se limita a responder que: “Sabia”.
A
melhor maneira de tirar a prova do pudim seria, em algum momento do
futuro, o PGR divulgar a gravação do interrogatório. E divulgar a
íntegra para saber se, mais uma vez, houve a blindagem de Aécio na
delação ou apenas na edição da IstoÉ.
Sobre os R$ 50 mil a Cerveró
Delcídio
foi flagrado oferecendo R$ 50 mil mensais a Cerveró. Está sendo
processado pelo crime de suborno. Pela conversa grampeada pelo filho de
Cerveró, sabia-se que Delcídio tinha uma relação histórica com ele. O
maior prejudicado pela delação de Cerveró seria o próprio Delcídio. Na
delação, Delcídio diz que quem mandou pagar foi Lula.
Sobre Pasadena
"Acusa"
Dilma de conhecer as tais cláusulas polêmicas, que, segundo o próprio
Delcídio, seriam absolutamente normais em contratos daquela natureza. Se
eram normais, a única acusação que pesaria contra Dilma é o da
ignorância de apresentar como suspeitas cláusulas normais.
Mas, pela relevância de Delcídio na base de apoio, não se deve desqualificar de antemão todo o seu relato.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista