02/01/2018
Entrega da Embraer é retrato do papel de polícia a que relegam os militares
Do Tijolaço · 02/01/2018
POR FERNANDO BRITO
Da capa da Folha desta terça-feira, difícil não ver a metafórica associação entre a foto da intervenção policial do Exército em natal (RN) e a manchete que revela o óbvio: que a tal “fusão” – obviamente uma compra, dada a diferença de tamanho entre elas – entre a Boeing e a Embraer é a entrega de qualquer pretensão de termos tecnologia própria de defesa militar.
Igor Gielow, durante muitos anos especialista em assuntos militares da Folha, deixa claro que a empresa norte-americana mira exatamente no núcleo de capacidade tecnológica formado pelo corpo técnico da brasileira e que a aviação militar é um dos seus alvos, especialmente o cargueiro multipropósito KC-390, produto brasileiro com imensas perspectivas de mercado.
É claro que os americanos têm condições de produzir um cargueiro militar igual, mas a possibilidade de ter um modelo já desenvolvido (acaba de receber o “certificado de operação“), com dinheiro alheio, e um imenso mercado à vista (substituir o Hércules C-130, que voa, em versões modernizadas, desde os anos 50). Mas seu interesse nisso não é de hoje e quem tiver dúvida, que leia a reportagem de Assis Valente, publicada pelo Valor em abril de 2015, muito antes desta negociação ser proposta:
Os Estados Unidos entraram com força na competição com o Brasil para a venda de seis cargueiros militares para Portugal, num pacote de dezenas de milhões de dolares. A Embraer está na briga com seu KC390, da qual uma parte é inclusive produzida em sua usina de Évora, em Portugal. (…)Ocorre que Washington ofereceu ao governo português um pacote financeiro considerado extremamente interessante, que inclui não só a venda dos seis cargueiros em condições vantajosas, fabricados pela Boeing, como a reforma dos aparelhos Hércules da Força Aérea Portuguesa que estão em má situação e mesmo a reforma de base aérea no país.
Os mercados de aviação regional (até 150 passageiros) e de jatos executivos, evidente, também interessam, mas só os tolos acham que uma empresa como a Boeing não é ponta-de-lança da política militar dos EUA.
E faz parte desta política ter as Forças Armadas de países como o Brasil serem essencialmente polícias internas, meras garantidoras da “ordem”, desprovidas de senso (e de capacidade tecnológica) de guardiães da soberania nacional.
A mensagem do comandante do Exército, general Eduardo Villas-Bôas, na virada do ano, criticando o uso exagerado e repetido das tropas em missões policiais é um sinal de que isso não passa despercebido em parte importante do alto escalão das Forças Armadas.
Só isso explica que até um governo entreguista e sabujo com o que temos esteja levantando obstáculos à absorção da Embraer pela Boeing – pois é isso, afinal, do que se trata.
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