12/03/2015
Por que Lula deveria sim ser ministro. Por Paulo Nogueira
Diário do Centro do Mundo - 11 de março de 201
por Paulo Nogueira
“Ficaria decepcionada se o Lula aceitasse um convite para ser ministro”, ouço de minha mulher, Erika.
Não tinha ainda refletido detidamente sobre o assunto, mas a frase de Erika me estimulou a fazer isso.
Por que alguém progressista como ela se decepcionaria?
A resposta padrão é mais ou menos esta: Lula ganharia foro privilegiado e se livraria das garras de Moro, mas mostraria medo. Ficaria claro, para muita gente, que ele tem algo a esconder
Ora, ora, ora.
Não poderia discordar mais.
Se Lula estivesse numa disputa com Mujica ou com o papa Francisco, eu concordaria.
Mas ele está medindo forças – involuntariamente – com forças que lembram não Mujica, não Francisco, mas Al Capone.
Você tem que jogar o jogo conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade.
Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que temos.
Avalie os escrúpulos e o caráter dos que estão do outro lado. A Globo e a família Marinho, Aécio, FHC, a Veja e os Civitas, a Folha e os Frias, Moro e a PF, e isso para não falar dos Eduardos Cunhas e dos Conserinos.
Eles querem preservar seus formidáveis privilégios, e para isso buscam loucamente um golpe sob os pretextos mais esdrúxulos.
Desde a saída dos resultados, a vitória de Dilma é contestada da maneira mais infame possível. A desculpa A não colou? Vamos para a B. Também ela não vingou? Passemos para a desculpa C. E nisso foi um alfabeto inteiro de pretextos que escondiam uma única coisa: um golpe. Um crime de lesademocracia que jogaria, ou jogará, o país mais de meio século para trás.
Os índios americanos entraram na história por episódios de resistência épicos em que opunham pedrinhas às balas dos predadores brancos.
É lindo, é comovente, mas é claro que eles usariam outras armas se as tivessem.
Contra predadores, e é disso que se trata, você tem que ajustar sua estratégia à índole dos inimigos.
Lula já errou demasiadamente nisso.
Por exemplo. FHC nomeou um amigo para a Procuradoria Geral da República, o tristemente famoso Brindeiro, engavetador de qualquer coisa que pudesse embaraçar a presidência.
Lula se recusou a nomear uma réplica de Brindeiro. Colocou o primeiro da lista que lhe foi passada pelos procuradores.
Deu no que deu.
No STF, ele fez o mesmo. FHC indicou juízes como Gilmar Mendes. Uma das primeiras indicações de Lula foi Eros Grau, de conhecida simpatia pelo PSDB. (Fez campanha por Aécio em 2014.)
Isso não é republicanismo. É ingenuidade, é tolice, é não enxergar do que são capazes os que detestam você.
A direita prega para os rivais um republicanismo que ela jamais praticou.
A hora dura pede ousadia, pede inovação. Lula como ministro é uma resposta a quem deseja apenas tirar Dilma do jeito que for e impedir que Lula concorra em 2018.
A reação popular seria esta. Os que detestam Lula continuariam a detestá-lo. Os que o amam continuariam a amá-lo.
Que as urnas digam, em 2018, qual destes grupos é maior.
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PITACO DO ContrapontoPIG
Não se pode mais correr riscos de uma inflexão à direita.
O que está em jogo é o futuro do país.
Estão em jogo todas as conquistas que os governos trabalhistas conseguiram na melhoria de vida de dezenas de milhões de brasileiros.
Está em jogo o pré-sal e seu uso na educação e na saúde.
Está em jogo a indústria brasileira e a defesa nacional.
Está em jogo a integração da América Latina - Mercosul, Unasur , Celac - em contraponto à hegemonia norte americana, espoliadora e historicamente deletéria. Em jogo também a estabilidade do BRICS.
Não podemos correr o risco de voltarmos a 1964.
Tem toda a razão o Paulo Nogueira quando escreve: "Você tem que jogar o jogo conforme seu adversário, e não de acordo com seus sonhos. Esta é a realidade. Pode não ser idílica, ou utópica, ou romântica. Mas esta é a única realidade que temos. "
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