04/03/2016
Os maestros da Operação Lava Jato
Há
confusão sobre o papel do Ministério Público Federal e da Lava Jato no
jogo político. E uma superestimação do papel da Lava Jato, como se fosse
possível a uma mera procuradoria regional e a uma superintendência
regional da Polícia Federal colocar a República em xeque.
Para entender o jogo, tem que se ir muito além do Paraná.
Ambas
as organizações - PF e MPF - são corporações organizadas, que respondem
a uma hierarquia. Os procuradores têm prerrogativas nas investigações,
mas, especialmente quando chegam em territórios delicados, há um
sem-número de formas de autocontrole.
Ambas
as corporações são como uma imensa legião de músicos, com instrumentos
de todos os timbres. Quem define o repertório e a regência são os
maestros. Se o maestro quiser música agitada, dará prioridade aos
metais. Se quiser música calma, às cordas.
No caso da Polícia Federal, o maestro é o Ministro da Justiça; no caso do MPF, o Procurador Geral da República.
O
Ministério Público Federal não é uma organização política, apesar do
ativismo de alguns procuradores. É disciplinada e cumpre ordens. Se der
gás, procuradores irão até o inferno para cumprir sua missão.
O
procurador sério (maioria absoluta do MPF) tem pleno apego à sua
carreira. Ambiciona subir na hierarquia do MPF ou ser convocado para
organizações internacionais ligadas à sua área de atuação.
Por isso mesmo, meros toques de que ele está saindo do tom servem de inibição contra os excessos.
O
futuro ainda explicará como uma operação regional acabou ficando com o
foro de uma investigação de tal amplitude. Não é trabalho para amadores.
Mas desde o início, antes mesmo de chegar ao governo federal, tinham-se
todos os ingredientes na mão para a montagem da estratégia política,
para prever os resultados finais desde que contornados algumas
dificuldades.
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Um doleiro, Alberto Yousseff, através do qual passava grande parte das falcatruas políticas do país, de todos os partidos. E obviamente aquelas envolvendo a Petrobras. Através de Yousseff seria possível ao foro de Curitiba assumir as investigações sobre qualquer político de primeiro escalão.
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Um juiz que desde 2004 vinha se preparando para conduzir uma operação similar às Mãos Limpas.
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Um ex-presidente – Lula – no auge do seu prestígio se descuidando, ao aceitar os mesmos mimos que empresas ofereceram ao seu antecessor, FHC. Não entendeu o poder judiciário nas indicações para Ministro do STF, nem depois que saiu do governo.
Há
muito, as associações de procuradores internacionais e outras
organizações congêneres dominavam a metodologia do jogo político, a
partir da pioneira Mãos Limpas. O trabalho de Moro, em 2004, é bastante
meticuloso.
Havia apenas três desafios a serem vencidos:
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Consolidar o foro de investigação em Curitiba.
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Estreitar o máximo possível o raio de investigação, para que focasse exclusivamente em Lula e no PT.
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Criar o clamor popular para dar respaldo às investigações.
Tinha
que se ter pleno espaço na mídia – através do controle do noticiário
com o vazamento abundante de fatos – o que foi fácil graças à identidade
de propósitos. Além disso, um amplo rigor formal, para impedir que o
inquérito passasse para outra instância. Depois, um contato estreito com
a cooperação internacional para consubstanciar as acusações.
Principalmente, teria que contar com o apoio incondicional dos maestros.
O show de hoje, levando coercitivamente Lula, mesmo ele já tendo prestado vários depoimentos, faz parte do jogo político.
Aí que se entra no busílis da questão.
A maneira de direcionar as investigações foi simples e lógica, graças aos dois maestros:
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O PGR Rodrigo Janot deu todo o apoio possível à Lava Jato. Mais do que justificado, graças à abrangência do esquema de corrupção.
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A Lava Jato ficou restrita ao esquema PT na Petrobras, como deixou claro o procurador Carlos Fernando Santos. Todas as informações sobre terceiros foram encaminhadas aos canais competentes: o PGR, quando envolvendo políticos com foro privilegiado.
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Quando as outras denúncias chegavam ao PGR, bastava Janot fechar a torneira e não aceitar – como ocorreu com Aécio Neves. Ou então não dar foco. Simples assim.
Da
parte da PF, o ex-Ministro Cardozo deu plena liberdade à PF e
encaminhamento burocrático às denúncias de abusos, explicações
jurídicas, e deixou o Ministério na véspera de se completar o trabalho. E
ainda se deu ao luxo de ligar para seu compadre, José Agripino Maia.
Esse trabalho simples e objetivo foi possível porque, na prática, a síndrome de republiqueta jamais abandonou o país.
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