25/03/2016
Na Câmara, Moema Gramacho estranha: Ninguém vai dizer que herdeira da Globo pode ter caído na Lava Jato?
Do Viomundo - publicado em 23 de março de 2016 às 02:05
Da Redação
A deputada Maria Gramacho (PT-BA) foi nesta terça-feira à tribuna da Câmara Federal dizer que estranhava o silêncio de seus colegas sobre o fato de que a Polícia Federal vai investigar se o nome de uma das herdeiras da TV Globo, Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho, aparece numa anotação apreendida na sede da empresa Mossack & Fonseca, em São Paulo, pela Operação Lava Jato.
“Fico surpresa de ver a hipocrisia que reina aqui neste plenário. Eu não vi até agora nenhum deputado de oposição, que se diz defensor do combate à corrupção, falar que a Lava Jato chegou aos Marinho. Que a Lava Jato chegou a uma pessoa chamada Paula Marinho”, denunciou a deputada.
O Viomundo fez a denúncia exclusiva a partir de documentos tornados públicos pelo juiz Sérgio Moro.
A folha manuscrita em que aparece o nome Paula Marinho Azevedo é o controle de saldo de uma conta bancária, com entradas e saídas.
Ao lado do nome de Paula aparece o valor +3.741 e um número (576764-15). A Polícia Federal pretende checar se este número é de uma conta que pertence à própria Paula.
A Mossack cobra taxas para manter em funcionamento empresas de fachada. Em geral, elas são utilizadas para ocultar patrimônio ou fazer dinheiro transitar até refúgios fiscais, onde os impostos são mais baixos.
A data do que pode ter sido um pagamento de Paula à Mossack, 27 de julho de 2015, é compatível com a época em que ela ainda usava nome de casada. Ela oficializou divórcio do marido, Alexandre Chiappetta Azevedo, em 8 de outubro de 2015 e voltou a usar o nome de solteira.
Nos documentos aos quais o Viomundo teve acesso três empresas em paraísos fiscais aparecem associadas à empresa Glem, do marido de Paula e genro de João Roberto Marinho, Alexandre.
Juste, das ilhas Seychelles, A Plus Holdings, do Panamá, e Vaincre LLC, de Las Vegas, Nevada.
A Mossack opera em um grande número de refúgios fiscais, o que facilita o trânsito de dinheiro e dificulta o rastreamento das atividades do laranjal por autoridades tributárias.
A Vaincre LLC é uma das donas da mansão de concreto construída irregularmente em uma praia de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. A outra sócia é a Agropecuária Veine.
“Eu não vi ninguém falar aqui dessa empresa que sustenta essa corja, que também está ligada à Brasif, aquela que sustentava a ex-namorada de Fernando Henrique Cardoso enquanto ele era ainda Presidente da República, com relações diretas”, denunciou a deputada Gramacho.
De fato, a Agropecuária Veine montou um consórcio com a Brasif, do empresário Jonas Barcellos, para importar um helicóptero.
A principal atividade do agora ex-marido de Paula Marinho é a permissionária Lagoon, que montou cinemas, restaurantes e uma casa noturna no estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas. Não houve concorrência pública e o contrato, assinado em 1997 “a título precário”, continua em vigência até hoje. O Ministério Público do Rio de Janeiro move ação para retomar o patrimônio público.
Várias empresas controladas pelo ex-marido de Paula, Alexandre, e pelo pai dele têm como endereço de correspondência um apartamento do edifício Quaruna, na rua Bulhões de Carvalho, 296. Um funcionário informou que o apartamento 601 fica vazio e rotineiramente alguém aparece para recolher as cartas.
Até recentemente, o mesmo apartamento era o endereço de correspondência de uma sociedade entre João Roberto Marinho, um dos donos do Grupo Globo, e a filha Paula: a FN5 Participações Ltda., com capital de R$ 33, 5 milhões. A denúncia foi do blog Tijolaço.
Em resposta ao blog carioca, a assessoria de imprensa do Grupo Globo disse que João Roberto era o sócio minoritário e que “a FN5 ocupou o endereço citado na matéria autorizada pelo ex-marido de Paula Marinho”. O dono da Globo também nega que Paula tenha tido relação societária com empresas do marido ou participação na mansão de Paraty.
Com a investigação da Polícia Federal, que está em andamento, será possível esclarecer o motivo do nome Paula Marinho Azevedo aparecer associado a um possível pagamento à empresa Mossack & Fonseca, além de determinar se o então marido dela usava empresas de papel para sonegar imposto ou esconder patrimônio.
“Seria muito importante que viessem aqui os defensores do combate à corrupção pedir que investigassem tudo. Eu quero uma resposta aqui desses falsos moralistas, que sobem a esta tribuna dizendo que querem combater a corrupção”, afirmou a deputada Moema Gramacho.
A busca e apreensão na sede paulistana da Mossack & Fonseca foi determinada por causa do envolvimento da empresa panamenha em outras denúncias apuradas pela Operação Lava Jato.
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