11/06/2017
A direita já tem discurso para defender Temer: manter o corrupto lá para enfrentar a crise. Por Joaquim de Carvalho
Seria cômico não fosse trágico ver os porta-vozes da direita brasileira num malabarismo verbal tentar explicar a crise política e, de alguma forma, justificar a permanência de Michel Temer e seus homens no comando do País.
A foto dos meninos do MBL com Gilmar Mendes é a imagem da contradição.
Mas seu significado não é diferente das palavras que Joice Hasselmann diz num vídeo postado depois do resultado do julgamento do TSE.
Ele diz coisas como: “enfim, temos presidente” e tenta explicar que o resultado do TSE impede o golpe da volta do “Lulaladrão” – um golpe estranho, já que só haveria um jeito do ex-presidente voltar ao poder: pelas urnas.
Seria o primeiro golpe da história urdido e executado pela maioria do povo.
No fundo, o que Joice pensa, mas ainda não fala, é: não deixa o povo votar porque, se votar, ele volta.
Este é o ponto.
Joice não tem a experiência de Augusto Nunes, mas o que este diz em sua coluna na Revista Veja é também confuso: ele critica Gilmar Mendes e defende o povo na rua, mas é um povo diferente. Transcrevo um trecho:
O que falta é mais gente decidida a avisar nas ruas, aos berros, que o Brasil decente não se deixará intimidar pelos poderosos patifes que teimam em obstruir os caminhos da Lava Jato. Refiro-me à verdadeira Lava Jato, representada por Sérgio Moro, não à caricatura parida em Brasília por Rodrigo Janot.
No fundo, Joice e Augusto defendem Sérgio Moro porque Sérgio Moro persegue Lula e o PT, e poupou tanto Michel Temer quanto Aécio Neves, cujas verdadeiras faces foram reveladas nas investigações em Brasília.
Aécio, que três anos atrás era apresentado por porta-vozes como Joice e Augusto como político quase perfeito.
Sobre Michel Temer, apontavam só virtudes, o político que restabeleceu os princípios da república no Palácio do Planalto.
Cômico, não fosse trágico.
Há cinco meses, Augusto Nunes chegou a escrever um artigo para elogiar o general Sérgio Etchegoyen, que havia dado entrevista a Eliane Cantanhede, em que denunciou um suposto desligamento de câmaras do Palácio do Planalto, durante o governo da presidente Dilma Rousseff.
Não foi isso o que aconteceu.
Mas a “denúncia” fazia sentido à tese: Dilma queria impedir registros em vídeo de quem ia ao Palácio, para impedir provas de corrupção.
Escreveu Augusto:
Felizmente, o governo de Michel Temer, em uma de suas primeiras decisões, restabeleceu o Gabinete de Segurança Institucional, que voltou a ter sob seu comando a Abin.
Augusto e Cantanhede deram crédito a um general que agora é denunciado pela mesma revista Veja como o comandante de uma ação de espionagem sobre o ministro Édson Fachin.
Ah, mas o general ligou para a presidente do Supremo, Carmen Lúcia, para desmentir a notícia.
Carmen Lúcia não acreditou e divulgou nota em que exige apuração.
Foi mais esperta que os porta-vozes da direita na imprensa.
Esse pessoal se agarra onde pode para continuar alimentando um público que não quer informação ou análise, mas linchamento.
Haja criatividade.
A desculpa agora para manter Temer é a crise – crise, já ensinou Milton Friedman, é o forno ideal onde se assa o bolo das reformas neoliberais.
É preciso estar atenta a elas, porque se apresentam como uma porta de oportunidades para destruir o que, em outros tempos, já se chamou de estado do bem estar social.
É a receita de Friedman – está nos seus escritos.
Crises podem surgir espontaneamente, mas também podem ser criadas ou maximizadas.
No Brasil, o discurso da direita hoje é: Vamos manter o ladrão lá, porque a crise nos ameaça.
Solução para a crise?
Que nada.
O que querem, no fundo, é manter o processo de rapinagem do patrimônio público.
Pode anotar: o discurso “é-preciso-manter-Temer-para-enfrentar-a- crise” é o que sustentará a posição do PSDB no governo.
A decisão será tomada nesta segunda-feira.
No dia seguinte, seus porta-vozes estarão escrevendo que o inimigo a ser enfrentado é outro: Lula, o chefe da quadrilha, com seu tríplex, reforma da cozinha e pedalinhos.
Seria cômico não fosse trágico.
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